domingo, 31 de dezembro de 2023

OBRIGADO!

Acaba o ano. Obrigado!

Nada melhor do que repetir aqui o "obrigado" do pastor sul-africano Solly Mahlangu. Foi com esta sua música que o Gospel Collective encerrou o concerto de dia 15 no Panteão Nacional. É por aqui que fechamos o nosso ano de 2023. Obrigado, apesar de tudo.

sábado, 30 de dezembro de 2023

CINCO VEZES O ESTÁDIO NACIONAL

Termina o ano e o número de pessoas que passou pelo Panteão Nacional (um pouco mais de 180.000) dava, em números aproximados, para encher 5 vezes o Estádio Nacional. Ou 14 vezes a Praça de Touros Celestino Graça, de Santarém. Ou 43 vezes o Coliseu dos Recreios.

Triunfalismo? Nada! Mesmo nada.

Satisfação? Sim, claro que sim.












sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

GAZA - A ILHA DOS MORTOS, 15 ANOS SE PASSARAM...

15 anos se passaram. 15 anos! E não só nada mudou, como tudo piorou.

Com a complacência de todo o Ocidente.

Em breve, não haverá Gaza.


SEGUNDA-FEIRA, 29 DE DEZEMBRO DE 2008

GAZA - A ILHA DOS MORTOS


A foto é de hoje, da France Presse. A legenda diz apenas "Corpos de cinco irmãos palestinianos, em Gaza". Não é necessário que diga mais. O quadro de Arnold Bocklin, A ilha dos mortos, ganha, à luz de Gaza, uma nova e terrífica dimensão.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

SOB O SIGNO DO MAR


















A exposição já lá vai. Fica a memória imprensa no catálogo. Ficam o azul da letras, das palavras em grego e o azul do mar. Ou dos mares, que há vários no livro. O de António Ole deixou marcas. Não é um mar inocente, visto a partir de Gorée...

Voltaremos no final do ano, com a exposição comemorativa de João Hogan.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

2024: PASSAS QUE VIRÃO

O ano termina e começo, de novo, a deitar contas à vida. Deixando de lado o Panteão Nacional e os projetos pessoais mais complexos e de médio prazo - há três que são mais pesados e de fôlego, e que não nomearei -, 2024 vai implicar a publicação de um livro da qual sou autor, a edição de outros oito que apenas coordenei e a preparação (um deles em finalização...) de outros cinco, a saírem no biénio 2024/2025.

Passas, sim. As do Algarve...

Esta imagem é de Bolama. Assume hoje contornos quase oníricos.


terça-feira, 26 de dezembro de 2023

CERRAR LOS OJOS - PRENDA DE NATAL

Uma das minhas prendas de Natal foi ter ido assistir, mesmo no dia 25, à projeção de "Cerrar los ojos", a mais recente longa-metragem de Victor Erice (n. 1940). Foi no Nimas, sala que assume, cada vez mais, o papel de cinemateca2. Por este filme perpassa qualquer coisa de "A noite americana", de Truffaut. O filme é uma longa declaração de cinefilia, com uma história triste e angustiante em pano de fundo. O tratamento da cor é minucioso - Mikel aparece sempre envolto em tons dourados -, tal como detalhados são os grandes planos. O montador chama-se Max - como Steiner ou Linder ou Don - e tem um perfil freak (até pelo dois cavalos...). Há um cinema fechado ao público, como todos na província!, e há um trio de vencidos na vida que canta uma música do "Rio Bravo".

Com mais de 80 anos, Erice faz uma declaração de amor ao cinema. E, talvez, como disse uma velha amiga, ao poder redentor da Arte.




segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

domingo, 24 de dezembro de 2023

MISSA LUBA

A missa luba é uma versão congolesa da missa católica tradicional. É uma criação muito bonita, nascida ainda na era colonial. Deste kyrie há uma versão com marca portuguesa, a do Duo Ouro Negro, gravada há já muitos anos.

Feliz Natal!


sábado, 23 de dezembro de 2023

ESPANTOSAMENTE...

Azeredo Lopes escreveu, na "Visão", um curto obituário sobre Henry Kissinger. Consegue omitir qualquer referência ao papel de Kissinger na(s) guerra(s) suja(s) contra regimes democráticos na América Latina. Quando Kissinger morreu, o embaixador chileno em Washington, Juan Gabriel Valdes, escreveu, numa reação inabitual no meio diplomático: "Ha muerto un hombre cuyo brillo histórico no consiguió jamás esconder su profunda miseria moral".

O texto de Azeredo Lopes é, por isso mesmo, ainda mais espantoso.

HONEST IAGO...

Se alguma coisa retenho, depois de muitos anos sem ver este filme, é o murmúrio de Othello, quando se refere ao intriguista. Em duas palavras, Welles resume ódio, ressentimento e desprezo. Honest Iago é uma frase que, de tempos a tempos, me ressoa... Não tenho esse excerto, mas "tenho" a absolutamente genial sequência do cortejo fúnebre.

Vale a pena ver o extraordinário documentário/reflexão sobre o filme, do próprio Welles (já por aqui andou em 29.5.2015):

https://www.youtube.com/watch?v=fvqeQt8aLnU




sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

OTELO E DESDÉMONA

Intriga, ciúme e morte. Ao rever o "Othello", de Orson Welles, revi a tela de António Muñoz Degraín (1840-1924), pintada em 1880. Pertence ao Museu Nacional de Arte Contemporânea e pode ser vista na exposição temporária do Museu Nacional de Arte Antiga.

Voltarei amanhã a este tema.




















No site da DGPC:

Em finais do século XIX, precisamente em 1881, numa altura de grande aproximação cultural com Espanha, o 2º Visconde Soares Franco adquire esta obra, uma das mais significativas do autor, e faz a sua doação ao Estado, à Academia Real de Belas-Artes de Lisboa. Em 1912, um ano após a fundação do MNAC, a pintura integra a sua coleção, após a divisão do Museu Nacional de Belas-Artes e Arqueologia.”
Inspirada na peça Otelo, de William Shakespeare (c. 1603), esta pintura (raramente apresentada, devido à exiguidade de espaço do MNAC e por se valorizar a exposição de artistas nacionais), tece fortes relações com a literatura, a história e os conceitos estéticos da época. Em 1882, a Companhia Rosas e Brasão, leva-a à cena no Teatro D. Maria II, com enorme sucesso, destacando-se então as inovadoras propostas e a participação do cenógrafo Luigi Manini (1848-1936).
Pode, assim, afirmar-se, como salienta Maria de Aires Silveira, que “Muñoz Degrain sublinha um importante cruzamento de interesses, a partir de uma história verídica de paixão, do século XVI, com desfecho fatal, encenada, pintada e exibida em palco, desde o século XVII ao XIX.”

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

ALMADA, EM BREVE

Quase no arranque de 2024, haverá este encontro. Irei participar, sem apresentar nenhum trabalho, mas como moderador de uma mesa. O tema interessa-me a triplicar: a arqueologia, o património e as autarquias. Três em um.

https://www.cm-almada.pt/sites/default/files/2023-12/programa_0.pdf


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

O FIM DO FRANQUISMO

700 dias separaram o assassinato de Carrero Blanco da morte de Franco. Era, sem retorno, o fim do regime. Depois ainda haveria Arias Navarro (1908-1989) e o penoso Boas Piñar (1918-2014). Em 2023, os fantasmas renascem. Mas o franquismo ficou, para sempre, morto na Calle Claudio Coello.

A minha avó Luzia estava num estado de saúde cada vez mais débil e fomos passar o Natal a Madrid. Terei estado no sítio - na esquina com a Calle Maldonado, a pouco mais de dois quilómetros da casa da minha avó - no dia 21 ou 22, isso já não sei dizer. De que me recordo? Da coroa de flores à beira da cratera, que já estava sem água; dos vidros partidos em todas as janelas em volta; do traço vermelho na parede que assinalava o ponto em que o carro iria passar e a explosão se deveria produzir. 





ISTO ANDA TUDO LIGADO...

O "isto anda tudo ligado" é a frase favorita dos cultores da(s) teoria(s) da conspiração. Ora bem, aqui está um magnífico argumento. Esta "reabilitação" fica no Bairro de San Telmo, na comuna 1 de Buenos Aires. Votação nas presidenciais? 58% em Milei.

Quem faz estas coisas vota Milei. Isto anda tudo ligado, pois... 

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

LOS TOREROS

Agora que estamos quase a entrar em 2024 e falta pouco mais de um mês para a nova temporada é tempo de recordar esta tela de Joaquín Sorolla. Los Toreros data de 1915 e retrata um paseíllo na Real Maestranza. Uma obra "datada"? Sim, duplamente. Mas não menos interessante.


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

GOSPEL COLLECTIVE

Um grande concerto de gospel encerrou a programação de 2023 do Panteão Nacional. O Gospel Collective entusiasmou os 500 espetadores que encheram por completo o espaço central do monumento.

O concerto fez parte da programação de Natal da EGEAC, entidade que estabeleceu com o Panteão esta parceria.



































A equipa da Associação Portuguesa de Museologia, mais o presidente da EGEAC. Ora bem, da esquerda para a direita: Andreia Conceição, Madalena Diogo, Pedro Moreira (EGEAC), Teresa Marques, João Neto, Deolinda Tavares, o autor do blogue, Patrícia Remelgado e Teresa Oliveira.

domingo, 17 de dezembro de 2023

EDWIN MULLINS

Ao revisitar, há dias, o meu já longínquo percurso de aluno do Secundário, um nome "apareceu-me", como um flash: Edwin Mullins (n. 1933). Ao final das tardes (de sábado?), passava na RTP1 um programa intitulado "100 grandes pinturas". Terá sido em 1981, no verão entre o 12º. e a Faculdade.

Era um deambular fascinante e muito simples entre os pintores, a sua obra, e um quadro específico. Pedagogia, cultura, simplicidade, acessibilidade, sem pompa nem presunção.

Isto hoje passaria na RTP2, depois das duas da manhã...

 

sábado, 16 de dezembro de 2023

PRÉMIO GULBENKIAN PATRIMÓNIO - MARIA TEREZA E VASCO VILALVA

Uma iniciativa que vale a pena seguir. Um prémio com um "histórico" importante e que tem distinguido intervenções relevantes.

Candidaturas abertas até dia 1 de março de 2024.

https://gulbenkian.pt/fundacao/premios/patrimonio-maria-teresa-vasco-vilalva/



sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

CADA VEZ MENOS...

São 16 equipas nos oitavos de final.

4 equipas espanholas
3 equipas italianas
3 equipas alemãs
2 equipas inglesas

"Sobram" quatro lugares: uma equipa francesa, uma holandesa, uma dinamarquesa, uma portuguesa. Quem vencerá? A última equipa a furar o bloqueio de quem manda foi o Porto em 2004. Vai fazer 20 anos... Antes disso, houve o Marselha, em 1993, e o Estrela Vermelha, de Belgrado, em 1991. Já nem o país existe.

Uma certa maneira de ver o futebol conta cada vez menos... É o direito dos mais fortes à vitória.


quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

JÁ SÓ FALTAM 229 ANOS...

Há muitos anos (1980? 1981?), na sede da ANA, vi a maqueta do Aeroporto de Rio Frio. Emquatro décadas houve uma tremenda capacidade de indecidir. As recentes notícias sobre os astronómicos lucros da ANA - v. aqui - deixam(-me) a convicção de que "isto" não vai avançar. Daqui a 229 anos vamos todos estar na inauguração. Bora lá?


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

CINEMA, IMAGENS, SONS E MEMÓRIAS

Na infindável e anárquica pesquisa que faço de imagens vim dar com um conjunto de fotografias - que já conhecia, em todo o caso - do Estúdio Horácio Novais, hoje conservadas na Fundação Calouste Gulbenkian.

Esta é da sala de cinema do Monumental, projeto do arq. Rodrigues Lima (1909-1980). Foi inaugurada em novembro de 1951. Durou pouco mais de 30 anos, para dar lugar a um inexpressivo bloco de escritórios.

O Monumental é uma das minhas salas de eleição. Parte da minha "formação cinéfila" passou por lá. Quase sempre "lá ao fundo", no segundo balcão, com bilhetes a 12$50, o equivalente a 0,05 euros.

Bonita fotografia de uma bonita sala. Eram bons arquitetos? Eram muito bons.


terça-feira, 12 de dezembro de 2023

MOITA MACEDO - NA REITORIA

Moita Macedo, poeta e pintor, uma bela exposição que enche todo o átrio da Reitoria. Não é antológica, mas cobre parte significativa das várias temáticas que motivaram o interesse de Moita Macedo. Algumas delas merecerão um dia uma (re)visão mais detalhada. Em especial, as tendências "orienatalistas" da sua obra.

A inauguração foi ontem. Por lá está também um documentário, rodado no início de 1981, de um jovem que queria ser cineasta.


segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

A FORÇA DAS VOZES

Grupos corais na Amareleja: um local, o do S.R.A., popularmente conhecido como do Terreiro; o outro de Aldeia Nova.

Estão na calha para uma iniciativa no Panteão Nacional...

domingo, 10 de dezembro de 2023

ANTES DOS COMPUTADORES

Não havia auto-cad, mas havia esforço e imaginação. Sou a favor de retrocessos? Não sou, mesmo nada. Mas sou a favor de uma certa "complementaridade". O facto de termos métodos mais avançados não me convence a abandonar completamente os velhos recursos.

Os dois arquitetos (?) estão deitados em cima de Cambridge, Massachussets.


sábado, 9 de dezembro de 2023

NATAL AMARELEJENSE

À porta da igreja da Amareleja está um pequeno e original presépio. Com pneus coloridos (!) se celebra a quadra. Quando vemos milhares e milhares de euros atirados à rua sem critério, aqui temos um bom exemplo de sinal contrário.

Interessante, criativo e salutar.


sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

15 ANOS DE AVENIDA DA SALÚQUIA, 34

15 anos de blogue.
Mais de 2.500.000 de acessos.
Mais de 7.500 textos publicados.
Nem ouro, nem diamantes. Apenas convicção e alguma disciplina.
A partir de dia 1 de janeiro, diminuirei o ritmo. Haverá apenas um texto por dia. A média em 2021 foi de 1,25/dia, em 2022 foi de 1,35/dia. Está na altura de mudar um pouco.



quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

TAJ MAHAL por FELICE BEATO

Na minha desordenadíssima procura de fotografias aqui deixo a minha primeira referência a Felice Beato (1832-1909), autor de origem italiana que se instalou no Oriente.

Aqui fica uma imagem do Taj Mahal, o tal sítio que Jean Renoir evitou em "O rio".

Do site do Getty Museum:

Felice Beato was the first photographer to devote himself entirely to photographing in Asia and the Near East. He photographed in Japan, India, Athens, Constantinople, the Crimea, and Palestine. He settled in Yokohama and from 1863 to 1877 made hundreds of ethnographic portraits and genre scenes in Japan. He eventually opened a furniture and curio business in Burma. 


Beato's photographic career was also long affiliated with images of war. He photographed the Opium War in China in 1860 and the Sudanese colonial wars in 1885. 


While in partnership with his brother-in-law James Robertson in the 1850s, Beato documented the Indian Mutiny and its aftermath. Their photographs are believed to be the first to show human corpses on a battlefield. Beato and Robertson were also among the earliest photographers to work in the Holy Land.


quarta-feira, 6 de dezembro de 2023

NAPOLEÃO EM PORTUGAL

"PORTUGAIS, SONGEZ QUE, DU HAUT DE CET AÉROPORT, QUARANTE SIÈCLES D'HISTOIRE VOUS CONTEMPLENT"

BONAPARTE, 2023

terça-feira, 5 de dezembro de 2023

STARDUST MEMORIES Nº. 75: O RAIO DAS BARRAS PRETAS!

Era um "clássico" da televisão portuguesa nas décadas de 60 e de 70. Começava a projeção de um filme e começava a gritaria: "estes gajos da RTP é sempre a mesma coisa!", "lá cortaram um pedaço ao filme". Tenho um amigo, mais velho, que mal começava a projeção, ligava para a RTP "essa m**** é o quê, pá?, eu pago a taxa toda, quero ver o filme todo!".

As pessoas tinham razão? Não tinham. Para se projetar a imagem na íntegra de filmes em cinemascope a única solução era diminuir a área do écran em cima e em baixo. Se se ocupasse a totalidade do televisor ficariam de fora as zonas laterais da imagem.

O difícil é fazer hoje o contrário. Uma vez, em 2015, quis fazer um pequeno filme no formato 4:3 e foi uma dor de cabeça...




segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

NÃO, O SENHOR NÃO PAGA...

"O senhor não paga". Tinha acabado de fazer a nova dose contra a COVID. Olhei para a senhora, entre o hesitante e o interrogativo. A senhora esclareceu "as pessoas com mais de 60 anos não pagam".

Não paguei, claro. Ganhei uma nova certeza: as vacinas protegem da covid. Mas não imunizam de estados subitamente depressivos...

domingo, 3 de dezembro de 2023

GOSPEL, A FECHAR O ANO

Dia 15 de dezembro terá lugar a última iniciativa deste ano no Panteão Nacional. A organização é da EGEAC, que nos propôs o espetáculo. Uma proposta irrecusável e que, pelo seu espírito, se enquadra perfeitamente na nossa missão.

Às 21 horas, com entrada livre.

sábado, 2 de dezembro de 2023

EUSÉBIO, 50 ANOS VOLVIDOS

A primeira parte acabou em 0-0. Nunca tinha visto o Estádio da Luz cheio daquela forma. Nunca tinha visto um Benfica-Sporting. Nunca tinha visto Eusébio jogar. Era o dia 2 de dezembro de 1973.

Aos 10 minutos da segunda parte Eusébio marcou (de livre indireto, na imagem). Repetiria o feito 20 minutos volvidos. Não o voltei a ver jogar ao vivo.

Faz hoje 50 anos que esse jogo teve lugar. O dia ficaria marcado pelo trágico falecimento de Fernando Leite, árbitro da partida.


sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

DUAS OU TRÊS COISAS SOBRE A PERIFERIA DO CASTELO DE MOURA NA ÉPOCA ISLÂMICA (sécs. XII-XIII)

Decorreram, recentemente, escavações arqueológicas nos terrenos do antigo Convento do Carmo, em Moura. Os resultados preliminares acabam de ser publicados por Vanessa Gaspar e por Rute Silva na obra “Arqueologia em Portugal / 2023 – Estado da questão”. Trata-se de um bom ensaio, que dá a conhecer os materiais e que baliza cronologicamente os achados referentes ao período islâmico.

Os trabalhos em torno da realidade medieval de Moura permitem-me algumas reflexões à margem da escavação e que espero que possam ser uma achega para um estudo mais aprofundado. Em primeiro lugar, deve sublinhar-se a importância religiosa do sítio. Há a memória de uma ermida (eventualmente alto-medieval), que se situava a sul da atual igreja do Carmo. Há, em segundo lugar, que destacar a proximidade do cemitério islâmico, ao qual se sucedeu o bairro da Mouraria. Em 1970, foram

acidentalmente escavadas várias sepulturas dessa necrópole, na Rua da Estalagem, a cerca de 100 metros do adro do Carmo. Finalmente, e este é o aspeto que me parece mais importante, deve ser sublinhada a ocupação agrária do espaço perirubano.

 

O local onde o convento foi construído é uma vasta plataforma com um ligeiro declive em direção a norte. Toda essa zona beneficiou das águas que saíam do castelo e que irrigaram as hortas em seu redor. Trata-se de uma matéria a aprofundar e que tem reflexo nos documentos de repartição de águas, que foram produzidos ao longo vários séculos. No período islâmico haveria aí várias munyas – pequenas propriedades rurais situadas na periferia das fortificações –, como o parecem atestar estes achados e os materiais cerâmicos descobertos em tempos na Rua do Sete e Meio, local onde foi ainda encontrada uma moeda de Hisham II (segunda metade do século X / início do século XI). Não sendo um arrabalde de Moura, poderia ser local de fixação de algumas famílias, que viveriam em pequenos casais.

 

Embora o texto não o diga, os silos escavados tinham como função a conservação de cereais, pelo que não nos parece que a presença deste tipo de estruturas se possa desligar da existência de uma zona de “habitat”. A datação definida para os materiais –

séculos XII-XIII – é também relevante, por configurar um abandono das estruturas numa data próxima à Reconquista de Moura. A riqueza dos terrenos, e a mais que provável presença de sistemas de irrigação, levou à ocupação desta área pelos carmelitas.

 

O trabalho de Vanessa Gaspar e de Rute Silva vem sublinhar a importância da conjugação da leitura dos materiais arqueológicos, da consulta das fontes escritas e da simples, mas sempre necessária, observação do território. Um caminho interessante e, naturalmente, a continuar.

 

Nota: o presidente da Câmara de Moura usou o direito de resposta para um longo arrazoado sobre o que aconteceu e deixou de acontecer no Convento do Carmo, dirigindo-me, no final do texto, um banal insulto. Repito que o que se passou no Convento do Carmo – atrasos e mais atrasos com a “desculpa” da arqueologia – era

desnecessário e resulta de incompetentes decisões políticas. Todo aquele processo é dado nas minhas aulas de Gestão do Património na Universidade Nova de Lisboa como exemplo do que não deve ser feito.


quarta-feira, 29 de novembro de 2023

AQUELES POLÍTICOS LOCAIS QUE JOGAM COM AS BRANCAS E QUE JOGAM COM AS PRETAS...

"Silverado" é um belo filme, de gratas memórias. Está cheio de boas ideias.

Nesta cena John Cleese joga com as brancas e com as pretas. Há quem faça isto na política. Estão de um lado e do outro. Antes das eleições jogam com as brancas, depois das eleições jogam com as pretas. Como é costume dizer-se, andam na vida enganando um e outro. Só que estes truques não dão para sempre, felizmente. Há uma altura em que as pessoas se dão conta que é melhor confiar em quem tem seriedade.



terça-feira, 28 de novembro de 2023

EVERESTALEFE

Este filme podia ser uma produção dos Monty Python. Isto foi "tirado do sentido" de Luís Afonso e de Sibila Lind. Um alpinista sobe ao alto da Serra de Ficalho. Um exercício arriscadíssimo. São 30 minutos de nonsense. É ver, senhores!


segunda-feira, 27 de novembro de 2023

TINMEL

Amanhã, o dia começa em Tinmel. Não fisicamente, claro está. Mas esta jóia da arquitetura almóada será tópico importante numa aula dedicada às mesquitas. O recente sismo deixou o monumento em ruínas.
O semestre está in fine.Religião e morte são os temas das próximas aulas. Ali também se falará da Sé de Lisboa - uma tragédia grega nos nossos dias... - e da sombra de Tinmel, que nos pesa a todos.


domingo, 26 de novembro de 2023

LUZES E SOMBRAS NO PANTEÃO

A passagem pelos corredores do monumento, fora de horas e na penumbra do fim da tarde, torna-se um jogo de luzes, de reflexos e de sombras. Eis o "pretexto" para um "registo" que arranca nesta semana. Já tenho para ali um rodízio de HP5, FP4 e mias uns DELTA3200 à espera. Novidades daqui por uns meses.


sábado, 25 de novembro de 2023

UMA MOIDÊRA, ONTEM À TARDE...

Final de tarde no Museu Bordalo Pinheiro, um sítio que o meu João Alpoim Botelho dirige e põe em alto nível.

O ponto de partida foram os cartoons do Luís Afonso. E falamos da ironia dele e do nosso Alentejo e do humor alentejano. E lá estivemos os quatro, numa sala a abarrotar. Da direita para a esquerda: o João Alpoim, o Luís Afonso, o Joaquim Caetano e eu. Como se pode ver pela fotografia foi um final de tarde aborrecidíssimo.




sexta-feira, 24 de novembro de 2023

PANTEÃO NACIONAL: 171.309

Foi na terça-feira, ao fim da tarde. Chegámos ao visitante 171.309. O que quer dizer que é o melhor ano de sempre do Panteão Nacional, em termos de entradas. O objetivo nº. 1 não é/nunca foi a questão dos recordes. Mas é bom vermos que o público corresponde e que, pela primeira vez, se superou a fasquia dos 40.000 visitantes nacionais.


quinta-feira, 23 de novembro de 2023

OS CAMINHOS DO OCIDENTE EM ÉPOCA ISLÂMICA

Em outubro de 2022 recebi um convite de Patrice Cressier para escrever um texto sobre as vias islâmicas no Gharb al-Andalus (grosso modo, os atuais centro e sul de Portugal) para ser publicado na revista marroquina Hesperis-Tamuda. Um processo mais longo do que eu esperaria (por culpa minha, nada mais), que foi publicado hoje mesmo. É bom ver que faço grupo com velhos amigos dos tempos de Lyon como Jean-Pierre Van Staëvel e Abdallah Fili.

Se tenho propostas "polémicas"? Lá isso tenho. De tal maneira que estou a pensar alargar o trabalho e passar das 30 páginas deste trabalho para um pequeno livro.

Aqui ficam o link da revista:

https://www.hesperis-tamuda.com/fascicule/2023002/articles

E o do meu artigo:

https://www.hesperis-tamuda.com/Downloads/2020-2029/2023/Fascicule-2/4.pdf


MEMÓRIA? MAS QUAL MEMÓRIA??

Um escândalo. E um exemplo do que são as supostas "elites" que dirigem alguns serviços do Estado. Transcrevo da página do facebook do meu amigo Rui Nery, do passado dia 20:

Acabo de receber um telefonema de um jornalista da “Visão” que me pedia um depoimento sobre um facto absolutamente extraordinário: segundo ele me explicou, a revista acaba de receber da RTP uma informação formal de que não existe no arquivo da empresa nenhum registo filmado do XI Festival RTP da Canção, realizado em 1975.

Escusado será dizer que em 1975 o Festival RTP era a manifestação da Música Popular Urbana portuguesa de maior impacto público em todo o País, sobretudo a partir de 1969 e nos anos imediatamente subsequentes, quando, no ambiente de relativa liberalização da censura no arranque da chamada “Primavera Marcelista”, o concurso deixou de ser um baluarte do chamado “nacional cançonetismo” e se abriu à participação de poetas como José Carlos Ary dos Santos, Yvette Centeno ou Pedro Tamen, de jovens compositores como Nuno Nazareth Fernandes, Fernando Tordo, José Calvário, Pedro Osório ou Jose Cid, ou de poetas-compositores como José Luís Tinoco ou José Niza. Um momento especialmente marcante foi sem dúvida a vitória, em 1973, da “Tourada”, de Ary e Tordo, num desafio aberto à hipocrisia moral do regime salazarista.
A edição de 1975, em pleno PREC, teve especial relevância por ser a primeira realizada já depois da queda da Ditadura. Venceu a canção “Madrugada”, com letra e música de José Luís Tinoco, na voz de um dos capitães de Abril, Duarte Mendes, e entre as restantes estavam canções tão marcantes como as de José Mário Branco (“Alerta” e “Viagem”), de Sérgio Godinho (“A Boca do Lobo”), de José Niza (“Como uma Arma, como uma Flor”) ou de Pedro Osório e Jorge Palma (“Batalha-Povo”), entre as dez selecionadas. Suponho que não haverá qualquer dúvida de que o registo do evento deveria constituir um documento histórico precioso para a história da Música Popular portuguesa, do audiovisual e do próprio momento decisivo para a História Contemporânea de Portugal que então se vivia.
A informação de que, algures nas décadas que se seguiram, esse registo se terá perdido é – obviamente – gravíssima. Revela, da parte das sucessivas administrações da RTP que entretanto estiveram à frente da empresa uma incúria, uma irresponsabilidade, uma falta de profissionalismo e uma incompetência absolutamente inadmissíveis no que respeita aos mais elementares deveres de preservação patrimonial a que esta está obrigada na qualidade de titular do serviço público de audiovisual, sustentada, para o efeito (e enquanto tal com inteira justificação), por verbas públicas, quer pelas taxas específicas de que beneficia, quer pelas verbas do Orçamento do Estado.
O atual Conselho de Administração não pode, claro está, ser responsabilizado por um facto que segundo todas as probabilidades terá ocorrido antes do seu mandato, mas tem a obrigação inalienável de instaurar agora, verificado o ocorrido, um inquérito rigoroso para apurar o que se passou e para garantir um código de preservação do seu património à altura das suas responsabilidades estatutárias, que impeça que crimes desta natureza – porque é disso que estamos a falar – contra o património público que lhe incumbe salvaguardar possam voltar a ocorrer. E será talvez uma boa ocasião para debatermos todos mais largamente, começando logo pela própria Assembleia da República e pelo Governo, o estatuto legal do Arquivo da RTP e a consagração inequívoca da sua função única e insubstituível como acervo histórico-documental nacional. Porque é importante que fique muito claro, de uma vez por todas, que não se trata de modo algum do mero acervo interno de uma qualquer empresa privada, mas sim de um bem público que tem de estar sujeito a normas rigorosas de tratamento, preservação e acesso amplo e transparente à comunidade.

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

CAMA QUENTE

Homenagem aos mineiros do Chile
que dormem, singelo,
pelo sistema de "a cama quente"


Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.

Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas primeiro,

enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.

Do calor que sobrou o nosso se acrescenta
pra dar calor ao próximo que entra.

Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis

como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão

e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!

É este sistema, minha gente,
que se chama no Chile "a cama quente"...

Não precisamos de evocar o Chile ou este poema de O'Neill. O Chile veio para cá. Publicação no "Jornal de Notícias":

terça-feira, 21 de novembro de 2023

UMA ÓPERA NO BARREIRO

Há muitos anos, numa aula de Arte Contemporânea, o dr. Rio-Carvalho usou as duas horas daquele final de tarde explicando-nos a beleza do Barreiro. Escreveria, dias depois, um artigo sobre esse tema para o "Jornal de Letras". Uma sua aluna tinha-lhe apresentado um trabalho intitulado "Para compreender a beleza do Barreiro". Intrigado, Rio-Carvalho foi passear para a margem sul. Lembro-me da paisagem industrial lhe evocar o "Deserto Vermelho", de Antonioni, e dele próprio dizer que o mercado municipal, na sua arquitetura neo-árabe, era o cenário ideal para uma "Carmen".

Manuel Rio-Carvalho era um professor invulgar e com um conhecimento profundo de Arte. Foi um dos quatro ou cinco que (me) fizeram a diferença, na desgraça que era a Facudade de Letras na primeira metade da década de 80.

Aquele episódio ficou no fundo da minha memória, até ao passado domingo. Ao olhar para uma fotografia de Augusto Cabrita, do 1º. de maio de 1974, pensei "era este o edifício de que o Rio nos falava; vou ver como é". O mercado fica na zona antiga. Ao chegar, reparei que a fachada neo-árabe foi ocultada por um expansão desgraçada e cheia de nomes sonantes. Toda a poesia do lugar se foi. Meti-me rapidamente no carro e voltei para a margem norte.


segunda-feira, 20 de novembro de 2023

ARLINDO HOMEM: MAIS FOTOGRAFIA

Não conhecia o Arlindo até começar a trabalhar no Panteão. Tem sido ele a dar um competentíssimo apoio fotográfico às nossas iniciativas de maior destaque. É um bom colega, sempre disponível.

Uma fotografia do Arlindo Homem foi agora premiada pela Comissão Naciona da UNESCO, que promoveu um concrso de fotografia com o tema "Património Mundial em Portugal". A fotografia é esta, do Palácio Nacional de Mafra. A grandeza está na simplicidade. Parabéns, Arlindo!


domingo, 19 de novembro de 2023

AUGUSTO CABRITA: CENTENÁRIO

Nasceu no Barreiro, há 100 anos. Estreou, há semanas, uma exposição destinada a assinalar esse centenário.  “100 anos de Augusto Cabrita: um olhar inédito” é um testemunho importante da obra de um fotógrafo excecional. E esquecido?

Até 16 de março de 2024.