domingo, 20 de março de 2022

GASTÃO CRUZ (1941-2022)

Dia de coincidências. Estava a escrever, neste dia de chuva, sobre um edifício de Coimbra quando leio a notícia do desaparecimento de Gastão Cruz. Um poeta que "passou" pelo blogue várias vezes. Recordo aqui um dos seus poemas, citado em 2012 a propósito de uma ida a Tlemcen, na Argélia (onde isso já vai...). A propósito da palavra "teatro", mas sem ligação direta com o texto.

O Teatro das Cidades 

Qualquer tempo é um tempo duvidoso 
assim o meu cercado de cidades 
plataformas instáveis 
praticáveis cobertos de infinita gente náufraga 
que se inclina nas águas como um palco 

Paro na convergência dos estrados 
chove já sobre a raça ameaçada 
Incertas multidões em volta passam 
contemporâneas falam interpretam 
a duvidosa língua das imagens 

Assim no teatro abstracto das cidades 
morrem palavras sobre um palco náufrago 

O tempo cobre o céu que se enche de água

Coimbra foi teatralizada pelo fascismo que, arrasou a cidade alta. Não foi um teatro abstrato, mas bem real...

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