Dia cinéfilo. Com o trailer de O sargento negro (Sergeant Rutledge), de 1960. É o melhor filme de John Ford? Nem por sombras. Mas a história, sobre um militar negro falsamente acusado de violação e assassinato, que acaba denunciando o preconceito e o racismo, tem interesse e não perdeu a atualidade.
Depois, há outro "detalhe": todos os filmes de Ford são bons (parto desse princípio, não os vi todos; falo por crença quase religiosa), há muitos que são excecionais.
O trailer é curioso, porque tem algumas grandes das grandes imagens do cinema fordiano. Incluindo o Monument Valley e a música. Com um pouco de sorte a RTP2 um dia destes volta a passá-lo. Enquanto a RTP2 resistir aos ímpetos do ministro burgesso e aos seus assessores especializados em ciência política.
Vi esta fotografia, há uns meses, no CCB, e fiquei intrigadíssimo. A autora é a tunisina Lilia Benzid e o local é o cemitério de Zaafrane. O que mais me espantou foram as estruturas metálicas sobre os túmulos. Fiz várias indagações, junto de colegas tunisinos e franceses. Nada. Ninguém me soube explicar a sua função. Uma passagem do tratado de Ibn Abdun, de meados do século XII, e já aqui citada, dá uma pista, porventura falível:
[53] No debrá permitirse
que en los cementerios se instale ningún vendedor, que lo que hacen es
contemplar los rostros descubiertos de las mujeres enlutadas, ni se
consentirá que los días de fiesta se estacionen los mozos en los caminos
entre los sepulcros a acechar el paso de las mujeres. Esfuércese en
impedirlo el almotacén, apoyado por el cadí. También deberá prohibir el
gobierno que algunos individuos permanezcan en los espacios que separan
las tumbas con intento de seducir a las mujeres, para impedir lo cual se
hará una inspección dos veces al día, obligación que incumbe al
almotacén. Se ordenará asimismo a los agentes de policía que registren
los cercados circulares [que rodean algunas tumbas], y que a veces se
convierten en lupanares, sobre todo en verano, cuando los caminos están
desiertos a la hora de la siesta.
Estas estruturas são a reminiscência de uma antiga prática andaluza? Está aqui a clarificação da estranha ligação entre eros e thanatos que Ibn Abdun censurava?
Comprar carro é uma das tarefas mais complicadas e absurdas a que um
ser humano se dedica. Um carro é um amontoado de latas e plástico cujo valor
disparatado cai para metade logo que saimos com ele do stand. Por causa da
desvalorização. Quando precisamos de outro, o que tinhamos não vale um chavo e
temos de nos enterrar em dívidas para comprar um novo. Que desvaloriza logo que
sai do stand. E por aí fora. O Duarte está sempre a dizer-me que devia comprar
carros em segunda mão. São muito mais vantajosos em termos financeiros. Estou
sempre de acordo com o Duarte. E acabo sempre comprando carros novos.
O primeiro foi um Golf. Porque o João teve, durante mais de 20 anos,
um Carocha e eu achei que um Volkswagen era para sempre. O Golf queimou a junta
da cabeça com 60.000 kms. A junta da cabeça é, ao que parece, qualquer coisa do
motor. Ao que parece, não se deve queimar. Fiquei chateado à brava e acabei por
trocar de carro uns meses depois. Como não tinha dinheiro para mais e detesto
ficar encalacrado, seguiu-se um Hyundai Accent. Quando falei no assunto lá em
casa, a Isabel ficou desconfiada sobre o preço, relativamente baixo, da
carripana. Respondi, de mau humor, que era muito mais barato porque só tinha
três rodas e a conversa deu, rapidamente, para o torto.
Tive mais dois Accent. São carros de conforto mais que duvidoso, de
insonorização inexistente e estética neutra. Ainda assim, de mecânica fiável e
manutenção barata. Quando a coluna vertebral me começou a incomodar e as
hérnias discais começaram a cobrar juros de tantos anos de asneiras tive de
arranjar uma coisa minimamente confortável.
Comprei as revistas da praxe, comparei preços e apreciações
técnicas. Na parte que entendo: conforto, segurança, potência, consumo aos 100
e dimensão da bagageira. O resto, rotações, caixa de velocidades, travões,
palavras bizarras como “cremalheira”, “pinhão”, “McPherson” etc. não sei o que
são (o que diabo será, por exemplo, um alternador?) e jamais procurarei saber.
E, na hora da decisão, falei com a Isabel.
Não se esqueçam, claro, que é sempre fascinante ouvir uma mulher dar
opiniões sobre o carro que quer (e bem podem mandar esta croniqueta para a
UMAR, o MDM e a MouraSalúquia, que é para o lado que durmo melhor…). O que é
que uma mulher quer num carro? Que seja barato, giro, económico no consumo e
nas revisões, que seja muito pequeno e que tenha uma bagageira gigantesca, um
híbrido entre o Smart e o camião TIR. A última asneira que fiz foi comprar uma station. Pensando, pobre ingénuo, que deixaria de ter problemas com a
bagagem. Ai de mim. Depois da última ida à aldeia e da mala do carro ficar
atafulhada com couves (que dariam para abastecer o MARL) ouvi a frase fatal
“esta bagageira é pequena”.
Eis, enfim, o ponto da situação: 22anos depois de tirar a carta, 800.000 kms mais tarde,
continuo sem ter o carro ideal. Pode ser que um dia lá chegue. Ainda não perdi
a esperança. Enquanto esse momento não chega desejo aos leitores da Planície um
bom ano de 2012.
A recente exposição da Gulbenkian é o ponto de partida para uma série de postagens sobre naturezas mortas e poemas sobre a passagem do tempo. Sem grandes justificações ou explicações. Primeiro painel: o britânico Ben Nicholson e o português Nuno Júdice.
Gosto das mulheres que envelhecem,
com a pressa das suas rugas, os cabelos
caidos pelos ombros negros do vestido,
o olhar que se perde na tristeza
dos reposteiros. Essas mulheres sentam-se
nos cantos das salas, olham para fora,
para o átrio que não vejo, de onde estou,
embora adivinhe aí a presença de
outras mulheres, sentadas em bancos
de madeira, folheando revistas
baratas. As mulheres que envelhecem
sentem que as olho, que admiro os seus gestos
lentos, que amo o trabalho subterrâneo
do tempo nos seus seios. Por isso esperam
que o dia corra nesta sala sem luz,
evitam sair para a rua, e dizem baixo,
por vezes, essa elegia que só os seus lábios
podem cantar.
A fotografia está no Museu da Ruralidade, em Entradas. Falarei um dia destes sobre o trabalho de Miguel Rego naquela localidade do concelho de Castro Verde.
O que hoje, por entre um colóquio e a abertura ao público de uma exposição foi esta fotografia, datada provavelmente dos anos 50 do século XX. É uma ceifeira, uma típica mulher do sul. De idade indefinível, mas jovem. É uma mulher bela, com o seu ar meio de desafio e os seus lábios pouco convencionais? É, assim me parece. O bucolismo do museu, e da fotografia, levaram-me até Alberto Caeiro. Gosto muito deste excerto do Guardador de Rebanhos:
Porque quem ama nunca sabe o que ama Nem sabe por que ama, nem o que é amar... Amar é a eterna inocência, E a única inocência não pensar...
Estava eu a armar ao pingarelho, escrevendo o nome de Santarém em árabe, quando o Dr. Vitor me perguntou: "escreve-se assim? nesse sentido?". Sim, confirmei, lê-se também da direita para a esquerda. "Ahh!", tornou ele, "eu também leio em árabe nos restaurantes". Ante a minha susrpresa esclareceu "como isto está, leio primeiro a coluna dos preços, para depois ver, à esquerda, o que vou comer".
O almoço em Santarém estava a correr otimamente. Depois disto, ganhou contornos festivos.
Agora ninguém mais cerra as portas que Abril abriu, gritava o poeta.
Este grito de libertação em Samora Correia, mesmo junto à Companhia das Lezírias, é poético e quase dadaista. Uma homenagem ao MFA? ok. Em 1975? claro. Num cruzeiro? não me parece mal, mas tem um toque à Duchamp.
Não consegui saber grande coisa sobre estes azulejos da igreja matriz de Samora Correia. A não ser que estão assinados P.M.P. e que sofreram danos nos terramotos de 1755 e de 1909.
O mais curioso é o trabalho de "restauro" que foi levado a cabo. Os cubistas usaram a desconstrução das formas. O operário de Samora Correia era cubista. Mesmo sem o saber.
Está confirmado. Fevereiro é o mês de se mostrar um pouco do património islâmico de Portugal em Tlemcen. A iniciativa, da Embaixada de Portugal em Argel, conta com o apoio do Instituto Camões e inclui a apresentação da exposição Mértola, o último porto do Mediterrâneo, por ocasião da "Capital da Cultura Islâmica".
Estão previstas conferências em Tlemcen e em Argel. Será uma oportunidade única para promover o trabalho feito em Mértola. A exposição que acima referi foi apresentada ao público em fevereiro de 2006, no Castelo de S. Jorge, em Lisboa. O percurso que cumpriu desde então já incluiu a Fundação Millenniumbcp, o Centro Cultural de Cascais e o Festival Islâmico de Mértola. Seis anos depois chega ao norte de África. Era esse um dos objetivos iniciais. Atinge-se agora.
Eusébio (identifiquem-no lá, sff) quando ainda jogava no Sporting. Teve uma carreira extraordinária, na qual marcou golos a muitas equipas, incluindo o Sporting. Levou, muitas vezes, o Benfica e a seleção às costas. A Bola de Ouro e a Bota de Ouro fazem parte das suas muitas conquistas. O melhor jogar português de sempre? É muito provável.
Vi-o jogar uma vez, em 2 de dezembro de 1973. As piadas sobre a sua idade (31 anos, quase 32) e condição física eram muitas. Nessa tarde o Benfica ganhou 2-0. Golos de Eusébio. O João levou-me à bola, não sem relutância. Fez bem. Vi jogar o ídolo, vibrei com a vitória e fiquei, de vez, apaixonado pelo futebol. Até hoje.
Foi há muitos anos, em África. Por razões de ordem
técnica, o presidente da antiga colónia portuguesa foi obrigado a uma escala
técnica no aeroporto de outro país, antiga colónia inglesa. O presidente deste
último fez questão em se deslocar ao aeroporto, para cumprimentar o seu
homólogo. Problema delicado: um não falava inglês, o outro não falava
português. O chefe de estado do país lusófono olhou em volta e decidiu:
“fulano, chega lá aqui”, designando como seu tradutor um jovem jornalista.
Cujos conhecimentos da língua de Shakespeare eram, quando muito, sumários. A
conversa inicia-se, não sem alguma dificuldade. A dado momento, o jornalista
perde-se e confessa ao seu presidente “não percebi uma palavra do que ele me
disse”. Ao que o interpelado, com o ar de compenetração que esses momentos
exigem, respondeu “não te preocupes com isso…”, como se tivesse bebido todas as palavras. O diálogo prosseguiu, com
naturalidade e descontração.
A história foi-me contada, há dias, pelo improvisado
tradutor, animando ainda mais um almoço fraterno. Ficamos sempre a matutar “que raio de conversas haverá e que coisas
se passarão para lá da aparência dos sorrisos e dos apertos de mão para a
fotografia?”.
Os campos do Alentejo podem tornar-se um sítio perigosíssimo. Ontem de manhã, num caminho rural de Portalegre, dei com este sinal: PERIGO COELHO. Pensei, "pronto, o coelho assassino está de volta". Receoso, saí do carro, tirei uma fotografia com o telemóvel olhando em volta. Entrei rapidamente no Renault, tranquei as portas e disse ao António "arranca depressa, antes que ele nos veja".
Fica o aviso. Nunca se riam de um sinal que diz: PERIGO COELHO.
Os Monty Python cruzaram-se com o coelho assassino. Como não havia sinais de trânsito tiveram menos sorte que eu. Ora vejam:
Ainda não se extinguiram as ondas de choque causadas pelas declarações do Presidente da República sobre a magreza da sua pensão de aposentado. Ao mesmo nível estão alguns comentários desculpabilizadores que têm vindo a ser produzidos.
O que me chocou nesta história? A convicção, quase comovida, com que o Presidente falou. O que quer dizer, o desconhecimento objetivo que tem sobre as dificuldades por que passa um número crescente de pensionistas. O valor por ele referido, e várias vezes repetido, "1300 euros", soa a euro-milhões a muitos milhares de portugueses. Que um Presidente não conheça o quotidiano do seu povo não é uma gaffe política. É uma tragédia e toca-nos a todos.
Mais uma peça invulgar do Museu de Moura. Foi encontrada no castelo da cidade, durante os trabalhos arqueológicos do passado verão dirigidos pelo meu colega José Gonçalo Valente.
A lápide, em excelente estado de conservação, terá vindo da necrópole da cidade, não sendo descabido pensar que pudesse, de início, estar num mausoléu implantado nos terrenos da atual escola secundária. O local de enterramento pertencia a uma família importante da cidade.
A inscrição foi dedicada a um tal M.N. Calvicius e a seu filho, L.N. Arrus. Quem se encarregou da homenagem foi Aemilia Anulla, mulher de Calvicius e mãe de Arrus. Deverá datar de meados do século I d.C.
Fixei o nome, nada mais: Luís Brites Pereira. É o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros. Foi o representante de Portugal nos funerais do Chefe de Estado da Guiné-Bissau, Malam Bacai Sanhá.
Há gestos simbólicos. Portugal fez-se representar no funeral por um membro de segunda linha do governo, sem desprimor para com a pessoa em questão. A Guiné-Bissau, um país pequeno e pobre, conta pouco, descontando aquela treta da lusofonia e dos "laços fraternos que nos unem". Há momentos em que a verdade das coisas se torna mais evidente.
Malam Bacai Sanhá ficou sepultado na Amura. Onde repousam também os restos mortais de Amilcar Cabral.
Forte da Amura - janeiro de 2010 (do livro Moura-Bissau)
O anúncio da realização de um mestrado em França, por parte do
ex-primeiro-ministro José Sócrates foi, na altura, motivo de grande
atenção.
José Sócrates é hoje aluno do Institut
d´Études Politiques (popularmente conhecido como Sciences-Po). Para os
menos familiarizados com o sistema francês aqui vai: trata-se de uma das
grandes escolas de formação de quadros políticos de França, juntamente
com a ENA (École National d'Administration, cujos graduados passam a ser
conhecidos como énarques) e a École Polytechnique (cujos formandos têm a "etiqueta" de X). O sistema de acesso é rigorosíssimo. Bem como as avaliações.
Se é verdade que José Sócrates não tem perfil nem currículo para as frequentar (não tem mesmo, deixemo-nos de brincadeiras) percebo que para uma escola dessas fosse difícil recusar a entrada de um político com o percurso político de Sócrates. O embaraço deve ter sido evidente e a admissão foi sujeita a um estatuto especial (v. Expresso de hoje).
Que José Sócrates frequente este ou aquele curso, em França ou em qualquer outro sítio, é-me indiferente. Nem me dizem respeito as suas condições de admissão. São assuntos que interessam ao candidato e à escola e a mais ninguém.
Não venham é depois - o agora aluno voluntário ou outros por ele no futuro - falar na exigência dos percursos, na importância dos estudos avançados e na necessidade de excelência dos curricula. É que o discurso não cola minimamente com a prática...
Olympia, de Manet, é uma das obras mais glosadas da pintura moderna. O próprio Manet fora buscar inspiração, como se sabe, a duas Vénus: a Adormecida, de Giorgione, e de Urbino, de Ticiano.
O sítio onde esta Olympia jamaicana se reclina não é exatamente um sofá. Mas é um ponto de partida para um septeto de pinturas e fotografias sobre o tema do sofá, local onde, segundo um amigo meu, estacionam funcionários públicos/agitadores de sofá, aguardando o fim do mês. Posso, contudo, garantir que não há sofás assim nas repartições do Estado. Pelo menos que eu tenha visto.
Ora aqui vai:
O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que eu na alma vejo,
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.
Como de dous ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.
Ditosa aquela flama, que se atreve
A apagar seus ardores e tormentos
Na vista de que o mundo tremer deve!
Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela neve
Que queima corações e pensamentos.
Luís de Camões, claro. A fotografia é de Jan Banning, que já por aqui passou várias vezes.
António Valadas Gonçalves é Presidente da Junta da Amareleja.
António Valadas Gonçalves é empresário.
Acontece que a Comissão Coordenadora da CDU na Amareleja afirma que o empresário Valadas Gonçalves vendeu produtos à junta presidida por si próprio. Nada menos que 60% dos materiais de construção no ano de 2010 e parte de 2011.
Outras afirmações são feitas no comunicado da CDU:
* Que o presidente da junta se auto-nomeou coordenador dos censos, recebendo a remuneração respetiva;
* Que a junta recebeu, em dois anos, 180.000 euros de rendas da central fotovoltaica, projeto que o atual presidente combateu com ferocidade;
* Que nada disto se converteu em obras que se vissem.
O presidente da junta diz que comprou produtos à sua empresa para poupar dinheiro e que precisa de 30 páginas para explicar tudo isto. Não há problema. Só com as rendas da central fotovoltaica há dinheiro de sobra para muitas resmas de papel...
Uma coisa que me diverte é o absoluto fascínio que tudo o que diz respeito a França exerce sobre os norte-americanos. Refiro-me às pessoas com um mínimo de informação, a maioria das outras nem sabe onde a França fica.
Há uns anos, os colegas americanos que me tinham convidado a participar num congresso resolveram obsequiar-nos (ao Carlos Fabião e a mim) num dispendiosíssimo restaurante panorâmico de Dallas. O sítio era bonito mas a cozinha nada tinha de extraordinário. O jantar foi muito simpático, mas o que mais me impressionou foi a cara do John, que dizia, em tom de êxtase, "it's a french chef, you know...".
Vem isto a propósito de um episódio que me foi relatado, em tempos, pela minha amiga Fátima. Ao folhear a revista de bordo de uma companhia americana num voo para Nova Iorque deu com uma reportagem sobre um badaladíssimo restaurante de Manhattan. Especialidade: french cuisine. French cuisine?, estranhou a Fátima, quando começou a ler a ementa. Eram pratos portugueses com nomes traduzidos para francês. O cozinheiro era um português que, tendo percebido a importância do marketing, resolveu dois problemas de uma assentada. Recordo dela me ter falado num prato que estava a causar sensação: petits pieds de cochon à la coriandre. Pezinhos de coentrada? Isso mesmo. Digam lá que em francês não soa melhor.
Pezinhos de porco e legumes da Quinta do
Poial em salada com coentros frescos, pão saloio torrado com azeite
transmontano - os pezinhos na versão do chef Vincent Farges.
Depois das fotografias agressivas, com sugestões neonazis, que cobriam as paredes dos corredores de acesso aos balneários da equipa visitante, em Alvalade, o Sporting alterou a decoração e optou por um registo bucólico: flores, borboletas, prados. A estética, com aquele nascer do sol muito kitsch, anda um pouco na onda dos livros da catequese. Mas pronto, do mal o menos. É melhor assim. Peace, brothers!
Rematando dias intensos, João Proença coroa a sua ação com uma afirmação extraordinária: quem lhe segredou, mefistofelicamente, "assina o acordo, pá" afinal foram uskumunistas. Nem Passos Coelho, nem Saraiva, nem Cristas. Ná. Foram os gajos comunistas da CGTP mais os do Partido (leia-se PCP). Que é tudo a mesma coisa.
Ó João Proença, preciso, na minha qualidade de militante do PCP, de saber quem foram os altos quadros que lhe recomendaram que assinasse. Porque alguém anda, sem vergonha nenhuma, a aldrabar os portugueses. E ou o nome dos altos quadros aparece ou está identificado o sem-vergonha desta história triste.
Fico-me sempre a perguntar uma coisa: o que é que os joões proença do nosso País pensam pela manhã, quando se olham ao espelho e fazem a barba? O quê?
Um Carnaval antecipado? Cristãos-novos em
pleno desrespeito pela religião que tinham dito abraçar? Apenas uns copos a
mais? É quase certo que não viremos a saber com rigor o que ia na cabeça dos
homens que montaram uma farsa na véspera do Natal de 1562, em Bugendo, terra da
Guiné da qual não reza a história.
Tudo
começou uns dias antes, quando Francisco Jorge, feitor de S. Domingos, pediu a
António Luís, o “Boca Fede” de alcunha, um texto para ser representado na noite
de Natal. Os versos foram feitos, mas a encenação ultrapassou em muito aquilo
que o autor poderia supor.
Os
convivas juntaram-se para uma consoada de carnes e frutos doces onde a bebida
terá corrido em abundância. Admitiria mais tarde um dos participantes que todos
“tinham comido e bebido a seu prazer e estavam muito quentes”. Talvez por isso,
e para desespero do “Boca Fede”, em vez dos inocentes versos que estavam
preparados desenrolou-se um espantoso e incontrolável happening. Primeiro,
entrou em cena um tal Mestre Diogo, alentejano nascido no Torrão que, vestido
de mulher, e rodeado por 10 ou 12 homens disfarçados de “bailarinas”, cantou
músicas pouco condizentes com a quadra natalícia.
Dois
dos que assistiam à função perguntavam, de máscaras de papel no rosto: “Já
pariu Maria?”. Alguns berravam: “Que pariu? Macho ou fêmea?”. Retorquiam outros
“macho”. E à pergunta “onde?”, uns diziam que em Belém, havendo quem afirmasse
que “tinha sido em Bugendo, terra da Guiné”. Quando alguém perguntou que se
haveria de oferecer ao Menino, um garantiu que lhe daria um gabão que tinha uma
racha, ao que outro acrescentou, também como prenda, um porco de fumeiro e uma
réstea de alhos. Para além de 20 ou 30 cristãos-novos estavam presentes outros
homens a quem os cantares e dichotes pareceram perfeitamente despropositados. A
história chegou aos ouvidos da Inquisição. Na devassa que se seguiu tudo foi
esquadrinhado: quem esteve e o que disse; que papel desempenharam na farsa
fulano e beltrano. Acabaram por vir à baila histórias que pouco tinham a ver
com os acontecimentos de Bugendo e que exemplificam bem o tipo de
interrogatório que era então usual.
O
processo de Mestre Diogo, de 34 anos, “solorgião”, cristão-novo lançado na
Guiné, desenrolou-se a partir de abril de 1563. Nessa data, o bispo de
Santiago, em Cabo Verde, deu seguimento às denúncias segundo as quais em
Bugendo, terra da Guiné, cristãos-novos tinham representado um auto na véspera
de Natal, durante o qual um cristão-novo “muito feio”, Mestre Diogo, aparecia
vestido de mulher e outros intervenientes interrogavam-se sobre se a Virgem
Maria teria dado à luz em Belém ou em Bugendo.
D.
Francisco ordenou o levantamento de um auto de averiguações e, até junho de
1563, foram ouvidas diversas testemunhas dos acontecimentos pretensamente ocorridos
na casa do feitor de São Domingos, Francisco Jorge, na noite de 24 de dezembro
de 1562, protagonizados pelos tais 20 ou 30 cristãos-novos, tratantes ou
negreiros, entre os quais, para além de Mestre Diogo e do “Boca Fede”,
figuravam Jorge Fernandes (o do nariz furado), Teotónio Fernandes (o “Paião”),
um alfaiate com uma venda no olho, de nome desconhecido, Aires Lobo (o
“Marquesota”), António Duarte, algarvio conhecido por “Corcoz”, e os irmãos
Poldrinhos. As diversas testemunhas, depondo na Ribeira Grande perante o
vigário geral e um escrivão, referiram-se também à morte, à maneira judaica, de
bodes e galos brancos, a trovas ditas sobre a cabeça cozida de um porco, ao
roubo de um retábulo pelos negros e ainda à história do famigerado “Braço de
Balança”, presumivelmente queimado pela Inquisição em Lisboa, e do seu filho,
cujo nome desconhecemos, e que costumava perguntar “como quereis que não haja
fomes no reino se em cada ano fazem quatro vezes cadafalso?”.
Quase
todos os intervenientes no insólito serão terão escapado sem qualquer punição.
Embora a Inquisição se esforçasse por prender “certos cristãos-novos que andam
no sertão” Lisboa ficava demasiado longe e os judeus da Guiné gozavam do apoio
do feitor, “tão judeu como eles”. De Mestre Diogo sabemos que foi preso em
novembro de 1563 e que em setembro de 1564 estava no cárcere do Santo Ofício,
em Lisboa. Foi interrogado quatro vezes, confessando que a brincadeira do auto
de Natal fora de mau gosto e acusando outros cristãos-novos de terem afirmado que
a Virgem dera à luz em Bugendo e não em Belém. Reconheceu ainda que não
comungou durante os seis anos em que esteve na Guiné, aceitando as culpas por
quanto disse e por tudo aquilo que se esqueceu…
O pai de Mestre Diogo acabou por pagar uma fiança de 500 cruzados, o que
possibilitou a libertação do farsante. Dois anos depois dos acontecimentos de
Bugendo, o seu principal protagonista estava de novo em liberdade. Sobre o que
aconteceu a seguir não temos notícia. Parece-nos lícito pensar que a sua paixão
pela arte de Talma tenha esmorecido e que nos anos de vida que lhe restaram se
tenha dedicado apenas a tratar da sua fazenda.
Texto publicado no Diário do Alentejo,
em conjunto com Carlos Lopes Pereira, em 26 de dezembro de 1997, como o título Uma
farsa na noite de Natal. A base para este trabalho está numa publicação do Pe. António Baião.
São os primeiros nove minutos de um filme que vi, por duas vezes, na minha juventude. Trás-os-Montes, rodado em 1976 por António Reis e Margarida Cordeiro, não é um filme "fácil". Tem a magestade das paisagens onde foi feito e o seu ritmo. O estilo faz lembrar um pouco Straub-Huillet. Já não me lembro do filme, exceto de uma cena que me marcou e que não se apaga: um garoto despede-se de alguém que sobe para um burro e se afasta, estrada fora, até desaparecer no horizonte. Não sei se a quietude permite que lhe chamemos plano-sequência.
Ao rever este início não posso deixar de me interrogar: como é que as pessoas da região se terão visto e como terão recebido o filme?
O meu texto de ontem sobre a triste figura da UGT no processo de negociação com o governo (v. aqui) mereceu um ácido comentário ao meu amigo Humberto Nixon, que o publicou no facebook:
"Quem está na função pública pode cantar de galo, porque recebe o salário a horas e não é despedido. Não têm a noção do que é não saber se o emprego vai fechar e se há dinheiro para pagar salários.
Esta é que é a realidade, o resto é conversa de agitador sentado
confortavelmente no sofá e a olhar para a caderneta da Caixa Geral de
Depósitos no dia 26 de cada mês."
O comentário foi depois complementado por outro que, por qualquer motivo, surge no meu mail mas não no facebook:
"O meu amigo Santiago Macias, englobo-o no grupo dos agitadores, mas não de sofá."
Achei curiosos os dois comentários (mesmo tendo em conta que recebo a 23, que não tenho conta na caixa nem caderneta):
1. É relativamente banal a identificação funcionário público = parasita;
2. Trata-se de uma generalização disparatada e sempre fácil de agitar;
3. Trata-se, sobretudo, de uma falsidade que insulta milhares de pessoas que dão o seu melhor, não podendo essas ser confundidas com os incompetentes e preguiçosos, que existem, tal como existem no setor privado (sim, também os há);
4. A função pública que o Humberto Nixon descreve é uma realidade do século passado, sem qualquer correspondência com o mundo atual (o governo socialista via João Figueiredo poupou à direita essa tarefa pouco digna);
5. As leis que este governo aprovou obrigam, às cegas, as câmaras a reduzirem pessoal, forma subtil de começarem os despedimentos;
6. A ânsia da direita é reduzir os que estão em "funções públicas", porque são os que mais fazem frente (porque a chantagem sobre eles é mais difícil, é verdade) a um sistema capitalista cada vez mais opressor e destravado, e onde todos os joões proenças são uma benesse;
7. Há dinheiro ao fim do mês? Há, ainda há. Com cortes brutais.
Sabes uma coisa, Humberto? Sou funcionário autárquico desde 25.9.1986 e tenho um grande orgulho em estar ao serviço da República. Toda a minha carreira foi feita no Estado (nas Câmaras de Moura e de Mértola e, esporadicamente, nas universidades), coisa que muito me honra.
Um não-agitador num sofá. Pelo menos dá a ideia que não está assim muito agitado. Onde está o marxismo deste texto? Aqui: "no picture can hold my interest when the leading man's bust is bigger than the leading lady's." (Groucho Marx, comentando e comparando os atributos físicos de Victor Mature e Hedy Lamarr).
Caro Humberto, a tua afirmação sobre o sofá deu-me uma ideia que pode ter interesse. Nas próximas semanas por aqui passarão pinturas onde a imagem do sofá estará presente. E alguma poesia apropriada.
Com a devida vénia, como se dizia antigamente, pois a expressão caiu um desuso, aqui vos deixo a magnífica crónica de Manuel António Pina, publicada no JN (www.jn.pt), na qual fustiga um certo e determinado primeiro-ministro:
Que pensaria um cidadão comum se alguém em quem
tivesse confiado e com quem tivesse feito um acordo, apanhando-se com o
acordo na mão, violasse todos os compromissos assumidos fazendo
exactamente o contrário daquilo a que se comprometera?
Imagine
agora o leitor que esse alguém é um político que obteve o seu voto
jurando-lhe repetidamente que faria determinadas coisas e nunca, nunca!,
faria outras ("Dizer que o PSD quer acabar com o 13º mês é um
disparate"; "Do nosso lado não contem com mais impostos"; "O IVA, já o
referi, não é para subir"). Um político que lhe jurou que "ninguém
nos verá impor sacrifícios aos que mais precisam" e que fez o que a
própria CE já reconheceu, que em Portugal as medidas de austeridade
estão a exigir aos pobres um esforço financeiro (6%) superior ao que é
pedido aos ricos (3%, metade). Um político que lhe garantiu que
"não quero ser eleito para dar emprego aos amigos; quero libertar o
Estado e a sociedade civil dos poderes partidários" e cujos amigos
aparecem, como que por milagre, com empregos de dezenas e centenas de
milhares de euros na EDP, na CGD, na Águas de Portugal, nas direcções
hospitalares e em tudo o que é empresa ou instituto público. Quando
os eleitos actuam impunemente à margem de valores elementares da
sociedade como o da honra e o do respeito pela palavra dada não é só o
seu carácter moral que está em causa mas a própria credibilidade do
sistema democrático.
João Proença e a sua UGT capitulam, fazem uma figura tristíssima e deixam os trabalhadores numa situação caricata. Os chefes do patronato nem disfarçavam a sua euforia à saída da reunião. Nunca sonharam que pudessem ir tão longe a troco de tão pouco.
Farisaicamente, João Proença "considera lesivas as propostas de
diminuição dos
feriados, a questão das pontes – que podem ser descontadas nos dias de
férias – e a redução de três dias do período de férias (que deixa assim
de ser bonificado, como previa o Código do Trabalho de 2003)" (v. mais abaixo). Não
contente com este triste espetáculo vem ameaçar com a falta de paz
social. Ui, que medo... António Saraiva hoje não dorme.
Partindo de um não-assunto (a história da tal meia hora suplementar, que não tinha sido aceite), a UGT troca o que não existe por este pacote:
Um maior número de dias de trabalho: redução de férias –
cujo período é encurtado em três dias (de 25 para 22).
Um maior número de dias de trabalho: serão eliminados quatro
feriados (dois civis e dois religiosos), tendo a escolha recaido sobre o
Corpo de Deus, o 15 de Agosto, o 5 de Outubro e o 1 de Dezembro.
Cada empresa passa a poder gerir um
banco de horas de 150 horas anuais por trabalhador – uma medida que
permitirá a cada trabalhador trabalhar menos num dia e compensar com
horas a mais noutro – sem que esse acréscimo seja pago como horas
extraordinárias.
Em 2012 e 2013 as empresas vão poder encerrar junto aos feriados (quando
estes se celebram a uma terça ou quinta feiras) e descontar este dia
nas férias dos trabalhadores. Mas não só. Em alternativa, o acordo prevê
ainda que esta ponte possa ser sujeita a uma compensação futura a pedir
ao trabalhador. Não se especifica qual pode ser esta compensação,
admitindo-se que possa implicar trabalhar numa folga.
Sobre o subsídio de desemprego há notícias interessantes:
Na versão final do texto do acordo prevê-se que se possa conjugar a
atribuição do subsídio de desemprego “com a aceitação de ofertas de
trabalho a tempo completo por parte dos beneficiários”.
De
fora desta medida ficam assim, as ofertas de trabalho a tempo parcial,
bem como os recibos verdes. Permite-se contudo que esta conjugação seja
atribuída mesmo quando o contrato celebrado é a termo certo.
Esta
medida tem a duração máxima de 12 meses, podendo o beneficiário
acumular o salário com 50% do valor do subsidio nos primeiros seis meses
e 25% nos seis meses seguintes.
Esta acumulação apenas é possível quando o
salário é inferior ao valor do subsídio, mas ficou estipulado que a
pessoa contratada terá de receber o vencimento que está definido na lei e
na negociação coletiva.
Se quando
chegar ao final do contrato, voltar a ficar no desemprego, o
beneficiário vai ganhar novamente a totalidade do seu subsídio, mas o
valor que recebeu enquanto acumulou ser-lhe-á descontado no período de
concessão desta prestação.
Mais informações no site do Diário de Notícias (v. aqui).
Passos Coelho diz que a CGTP nunca assina acordos. Acho bem que não assine. Acordos destes, seguramente que não deverá assinar.
Sempre em frente com fé ardente é o slogan. O Moura Atlético Clube faz hoje 70 anos. O João é o sócio nº 9 ou 10 ou perto disso. O MAC lá em casa era, para o João, algo semelhante a uma religião. Os dias de derrota transformavam o pacato cidadão num perigoso radical extremista.
Os 70 anos do MAC são uma homenagem a gerações de jogadores, treinadores, dirigentes e colaboradores que construiram uma das mais sólidas instituições do concelho.
Vivótlético.
A fotografia data de 1986, quando o MAC se sagrou campeão distrital, se não estou em erro (se estiver, digam). É engraçado olhar para estas imagens, passados mais de 25 anos. Estão lá condiscípulos da primária, amigos de juventude, autarcas, colegas da câmara, antigos chefes dos escuteiros etc. Há quem tenha partido para sempre. Mesmo o local onde tiraram a fotografia (assim meio inclinada, mas as diagonais dão dinâmica às imagens), no topo norte do Campo Maria Vitória, faz parte do passado.
Tentei ser espirituoso e o resultado foi fraco. Plantado no meio da Rua Augusta, perto da entrada no núcleo museológico do Millenniumbcp, apontei para o chão e afirmei sous les pavés, la plage. Citava o maio de 68 e fornecia um dado concreto. Debaixo da Rua Augusta há restos do areal onde outrora aportavam embarcações. Os alunos devolveram-me um olhar inexpressivo. Nunca tinham ouvido a frase? Não. Sabiam o que era o maio de 68? Dois em vinte sabiam, numa homenagem gloriosa aos programas do secundário e à cultura televisiva. Ou seja, se o fracasso se pode medir assim, tive um fracasso de 90%. Nem o ministro da economia, call me Álvaro, consegue um resultados destes...
Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca
Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância dum relógio solar
Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante
Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras
qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu
Qualquer distância
entre tu e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo
Recebo, regularmente, mails deste fotógrafo catalão (o meu nome deve, por razões obscuras, estar numa qualquer base de dados). Trabalhos de grande qualidade, um pouco ao estilo globe-trotter. A série de imagens da Malásia fez-me lembrar do poema de Mário Henrique Leiria. Por causa do conteúdo? Nem tanto. Pela repetição da palavra "distância". Pelo abismo que separa os dois "países" das fotografias.
The wine was as good as when you were
21 and the food as marvelous as always. There were the same songs and good new
ones that cracked and suddenly pounded onto the drums and the pipes. The faces
that were young once were old as mine but everyone remembered how we were. The
eyes had not changed and nobody was fat. No mouths were bitter no matter what
the eyes had seen. Bitter lines around the mouth are the first sign of defeat.
Nobody was defeated.
O livro (The dangerous summer, de E. Hemingway) tem pontos empolgantes, mas a passagem que mais me chamou a atenção foi esta, que acabo de transcrever e onde se lê bitter lines around the mouth are the first sign of defeat. São mesmo, mas a expressão francesa plis d'amertume parece-me mais adequada. A amargura e azedume que alguns carregam, por esta ou aquela razão, espelham-se com clareza. Conheço pessoas em que isso é evidente. A fotografia de Andres Serrano traduz bem esse estado de alma.