terça-feira, 31 de março de 2009

POEMA DA FLOR PROIBIDA

Por detrás de cada flor
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.
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Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.
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Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,não de repente
(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.
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Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.
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Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.

Em Portugal não gostamos muito de flores nem de jardins. Há quem goste, claro. Mas o mais frequente, e em especial no sul, onde a sombra falta, é que se peça às autarquias que venham cortar esta ou aquela árvore. O que não deixa de ser estranho e contraditório.

O poema de António Gedeão (1906-1997), mais esta paradisíaca pintura de Henri Rosseau (1844-1910), intitulada O sonho, vão por outro caminho. Embora o poeta acabe comendo a flor...

MR. OBAMA AND MR. LEWIS

O estado de graça em que se encontra ainda não deu para análises. Até agora corre tudo bem. No início corre sempre tudo bem. É Obama um velocista ou um corredor de fundo? É o homem dos sound bites ou das teses elaboradas? É cedo para saber a resposta.

Mr. Lewis era um velocista. E embora a Pirelli seja mais conhecida pelos seus calendários de mulher pelada, como dizem os nossos irmãos brasileiros, ficou célebre este cartaz do corredor com uns sapatos vermelhos de salto alto. Não estou à espera de ver Obama de saltos altos, mas nunca se sabe...

A potência sem controlo de nada serve? Sem dúvida.

segunda-feira, 30 de março de 2009

E MAIS UM POUCO DE NONSENSE EM FIM DE TARDE

NOIVADO
Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.

- És tu Ernesto, meu amor?
Não era. Era o Bernardo.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.
É o que faz a miopia.


Não sei se Mário-Henrique Leiria (1923-1980) tem junto dos adolescentes de hoje a mesma popularidade que tinha no final dos anos 70. Afinal, os gostos e os hábitos mudam em cada geração. E a bolsa de escritores é volúvel. Passados trinta anos, continuo a achar irresistível o estilo sardónico deste português pouco vulgar.

OBAMA AT THE FAUCHON

Os franceses, hélas, queixam-se que os americanos não lhes passam cartão. Pelo menos é que se diz que o presidente Sarkozy diz do presidente Obama.

E agora, quando o presidente Obama está prestes a iniciar uma visita a França, resta a Sarkozy vencê-lo pelo charme. Não será difícil. Esta pequena história verídica ilustra bem o fascínio dos yankees pelo estilo gaulês:

Uns dias antes do Natal, a bicha à porta do Fauchon, talvez a mais célebre charcutaria de Paris, serpenteava pelo passeio. Ainda a palavra “crise” não era pronunciada e as coisas, caríssimas, que o Fauchon vende ainda eram compradas. Às tantas, sai um dos empregados, devidamente uniformizado, e começa, com toda a elegância, a distribuir flûtes de champanhe pelos clientes. Um gesto chique, à boa maneira francesa. A Júlia riu a bom rir, como faz cada vez que me recorda a história, quando viu um grupo de inconfundíveis turistas americanos especados a meia dúzia de metros, extasiados com a cena. Já lá vão uns anos mas as frases entusiasmadas, quase aos gritos, dos turistas não se apagam da sua memória: “Oh, my goodness! Just look at that! They are giving champagne to the customers… That´s so chic… But, of course, it’s the Fauchon!”.

Está visto, se a geopolítica passar por aí é levar o homem ao Fauchon…


Para quem tiver curiosidade aqui fica o endereço: www.fauchon.com

domingo, 29 de março de 2009

O ALMOÇO NA RELVA

Há cerca de dois meses publiquei aqui um post intitulado:
http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2009/02/variacoes-sobre-o-tema-de-olympia.html

Nele se recolhiam um conjunto de imagens que retomavam um célebre quadro de Manet. O tema de hoje é o não menos célebre Le déjeuner sur l'herbe, pintado pelo mesmo autor em 1863. O escândalo foi imenso, sobretudo pela contraposição entre a mulher nua e os dois homens completamente vestidos. O quadro está hoje no Museu d'Orsay, em Paris.

Detalhe final: a mulher tem a cara da modelo preferida de Manet, Victorine Meurent, mas o corpo é o da mulher do pintor, Suzanne Leenhoff...


Localizei cerca de 50 obras feitas a partir do quadro de Manet. Há de tudo um pouco, desde trabalhos de consgrados a outros de anónimos, e bem menos conseguidos. Há capas de discos, instalações e fotografias. Seleccionei uma série delas e publiquei-as, sem preocupações com datas ou indicações de autoria.





Site do Museu d'Orsay: http://www.musee-orsay.fr

OZ: SUGESTÃO ANÓNIMA

Um(a) anónimo(a) mandou-me este link. Para todos os que têm saudades dos Marretas e de Oz. Bom domingo.

sábado, 28 de março de 2009

AS ILUSÕES DESTA VIDA...

As ilusões desta vida
São como as ondas do mar
Umas não chegam à praia
Outras morrem ao chegar.




O verso é do escritor Manuel Laranjeira (1877-1912) e foi-me mostrado pelo escultor José Aurélio (n. 1938), porque ilustrava uma peça que tinha concebido. Fica bem, creio eu, acompanhado por esta Noite estrelada sobre o Ródano, pintada em 1888 por Vincent van Gogh (1853-1890).
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Algumas informações adicionais: há um site interessante sobre a obra de Van Gogh: www.vangoghgallery.com. Sobre José Aurélio sugere-se uma visita a: www.armazemdasartes.pt.

sexta-feira, 27 de março de 2009

EVERY TIME WE SAY GOODBYE

Um belo dia Deus desceu à Terra e tocou nas costas do sr. Cole Porter. Foi nessa altura, corria o ano de 1944, que ele se sentou ao piano - foi seguramente ao piano - e compôs "Every time we say goodbye I die a little" (Cada vez que nos despedimos morro um pouco). As palavras são excessivas e dispensáveis. A minha interpretação favorita é a de Ella Fitzgerald (1917-1996), mas, por agora deixo-vos esta outra, não menos comovente, de John Coltrane (1926-1967).

MUSEU GORDILHO - JOALHARIA CONTEMPORÂNEA

O processo tem uns anos. Não muitos, felizmente. Tudo começou quando o designer e artista plástico Alberto Gordillo pôs à consideração da Câmara a possibilidade de doar à autarquia a sua colecção de joalharia. Alberto Gordillo, natural de Moura, é uma figura de primeira linha das artes plásticas nacionais e a abertura, na nossa cidade, do Museu Alberto Gordillo de Arte Contemporânea, constitui uma mais-valia para o concelho.
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A unidade museológica ficará instalada em pleno centro histórico da cidade, num imóvel utilizado até há vinte anos como quartel dos bombeiros. O projecto de reabilitação, da arquitecta Patrícia Novo (CMM), prevê a instalação de um espaço expositivo no piso 0 e o funcionamento de ateliês e áreas de trabalho no piso 1. A obra, orçada em 465.000 €, está em curso, devendo estar concluída antes de final do ano.
A abertura do Museu Alberto Gordillo de Joalharia Contemporânea será acompanhada pelo lançamento do respectivo catálogo, da autoria do historiador de arte Rui Afonso Santos (Museu do Chiado).

Retirei a seguinte nota do blogue http://casamuseu.blogspot.com/:

É considerado o Pioneiro da JOALHARIA MODERNA PORTUGUESA "DE AUTOR". É o mais premiado e mencionado em publicações e o que mais exposições realizou. Executou desde 1965, protótipos de jóias de sua autoria, para fábricas de ourivesaria de onde foram reproduzidas milhares de peças de alta joalharia, destacando-se o famoso colar-teia com 300 gramas de platina e 150 brilhantes, exibido na Bolsa dos Diamantes de Londres e exposto no Museu Nacional do Traje, em cooperação com a Bienal Lisboa 94/Lisboa Capital Europeia da Cultura. Como escultor, esteve nas mais importantes exposições de arte. Em 1974 fundou a Galeria Tempo-Lisboa e no mesmo ano é apresentada exposição retrospectiva das suas jóias. Realizou a primeira exposição de joalharia em 1963 e a primeira de escultura em Março de 1971. Realizou 60 exposições individuais e participou em cerca de 250 colectivas, no País e no Estrangeiro.

Peças de Alberto Gordillo
Edifício do Museu Alberto Gordillo

Projecto do museu (corte com esquema da exposição)

quinta-feira, 26 de março de 2009

POR CIMA DO ARCO-ÍRIS



O Feiticeiro de Oz já tem 70 anos. E nem uma ruga. Em princípio, é um filme para crianças. Nunca me canso de o ver. A realidade é a preto e branco, o sonho é a cores. Dorothy parte para o sonho e depois não sabe como como regressar ao Kansas. Já nos aconteceu a todos, não saber como e para onde regressar. O momento em que, ainda antes de partir, canta Somewhere over the rainbow é de uma rara e perene beleza.


Os blogues são pessoais, claro. Mas ao colocar aqui hoje estas imagens e estes sons fi-lo a pensar nos amigos de Moura.

quarta-feira, 25 de março de 2009

MÉRTOLA - TRINTA ANOS DEPOIS

É hoje inaugurado o circuito de visitas da alcáçova de Mértola.
a
Trinta anos passaram sobre o início dos trabalhos, era então presidente da câmara o Dr. Serrão Martins. A máquina do tempo é rápida e terrível: 1982 foi o ano da inauguração do primeiro museu na Igreja da Misericórida; 1986 - primeiras candidaturas aos projectos da JNICT; 1988 - inauguração do núcleo romano; 1993 - abertura da basílica paleocristã; 1998 - exposição Portugal Islâmico no Museu Nacional de Arqueologia; 2001 - inauguração do Museu Islâmico; 2008 - início do funcionamento do mestrado Portugal Islâmico e o Mediterrâneo. Pelo meio, houve projectos, a revista Arqueologia Medieval, textos e teses, debates e exposições, o Prémio Pesso atribuído a Cláudio Torres e tudo o mais que não cabe num curto texto.

E agora? E agora depois do acordo entre o CAM e o Centro de Estudos Arqueológicos das Universidades de Coimbra e do Porto? E agora, que a fase festiva já passou? O futuro aponta para um aprofundamento e uma intensificação da investigação científica. Sem perder de vista a componente dos museus, base essencial do nosso trabalho.

Hoje, a alcáçova fica à disposição do público. Será lançado um livro onde se faz um rápido balanço destas três décadas de actividade. E fica, naturalmente, a perspectiva da continuação de um trabalho de escavação na alcáçova, que sempre será o coração deste projecto.

Agora, que o futuro nos espera ao virar da esquina, temos a obrigação de continuar.


Mértola e uma proposta de reconstituição do bairro islâmico (sécs. XII-XIII), contemporâneo desta imagem, da obra Bayad wa Ryad. Mais informações sobre o Campo Arqueológico de Mértola em www.camertola.pt. Veja-se também a página web do município: www.cm-mertola.pt.

terça-feira, 24 de março de 2009

ALEGRES CAMPOS, VERDES ARVOREDOS

Alegres campos, verdes arvoredos,
Claras e frescas águas de cristal,
Que em vós os debuxais ao natural,
Discorrendo da altura dos rochedos;

Silvestres montes, ásperos penedos
Compostos em concerto desigual,
Sabei que, sem licença de meu mal,
Já não podeis fazer meus olhos ledos.

E pois me já não vedes como vistes,
Não me alegrem verduras deleitosas,
Nem águas que correndo alegres vêm.

Semearei em vós lembranças tristes,
Regando-vos com lágrimas saudosas,
E nascerão saudades de meu bem.

Luís de Camões
Rudolf Lehnert (1878-1948) & Ernst Landrock (1880-1957)


Cristina García Rodero (n. 1949)



Werner Bischof (1916-1954)

Ansel Adams (1902-1984)

PIU-PIU ACADÉMICO

Encerremos o tema Mourinho, que hoje foi primeira página do Público.

Só tive de usar toga duas vezes, em júris de doutoramento. Emprestaram-mas, claro. Numa das ocasiões o colega era bem mais baixo, o que me deu a estranha sensação de entrar na sala com um saiote…

Há, em Portugal, o hábito de usar o traje académico da universidade onde se obteve o grau. O que transforma as cerimónias dos doutoramentos honoris causa numa colorida passagem de modelos.

Ora bem, em França não há propriamente um traje em cada universidade, mas sim uma toga única, que muda de cor consoante o domínio científico e que é usada pelos professeurs des universités. Até aqui, tudo mais ou menos. O pior é que às Arts, Lettres, Philosophie, e portanto à História, cabe o amarelo junquilho (voir les photos ci-dessous). A mim parece-me amarelo canário… Não me vejo, para já, a encomendar tal coisa, ainda para mais com um pão-de-ló enfiado na cabeça.

segunda-feira, 23 de março de 2009

MAYBE

Nem sequer sei se a Sarah morreu. Na minha boa fé estou convencida de que há dois anos atrás ainda estava viva porque creio tê-la visto entrar no átrio do St. Francis Hotel, em San Francisco, e dirigir-se ao balcão da recepção.

Mas era a Sarah? A minha vista já então estava a ficar pior e não posso ter a certeza. Ao dirigir-me para a mulher que julguei ser Sarah, ouvi de facto aquela voz - a Sarah tinha uma maneira estranha de falar, como se as palavras não prestassem ou desse muito trabalho. Aquela que podia ser Sarah viu-me, sorriu-se para alguém atrás de mim e afastou-se. Um homem meteu-se de permeio e quando cheguei ao balcão da recepção e perguntei à empregada, uma rapariga morena e exótica, quem era a senhora que estava à frente do intrometido, ela disse que não sabia a quem me estava a referir.
(...)
Dois dias depois telefonaram-me da Western Union a dizer que não havia nenhum Cameron no telefone indicado no telegrama. Disse-lhes que tinha de haver e eles disseram que não havia. Marquei o número do Cameron, na Califórnia, e atendeu um homem. Perguntei pelo senhor Carter Cameron. O homem respondeu que não conhecia o senhor Carter Cameron, que era um operário que andava a pintar a casa. Eu disse que a casa pertencia ao senhor Cameron. Ele disse que nunca tinha ouvido falar no senhor Cameron. Eu disse que a casa pertencia ao senhor Cameron. Ele disse que nunca tinha ouvido falar no senhor Cameron. Desliguei.
Estas duas passagens, a primeira quase do início, a segunda a de fecho, pertencem ao livro Talvez, de Lillian Hellman (1905-1984). Incerteza e dúvida, desencontros sucessivos. Ambiguidade e memória. É esta, ou parece-me ser, a essência desta pequena ficção, escrita em 1980. Comprei o livro em 1986, em tempos como os de hoje, marcados por incertezas e dúvidas. Tornou-se-me, com o tempo, insubstituível.
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A edição é da Relógio D'Água. O livro está disponível por 4,5 € em www.wook.pt

EFECTIVAMENTE...

... não me enganei. A RTP1 dedicou longos minutos do telejornal da hora do almoço ao doutoramento de José Mourinho. Houve reportagem sobre a chegada ao aeroporto, houve entrevistas ao pai de Mourinho, a vários profs da Faculdade, a alunos. Não reparei se falaram com funcionários. Gostava de saber quem vai proferir a laudatio e o que se irá dizer. Só por curiosidade mórbida.

O IRREAL QUOTIDIANO

José Mourinho é hoje doutorado honoris causa pela Universidade Técnica de Lisboa.
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Trata-se de um daqueles casos em que o doutoramento honorífico dá uma visibilidade acrescida à Faculdade, sem que, na realidade, se entendam as razões profundas da concessão do grau. Ganhou campeonatos? E prestigiadas taças internacionais? E daí?
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A concessão deste grau mediatiza o laureado e a escola que o promove. Nada mais que isso. Já só falta licitarem-se distinções...
Cerimónia académica em Oxford, um daqueles sítios onde a banalização dos graus ainda não parece estar na ordem do dia.

domingo, 22 de março de 2009

QUANDO A LUZ NÃO PROJECTA SOMBRA

Entre 2006 e 2008 foi-me dado acesso, sem restrições, a alguns dos aeroportos mais interessantes da Europa. Depois de ter concluído uma encomenda para a Autoridade Europeia dos Aeroportos – intitulada “Approaches” (Aproximações) – produzi “When the light casts no shadow” (Quando a luz não projecta sombra). Grande parte da série foi produzida nos Açores, onde os aeroportos foram, em tempos, tanto uma paragem obrigatória para os primeiros voos transatlânticos como importantes bases militares em ambas as guerras mundiais. Alguns destes aeroportos são únicos, pelo facto das suas pistas e áreas de estacionamento estarem pavimentadas com alcatrão em vez de betão. Com o tempo, algumas zonas destes aeroportos caíram em desuso e foram-se degradando, e foi isso que me atraiu nelas. Optei por fotografar quase exclusivamente de noite, utilizando câmaras de grande formato (8x10 e 8x20), as luzes dos projectores dos aeroportos e tempos de exposição longos, até cerca de duas horas, de forma a registar as mais pequenas diferenças de tom entre o fundo negro e o céu nocturno, com a minha câmara a realçar as luzes fluorescentes e as marcas no pavimento – mas também os padrões desenhados pelas ervas que tinham nascido nas fendas devido à falta de manutenção. O resultado são imagens ainda mais abstractas e enigmáticas que as das séries iniciais.
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Este é o texto que Edgar Martins publicou no seu site. O texto inglês e o texto português são diferentes. A versão na língua de Shakespeare é, sintomaticamente, mais despojada e precisa. Sábado à noite não é dia para traduções, o domingo talvez o seja (apesar da dúvida sobre a melhor forma de traduzir a expressão blacktop)...

ALGO ME DIZ...

... que o PSD vai ter algum trabalho para explicar a recusa do Prof. Jorge Miranda como Provedor de Justiça.

EDGAR MARTINS

os aeroportos, as gares, as paisagens...
When the light casts no shadow
Between 2006 and 2008, I was granted unrestricted access to some of the most interesting airports in Europe. After completing a commission for the European Airports Authority - entitled Approaches - I produced 'When Light Casts No Shadow'. Much of the series was produced in the Azores, where the airports used to both be a compulsory stop for early Transatlantic flights and important military bases in both world wars. Some of these airports are unique in that the runways and standing areas are surfaced in back tarmac and not the usual concrete. Over time, parts of these airports have fallen into disuse and become dilapidated, and it is this that drew me to them.I chose to photograph almost exclusively at night, utilising large format cameras (8x10 and 8x20), the airport's floodlights and long exposures of up to two hours in order to register minute tonal differences between blacktop and night sky, my camera picking out fluorescent signs and markings on the ground - and also the patterns of the weeds that had grown in cracks that had occurred due to lack of maintenance. The result is an imagery that is even more abstract and enigmatic than that of the earlier series.



Este texto encontra-se no site do artista www.edgarmartins.com e explica de forma precisa os objectivos e os métodos. Não conhecia a obra de Edgar Martins e é por essas razões que vale a pena comprar o Expresso ao sábado: Jorge Calado tem sempre qualquer coisa importante para nos dizer.
Duas exposições de Edgar Martins estão patentes em Lisboa: no CCB (24.3 a 17.5) e no Museu do Oriente (até 19.4). Às bilheteiras, cidadãos!

sexta-feira, 20 de março de 2009

TREINANDO PARA ASCOT?

Causou sensação o chapéu com que Chantal Biya (n. 1971), primeira-dama camaronesa, recebeu Bento XVI.

À primeira vista, parece uma daquelas espalhafatosas indumentárias usadas pelas senhoras da alta sociedade inglesa na Royal Ascot, a mais célebre corrida de cavalos disputada naquela localidade.

O mais extraordinário é o detalhe da cruz, a quase mimetizar as mitras episcopais.

A quem se sentir encorajado para uma ida a Ascot, informamos que a Royal Ascot deste ano se disputa entre 16 e 20 de Junho. Toda a informação está disponível em http://www.ascot.co.uk/index.html

quinta-feira, 19 de março de 2009

O PODER DA RUA

Três milhões de franceses sairam hoje à rua, protestando contra a política do governo Sarkozy. 80% dos franceses apoiam o protesto. Os poderes instituídos tremem sempre em França quando estas coisas acontecem. Mesmo quando dizem que não se impressionam com manifestações, que seguem o rumo traçado etc. etc.
É assim desde 1789, quando o rei foi preso, julgado e executado. As rebeliões populares são imagem de marca da douce France. Foi assim em 1848 e em 1871 e em 1968. O poder da rua é imenso. Pude constatá-lo inúmeras vezes, entre 1998 e 2005, quando deslocações regulares a Paris e a Lyon eram, frequentemente, entrecortadas por manifestações, sessões de esclarecimento, protestos ou, no limite, por greves. Ou por essa outra subtileza, tipicamente gaulesa, que é o mouvement social. E que se pode traduzir por uma mini-greve, que implica cortes nos serviços, reuniões de trabalhadores etc.
Confesso que, a meio de uma tese, a coisa que menos jeito dá é uma greve na Biblioteca Nacional, que implica o encerramento do local durante uma longa semana. Ou uma barafunda nos transportes que me obrigou a equacionar um percurso Rue Ballard-Quai François Mauriac em bicicleta... Os deuses protegeram-me e a greve foi desconvocada.
Ainda assim, ao ver hoje a massa de gente que percorre as principais cidades de França não pude deixar de pensar, uma vez mais, na importância do poder de mobilização. Nem pude deixar de me lembrar de que lado está, sempre, o meu coração. Com teses por fazer ou sem elas.

Hoje

1968

1871


1848


1789

quarta-feira, 18 de março de 2009

A MENINA DO GÁS




Este anúncio, que se tornou um clássico da publicidade, é uma extraordinária peça de comunicação. Bate tudo certo: o estilo longilíneo da rapariga (pouco condizente com a imagem do carregador de gás), o som, o passeio feito em tom elegante e descontraído, o ar de espanto da rapaziada à medida que ela passa.

Mais ainda: o anúncio é português! Longe vão os tempos em que uma senhora declarava ser uma lambona, forma de elogiar as insuperáveis qualidades da margarina PLANTA. É verdade que a miúda é polaca, mas admitamos que não se pode ter tudo...

Dúvida final: como será feita a distribuição de garrafas de gás no Vaticano?

terça-feira, 17 de março de 2009

BENTO XVI, SIDA E SEXO

No avião que o leva de Roma para Yaoundé, nos Camarões, o chefe da Igreja Católica insistiu em que o problema da seropositividade "não se pode resolver com a distribuição de preservativos", pois que, "pelo contrário, isso só irá complicar a situação" (Público on-line).

A solução estará na abstinência. Admitamos que sim. Coisa difícil e aborrecida, esse tema da abstinência. O poema Delírio, do parnasiano Olavo Bilac (1865-1918), não é, do ponto de vista técnico, um apelo à abstinência, mas, objectivamente falando, também não traz consigo qualquer risco de gravidez indesejada.
a
Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…

QUARTÉIS DE MOURA - PASSADO E FUTURO

Teve início, há algumas semanas, a reabilitação do Edifício dos Quartéis, em Moura. O imóvel, edificado por volta de 1725, é uma peça rara no contexto da arquitectura militar portuguesa. Na construção do edifício tiveram parte activa os habitantes da então vila de Moura, não só com serviços pessoais, como também com o que saía do cofre do município ou ainda através da venda das pastagens dos baldios, sobre os quais os habitantes tinha direitos (Arquivo Histórico Municipal, liv. 6: 1701-1723, pp. 113 e 197).
a
Foi, durante muitos anos, utilizado por uma faixa da população de menores recursos como zona de habitação. Apesar das mais que precárias condições que o edifício podia proporcionar foi, de algum modo, esse facto que impediu a sua ruína total.
a
Foi a partir de 1997 (sim só então, não vale sequer a pena qualquer argumento a propósito deste tema...) que se perspectivou a resolução do problema, assente em três medidas:
a
1) Procura de uma solução para realojamento dos habitantes;
2) Concepção e concretização de um projecto para o edifício;
3) Revitalização do edifício (como centro de artesanato, espaço para pequenos ateliês, sedes de associações e colectividades)
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É isso que tem sido feito. Perdi a conta aos disparates que se têm dito sobre o tema. Que não se percebe a utilidade de classificação do edifício (!), que não se sabe para que se está a fazer a reabilitação e que depois vão ter de se estar a inventar soluções para ocupar os espaços (!), que a obra é eleitoralista (!) e por aí fora...
a
Os que tão diligentemente promovem tais asneiras teriam muito a ganhar se mantivessem um discreto silêncio sobre o tema. Muitos deles são os mesmos que, anos a fio, suspiravam quando passam em frente ao edifício e diziam "quando é que teremos os nossos Quartéis recuperados?". Não me recordo de terem promovido, nomeadamente enquanto as forças políticas que integram estiveram à frente do município, qualquer iniciativa nesse sentido. Não me recordo que quaisquer deles tivessem, enquanto técnicos ou enquanto cidadãos, apresentado qualquer proposta concreta.
a
Em resumo, a obra começou. Dentro de meses estará concluída. O resto são conversa fiada e coisas de treinadores de bancada.
a
Os Quartéis de Moura estão classificados como imóvel de interesse público desde 1967.

Quartéis de Moura - projecto de reabilitação: arq. Pedro Ângelo (CMM)

Quartéis de Almeida (imagem de cima) e da Corujeira, em Estremoz (imagem de baixo), construções da mesma época do edifício de Moura.

segunda-feira, 16 de março de 2009

FILMES FORA DE HORAS

O desafio chegou por mail. Um dos meus alunos de Arquitectura, de Évora, propôs-me que escolhesse um filme e que fosse apresentá-lo. Nunca uma ideia me pareceu tão embaraçosa, até pelo facto de não ser um especialista em cinema. E, no entanto, atrevi-me a indicar três hipóteses, todas elas menores.
a
Na verdade, há um certo fascínio nas obras menores, aquelas que são menos vistas, menos incensadas, e que nem sempre são, de facto, menores.
a
Convido-vos a começar por este After hours, de Martin Scorsese. Obra mal amada, menosprezada, mas nem por isso menos interessante. Vi-o em 1986, numa fase de dúvidas, ao mesmo tempo que lia um livro que é tudo menos vulgar: Talvez, de Lillian Hellman. A trepidação e incerteza de um e do outro iam bem com a minha própria incerteza de então.
a
Continuo a achar este After hours um prodígio de montagem (graças a Thelma Schoomaker), de noção de tempo - há um relógio que se ouve em cada momento do filme - e de ritmo. A história do homem que não consegue voltar a casa todos nós a vivemos. Aqui ficam estes dois minutos de frenesim, acompanhados pelo som de La Cuadra Flamenca.


domingo, 15 de março de 2009

ALEK WEK




É esse o nome desta mulher, de uma beleza de cortar a respiração. A minha, pelo menos. Nasceu no Sudão, escapou à guerra civil e é hoje uma modelo disputada pelas casas de alta-costura.

Teve sorte. No seu país natal, muitas outras jovens, decerto igualmente belas, sofrem as consequências de uma guerra interminável.

sábado, 14 de março de 2009

POLÍTICA 2

Mais uma grande manifestação em Lisboa. Mais uma prova de mobilização da CGTP. Mais uma prova de descontentamento dos portugueses face a políticas impopulares, insensíveis e incompreensíveis. 180 mil, 200 mil? Pouco importa o detalhe do número. A massa de gente, o seu entusiasmo e a sua militância eram impressionantes. Sócrates que se cuide.

Agora, a parte burlesca: por lá andaram os dirigentes do Bloco de Esquerda. Que desfilaram, claro. E tiveram tanto tempo de antena como os do PCP, claro. Claro que sim. É bem conhecida a capacidade de mobilização para piqueniques do BE. Isto faz lembrar um pouco aquela velha anedota da formiga que pede boleia ao elefante e, depois, olha para trás e diz vê tu bem a poeirada que a malta vai fazendo...

POLÍTICA 1

Nunca gostei de meias-verdades nem de meias-tintas. E ainda que a vertente política deste blogue não seja a sua característica mais evidente, não quero deixar de colocar em letra de forma o relato do que ocorreu na passada segunda-feira, durante a Assembleia e durante a reunião do Conselho de Administração da AMALGA.

A determinada altura surgiu a proposta de exclusão do município de Mértola do Conselho de Administração (CA) da RESIALENTEJO. Do ponto de vista prático, a proposta fazia todo o sentido. Porquê? Porque o CA da RESIALENTEJO é designado pelo CA da AMALGA. Ora, acontece que Mértola decidiu, há algum tempo, sair do CA da AMALGA, pelo que não faria sentido estar num órgão e não no outro. Mais, a posição tomada pelo Município de Mértola de não se ter disponibilizado a viabilizar a apresentação de uma importante candidatura obrigou os restantes municípios a criarem uma nova associação, a AMAGIA. Não era obrigatória que Mértola participasse na candidatura, bastaria que tivesse dado o seu aval ao avanço do processo. Tal não aconteceu. Resultado: mais burocracia e mais perda de tempo.

Não percebo, neste quadro de actuação, a lógica da permanência de Mértola na RESIALENTEJO. E isso devia ter sido resolvido em devido tempo. Nunca tal foi proposto.

Esta, a que ficou para trás, é uma parte do problema.

Vamos à segunda parte da questão:
Foi apresentada, no dia 9 de Março de 2009, uma proposta, que ía no sentido do CA da RESIALENTEJO ser integrada por dois municípios da CDU e por Almodôvar. A votação teve duas abstenções: Moura (sou eu o representante na AMALGA) e Almodôvar.

Quais os motivos da abstenção?

1. Não me parece muito vantajoso, do ponto de vista político, estar a abrir estes dossiês e a encetar estas lutas a sete meses de uma eleição autárquica. Dá, entre outras coisas, imagem sectarismo e inflexibilidade.
2. O assunto não tinha sido previamente abordado com o Presidente da Câmara de Mértola (e há questões de cortesia que têm pouco a ver com batalhas políticas) nem com o Presidente da Câmara de Almodôvar.
3. Os motivos aduzidos na justificação da proposta (correlação de forças, faltas às reuniões misturadas com declarações pouco claras sobre o problema dos pagamentos) não correspondem à questão essencial e que é, também, a mais fácil de justificar politicamente. Ou seja, não faz sentido que um município esteja no órgão "nomeado" e não no "nomeador". Meteram-se os pés pelas mãos e arranjou-se um tema de discussão mais que desnecessário.

Pergunta sincera: qual foi a vantagem de tudo isto?

MAR DE ARZILA

no mar de arzila
namorei
teus olhos

no mar de arzila

uma voz antiga
tangia
a claridade
dobava o musgo
das pedras
adormecendo

no mar de arzila

havia o meu canto
recluso
do teu canto
gaivota gaivota
e nas praças
o tempo
renascera

no mar de arzila

namorei
teus olhos

no mar de arzila





O poema é de José Manuel Mendes (n. 1948). Ouvi-o na Antena 1, dito talvez por Luís Lima Barreto. É fácil lembrar-mo-nos do Mar de Arzila e dos olhos que vimos junto ao Mar de Arzila. E dos olhos que, às vezes, namoramos. O olhar desta mulher - amanhã direi quem é - ilustra bem esse cruzar de olhares. E a atracção pelo desconhecido.

sexta-feira, 13 de março de 2009

VERNISSAGE

O sítio é magnífico. O Palácio do Conde de Óbidos, obra do século XVIII, fica sobre o Tejo. Tem salas amplas, que estão forradas a azulejos. Chão de madeira e janelas rasgadas para o rio.

Naquela tarde, inaugurava-se uma exposição de pintura. Havia gravatas e penteados, maquilhagens e laca. O escalão etário era avançado. Quando cheguei e percorri as salas com vagar, o bruá das conversas sobrepunha-se ao som das pinturas. Às tantas, dei com um quadro de 1981. O tema era as caravelas. Parei, agitado por um breve arrepio. Era uma pintura que eu tinha fotografado e pintado na altura da sua primeira apresentação pública, há já muitos anos. Pouca gente via os quadros. O momento era social. Grupos de três, quatro pessoas, conversavam. De vez em quando uma pessoa trocava de grupo, numa espécie de minueto social. Saí para a varanda, quase chocando com o extraordinário penteado do Presidente do Supremo Tribunal.
a
Subitamente, entra uma ex-primeira-dama. Foi um momento interessante e que me fez vir à memória a descrição de Procópio de Cesareia sobre a entrada do imperador Justiniano na Hagia Sophia. A ex-primeira-dama trazia séquito. Um largo séquito. O qual só contribuiu para aumentar o bruá.
a
Refizeram-se os grupos. Continuou o minueto.
a
Depois, vieram os discursos. O Presidente da Casa discursou e a ex-primeira-dama (fingindo surpresa, "meu Deus, não estava nada preparada para isto" etc.) leu um poema. E até leu bem. Palmas formais, um segundo de silêncio, seguido de mais bruá e de mais minueto.
a
Diga-se, e sublinhe-se, que as pinturas são uma digna homenagem ao artista Moita Macedo. E ao empenhamento com que a família, e em especial o filho Paulo, tem conservado e divulgado o seu magnífico espólio.
a
Saí pouco depois. Feliz por ali ter estado e por ter reencontrado tantos quadros que vi noutros dias e noutros locais.

José Albano Pontes Santos Moita Morais de Macedo nasce a 17 de Outubro de 1930 em Benfica do Ribatejo. Em 1963 conhece Almada Negreiros na Cooperativa Gravura, a qual frequenta durante dois anos. Com Almada estuda e faz as primeiras experiências em gravura riscada sobre o vidro. Em 1965 conhece Artur Bual, o qual viria a influenciar a sua pintura. Em 1972 e 1973 ilustra as capas de livros de Miguel Barbosa O Irineu do Morro e Mulher Macumba, publicados em Portugal e no Brasil. Entre 1972 e 1974 dirige as Galerias Futura e Opinião. Entre 1979 e 1983 impulsionou as exposições de Pintura na Codilivro. Em 1980 organiza conjuntamente com Artur Bual e Francisco Simões a exposição Viagem ao Mundo da Linha, da Forma e da Cor a qual representou uma nova forma de expor arte, alargando o seu conceito. Em 18 de Maio de 1983, morre em Lisboa. in http://www.moitamacedo.pt/

Homem solidário, grande desenhador e pintor, Moita Macedo foi para mim um exemplo de generosidade, empenhamento e cultura. Quando ele faleceu, estava eu a meio da licenciatura em História da Arte. Já não pude, pois, contar-lhe em que medida e de forma me influenciou fases de percurso que se seguiu.

A ARQUEOLOGIA, A INVESTIGAÇÃO E O ARQUIVO DO IPA

Infelizmente, não me enganei. Esta coisa apareceu no IPA (e oxalá seja um hacker brincalhão):

"Mudança de instalações do Arquivo de Arqueologia - informação Atendendo à necessidade da mudança de instalações do Arquivo de Arqueologia, actualmente situado na Av. da Índia, para o Palácio Nacional da Ajuda, o mesmo encontrar-se-à encerrado a partir da próxima 2a feira dia 16.
A data da sua reabertura será comunicada igualmente por este meio. A Biblioteca de Arqueologia mantém-se aberta ao público nos horários habituais. Todos os contactos necessários deverão ser feitos para o IGESPAR tel. 21 361 42 00"

Queres fazer investigação?

quarta-feira, 11 de março de 2009

PÁTIO DOS ROLINS









Projecto de reabilitação: Arq. Patrícia Novo (C.M.M.)

Este é o Pátio dos Rolins, em Moura. O edifício está carregado de História e traz consigo a lenda de que terá sido a morada dos conquistadores de Moura. É pouco provável que o tenha sido, mas pouco importa. O Pátio dos Rolins faz parte da alma de Moura.

Na sua forma actual é uma construção do século XVI, com algumas modificações posteriores. Não é um palácio de grande luxo e ostentação, mas sim uma construção que combina soluções da arquitectura vernacular com outras (as duas janelas mais imponentes) que se aproximam de um repertório erudito. As abóbadas do piso térreo tem alguma expressão, as coberturas de cima são bem mais modestas.

A Câmara Municipal de Moura comprou este edifício há uns anos. O objectivo era (e é) claro: na antiga oficina do ferrador instalou-se o Posto de Turismo; o resto do imóvel conservará funções habitacionais. Até porque uma cidade sem habitantes não o é. É apenas um cenário de teatro.
a
A primeira fase de reabilitação do Pátio dos Rolins terminou há pouco. O começo da segunda fase não tardará.

Não faltarão, decerto, os que dirão que este Pátio é apenas um pequeno palácio, sem nada que o possa comparar a outros monumentos de maior imponência (alguém dizia no outro dia, aqui, em Moura, que "quem quer ver igrejas vai ao Norte, não vem ao Sul"). Para os que pensam tão insólitas e bizarras coisas, dedico este poema, este extraodinário poema, de Alberto Caeiro. Que diz o que eu penso, melhor do que eu poderia pensar, dizer ou explicar:

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde vai
E donde ele vem.

E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Nunca ninguém pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

NÃO MINISTRARÁS (OU A DOR DE COSTA)

António Costa foi ministro e apertou as finanças das autarquias. Depois foi (é) presidente de câmara e sentiu na pele os efeitos das leis que tinha criado.
António Costa, que é presidente de câmara, criticou a Administração Interna, pasta de que foi ministro, por causa da insegurança em Lisboa. Os polícias não perderam tempo a acusá-lo de ser o responsável pela suspensão da admissão de pessoal e pela insegurança que se vive nos grandes centros urbanos.
Conclusão: NÃO MINISTRARÁS, PORQUE UM DIA TE LEMBRARÃO TEUS PECADOS!

terça-feira, 10 de março de 2009

A ARQUEOLOGIA A OESTE DE PECOS

Já toda a gente viu o filme. O pistoleiro dava um pontapé na porta do saloon, puxava do colt e desatava a disparar. Depois fazia as perguntas. Era assim, a oeste do rio Pecos.
a
A arqueologia portuguesa vive o seu momento de Oeste Selvagem. O artigo hoje dado à estampa no Público daria vontade de rir, se o momento não fosse trágico. Vejamos os passos do baile mandado: parte dos serviços de Arqueologia que se encontram na Avenida da Índia - entre os quais a biblioteca - serão nos próximos meses transferidos para o torreão ocidental do edifício da Cordoaria Nacional, na mesma avenida. Por seu lado, o Arquivo da Arqueologia Portuguesa irá para o Palácio da Ajuda. Os serviços de arqueologia aquática e subaquática serão divididos entre a Cordoaria e o Museu da Marinha.
a
Os pistoleiros estão agora no meio do saloon e desafiam o xerife e o seu ajudante. Os cangalheiros esfregam as mãos de contentes. O pianista mergulhou para detrás do piano.
a
A lógica é a de disparar primeiro e perguntar depois. A biblioteca de arqueologia integra o espólio outrora pertencente ao Instituto Arqueológico Alemão. Vai ficar disponível, dizem. Como, e em que prazos, é coisa que está para se ver. O arquivo da arqueologia portuguesa vai para a Ajuda. Parto do princípio que estejamos a falar dos relatórios de escavação. Em relação a estes basta ler um despacho da Direcção do IPA de 2007 para percebermos o radioso futuro de livre acesso à informação que nos espera: http://www.ipa.min-cultura.pt/legis/legis_e_reguls/folder/despacho2_2007.pdf. A arqueologia subaquática vai para um lado e vai para outro.
a
Soam tiros. Há uma conspiração do silêncio. Pessoas importantes calam-se, os pistoleiros avançam cada vez mais depressa. Disparam cada vez mais depressa. Pensar dá trabalho e é uma coisa demorada. Não há tempo para tal.
a
Algumas gentis almas defendem, entretanto, que o processo do Museu dos Coches é uma coisa e tudo o resto é outra. Claro que sim. Tal como a eventual transferência do Museu Nacional de Arqueologia não tem nada a ver com isto. Claro que não tem. Isto é tudo coincidências, é o que é.
a
No Oeste Selvagem, a oeste do rio Pecos, os pistoleiros mais ferozes são os que dominam o terreno. Há caixões encomendados. Continua a disparar-se primeiro e a perguntar-se depois. O essencial é disparar.
a
Entretanto, ouvi dizer que em Portugal há Ministro da Cultura. Dizem que sim...

Fotografia de Elliot Erwitt (Metropolitan Museum - Nova Iorque)

segunda-feira, 9 de março de 2009

UCCELLACI E UCCELLINI

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
a
Toutinegra dos valados (Sylvia melanocephala)

Sisão (Tetrax tetrax)

Alcaravão (Burhinus oedicnemus)
As palavras de Drummond de Andrade vão bem assim, acompanhadas pelas fotografias de Francisco Pinto Moreira. Que, pormenor importante, me envia sempre os nomes em latim das espécies que capta e aprisiona (ou talvez não) nas suas lentes.
a
E assim esta vocação tardia, falo da do Francisco, se transformou em surpresa. E em paixão e arte fotográfica.