segunda-feira, 30 de abril de 2018

A COMUNIDADE CIGANA E A POLÍTICA

A notícia do envolvimento da comunidade cigana na atividade política é excelente. A chamada inclusão passa, e em muito, por aí. O "Público" de hoje traz um texto sobre o assunto:

https://www.publico.pt/2018/04/30/politica/noticia/os-ciganos-portugueses-estao-a-prepararse-para-entrar-na-politica-1815727

Há um curioso excerto que diz respeito a Moura:

“Sabemos que nem todos vão aproveitar”, admite Bruno Gonçalves [eleito numa autarquia pelo Bloco de Esquerda] . “Se tivermos aqui quatro ou cinco que se possam aproximar de partidos e fazer parte das listas, já será uma grande vitória.” Houve vários candidatos nas últimas eleições autárquicas. E pelo menos 20 ciganos a trabalhar nas mesas de voto. “Isso chama para a participação”, analisa aquele mediador sociocultural, vice-presidente da Associação Letras Nómadas. Está convencido de que o voto cigano, organizado, foi determinante nos resultados eleitorais de Beja e Moura, onde as câmaras passaram do PCP para o PS.

Fotografia: Daniel Rocha (Público)

FALTA APOIO DA CÂMARA MUNICIPAL AO MOURA ATLÉTICO CLUBE?

Em entrevista ao jornal "A Planície" de hoje declara o atual presidente do MAC "nas últimas duas épocas, a Câmara que esteve em exercício cortou-nos, substancialmente, o subsídio que vinha de trás. Basta lembrar que essa câmara passou a dar à equipa sénior, em dinheiro, um subsídio mensal de 322 euros".

Repito o que aqui escrevi em 17.01.2018:
As verbas de apoio à prática desportiva devem ser canalizadas para as camadas jovens? Sem dúvida. Daí que os sucessivos regulamentos tenham posto ênfase nessa questão. A maior parte do apoio camarário é para os mais novos.

O apoio chega para tudo? Tal como sempre se fez questão de sublinhar, um apoio é uma verba complementar. Não pode nenhuma associação viver com base na tesouraria de uma entidade pública.

Houve princípios de maior austeridade a partir de 2015? Sim. A necessidade de conferir mais rigor às contas do Município, a Lei dos Compromissos e a diminuição do endividamento a isso nos conduziram.

Vamos a números. Qual o montante dos apoios da Câmara Municipal de Moura ao MAC?

2007 - 155.811,97 €
2008 - 216.433,87 €
2009 - 216.256,25 €
2010 - 153.483,00 €
2011 - 158.937,55 €
2012 - 146.618,21 €
2013 - 146.414,52 €
2014 - 142.055,34 €
2015 - 140.107,50 €
2016 - 107.160,10 €
(não tenho, ainda, os montantes referentes a 2017)
Ou seja, um total de 1.583.278,31 €

Em 2015 houve ainda um "perdão de dívida" (referente a transportes não pagos) no montante de 19.950 € (deliberação da Câmara Municipal de 7.10.2015).

Acrescem a estes montantes o pagamento da eletricidade (uma média de 33.000 € por ano) e da água (valor não contabilizado).

Não discuto se é muito ou se é pouco. São montantes substanciais e que decorrem da aplicação de um regulamento municipal. Um trabalho meritório de muitos anos e que, na mais recente versão, muito deve à minha colega Céu Rato.

É possível aumentar estes valores? Faça-se isso. Quem está no Poder tem legitimidade para tomar decisões. 

Resumindo, e reiterando o que disse:
* Os apoios devem ser concentrados no fomento da atividade infanto-juvenil.
* É isso que o regulamento privilegia.
* Não me arrependo minimamente de ter promovido um novo regulamento.
* Considero que o futebol profissional sénior ou semi-profissional não deve ser pago por Câmaras Municipais.
* O argumento "as outras câmaras fazem assim e fazem assado" deixa-me indiferente.
* A política implica seriedade e princípios. Foi isso que tentei, ao máximo, fazer no exercício do meu cargo. Não me arrependo nem voltaria atrás. 

QUINZE ANOS QUE SÃO QUASE TRINTA

Foi quase empurrado pelo Miguel Rego que, em 2003, me (re)lancei no projeto arqueológico do Castelo de Moura. Muito tempo passara desde o dia, a meio do verão de 1989, começara numa escavação que pensava então ser para toda a vida. Apesar das dificuldades que se anteviam. Calor, cansaço e aridez. Castelos são sítios reocupados. Há sempre densas camadas de entulho e as leituras que se conseguem alcançar, pouco nítidas e ao jeito de um palimpsesto, não dão para “brilhar”. Porque se escava, então? Porque, no meio dessa aridez, há dados que permitem reconstituir passos da história de uma terra. Porque a arqueologia deve fazer parte dos processos da reabilitação urbana.

A escavação foi interrompida em 1991. Pensei que para sempre. Os anos de 2000 e 2001 trouxeram mudanças na minha vida profissional. Na altura, quase não dei por isso. Mas estava a chegar a um fim de ciclo. No dia 18 de agosto de 2003 relançámos mãos à obra. A equipa era diminuta. As duas miúdas, Marta Coelho e Luísa Almeida, como técnicas de campo, mais Vanessa Gaspar, como arqueóloga que foi cooptada para este projeto. Havia ainda o pessoal do desemprego, ali colocado para nos apoiar. Foram anos duríssimos. Recordo que num dia, em 2004 ou em 2005, no meio de um desentulhamento, enchemos quatro contentores e meio. Ao todo, foram 31 m3, em poucas horas. “Você dá cabo da gente”, reclamava a Luísa. A Marta, sempre mais discreta, fechava-se num semblante de jogador de bridge.

Do ponto de vista humano, foram anos de aprendizagem intensa. Não reproduzirei as pequenas histórias que ia ouvindo aos participantes ocasionais na escavação. Fiquei com uma visão alargada da sociedade local. Das expetativas de vida. Dos anseios. Das dificuldades. Da violência de certos quotidianos. Assumi o papel de primeiro entre iguais. Nada mais simples. Sendo claro que, em momento algum, abdicaria da liderança do projeto. A relação com a Luísa e a Marta foi divertida. Não sei que diabo disseram às moças, mas, em 2003/2004, quase não respiravam quando falava com elas. Verdade se diga que nunca gostei de baldas no trabalho, nem de imprecisões na execução das tarefas. A direção de um projeto implica ouvir e ponderar. E depois decidir. Não é necessário que haja sempre consenso. Mas sim responsabilização e rigor. Ficou célebre na equipa uma explosão de fúria (minha) causada por uma indicação importante que não foi cumprida. Para gáudio das moças, descarreguei a frustração no chão, dando biqueiradas num monte de entulho...

Precisávamos de resultados e produzimos resultados. Que culminaram nos dois livros que resumem o essencial da escavação entre 1989 e 2013. Houve conclusões importantes? Sim. Sobre a evolução urbana do sítio medieval, sobre as ruturas entre o período islâmico e o pós-Reconquista, sobre a igreja de Santiago, sobre as transformações ocorridas até ao século XX… Falta conhecer muito? Falta conhecer quase tudo. A arqueologia tem destas coisas. Estamos sempre a regressar ao ponto de partida. Em julho regressamos ao ponto de partida. Uma vez mais. Não sei por quanto tempo mais, mas uma vez mais.

Andamos nisto há 15 anos. Que são, para mim, quase 30. Estaremos na mesma equipa, onde quer que andemos. Até já, sim?

Crónica publicada hoje em "A Planície"

Em 2005, algo mais magros...

domingo, 29 de abril de 2018

ELEMENTOS - TERRA 6


Retomando Francisco Joaquim Bingre (1763-1856), que já aqui tinha passado e que aqui voltará. A terra na Literatura. Com uma mão anónima, e com muitos milhares anos, na terra.


Terra

Ó Terra, amável mãe da Natureza! 
Fecunda em produções de imensos entes, 
Criadora das próvidas sementes 
Que abastam toda a tua redondeza! 

Teu amor sem igual, sem par fineza, 
Teus maternais efeitos providentes 
Dão vida aos seres todos existentes, 
Dão brio, dão vigor, dão fortaleza. 

Tu rasgas do teu corpo as grossas veias 
E as cristalinas fontes de água pura 
Tens, para a nossa sede, sempre cheias. 

Tu, na vida e na morte, com ternura 
Amas os filhos teus, tu te recreias 
Em lhes dar, no teu seio, a sepultura. 

ELISÃO EM SANTO AMADOR?

Santamadorenses?
A aldeia mudou de nome? Passou a Santamador?

HOT LIPS

Isto não tem nada a ver com a série televisiva (1972/1982). M.A.S.H. (1970), de Robert Altman, é um filme de grande qualidade. Impiedoso e hilariante. Tem várias cenas difíceis de esquecer, a da enfermeira Hot Lips no duche (neste blogue em 12.11.2011), e esta, com Hot Lips a ouvir a sua intimidade radiodifundida. A Censura proibiu o filme, que só passou em Portugal depois do 25 de abril.

M.A.S.H. ganhou a Palma de Ouro em Cannes e um Globo de Ouro. E teve o picante do óscar entregue a Ring Lardner Jr. (1915–2000), um blacklisted, pelo argumento.

sábado, 28 de abril de 2018

HÁ POP EM NÓS

Visitei esta tarde a exposição Pós-Pop. Fora do lugar-comum. Desvios da «Pop» em Portugal e Inglaterra, 1965-1975. Confesso que de lá saí com uma sensação de mixed feelings, e já que de cultura anglo-saxónicas se fala. Irei tornando ao tema da pop-art (que me é caro desde os tempos da Faculdade, quando me valeu um inesperado sucesso na cadeira de História da Arte Contemporânea...).

As alusões cruzadas a outras realidades são comuns na pop. Não esperava era que tal acontecesse "por antecipação". Foi isso que aconteceu com a obra Concorde, Walden I and Walden II, de 1971. Tom Phillips (n. 1937) estava a antecipar, sem o saber o logo da NOS. Há Pop-Art em nós? Em todos nós, decerto.


TANTÍSSIMO LIVRO...

Ontem, na Póvoa de S. Miguel, e no meio de uma discussão que não me dizia diretamente respeito, um indivíduo qualquer trouxe a terreno o meu nome. Porquê? Porque enquanto presidente da câmara editei um livro da minha autoria. É verdade! Editei, em conjunto com dois outros colegas, um trabalho sobre as escavações arqueológicas no Castelo de Moura. Uma edição não comercial e largamente financiada pelos fundos comunitários. Foi o único livro meu (como autor, co-autor ou coordenador) que a Câmara Municipal de Moura editou? NÃO! Foram 13 (treze), todos eles sobre o concelho e destinados, sobretudo, a divulgar e a valorizar as nossas terras, a nossa cultura e a nossa identidade. Tive todo o prazer em o fazer. Sem qualquer compensação financeira. Ao contrário do que aconteceu quando trabalhei para outras entidades que editaram trabalhos meus.

Nunca mais aprendo...


Moura anos 30 - fotografias de Zambrano Gomes (texto de apresentação, seleção de fotografias e de textos), Moura, Câmara Municipal de Moura, 1988
Moura na época romana (coord.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 1990
Zambrano Gomes, fotógrafo de Moura (concepção, coordenação e texto), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2000
Moura - crónica da festa (concepção, coordenação e texto), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2001
Fortificações modernas de Moura (em colab.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2005
Convento de Santa Clara - um conjunto cerâmico do século XVII (em colab.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2005
Moura-Bissau, Moura, Câmara Municipal de Moura, 2010
Santo Aleixo da Restauração (em colab.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2010
Parcerias para a regeneração urbana (coord.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2013
Castelo de Moura. Escavações arqueológicas 1989-2012 – catálogo (em colab.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2013
Castelo de Moura. Escavações arqueológicas 1989-2013 – texto (em colab.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2016
Água – património de Moura, Moura, Câmara Municipal de Moura, 2017
Amareleja - fotografias de José Manuel Rodrigues (coord.), Moura, Câmara Municipal de Moura, 2017

Já agora, resumo do cv em: http://santiagomacias.org/docs/sm_cv_1209.pdf

CONTAS APROVADAS


Foi isto que aconteceu, ontem à noite, na Assembleia Municipal de Moura. Foram aprovadas as contas referentes a 2017. Com os votos favoráveis do PS e do PSD. Com a abstenção da CDU, que muito justamente não se reviu em algumas afirmações do relatório. Foi pena que não tivesse sido apresentada declaração de voto sobre esta matéria.

Retomarei isto, dentro de dias, de outra forma, e de modo mais aprofundado. Porque há coisas que não podem passar em claro. Porque tem de haver, na política, decência, elevação e compostura. E, volto a insistir, preparação.

Em 15 de novembro de 2017, o atual Presidente da Câmara dizia à Planície:
"(...) a saúde financeira da Câmara Municipal é pior do que aquela que o anterior executivo quer fazer crer. Álvaro Azedo garantiu que nos próximos dias irá solicitar à Inspecção Geral de Finanças a realização de uma auditoria ao universo da Câmara Municipal de Moura, para que o novo executivo tenha a noção exacta da realidade. O autarca garante que não se trata de nenhum ajuste de contas com o passado, é sim a necessidade de conhecer a realidade do município em rigor, prometendo tornar publico o relatório que resultar da auditoria".

Em 15 de dezembro de 2017, insistia o atual Presidente da Câmara:

"(...) o executivo da Câmara de Moura reforça o que sempre disse. Afirmando que as contas do município condicionarão a actuação do actual executivo durante o presente mandato, afirmando que "infelizmente algumas surpresas menos positivas têm sido encontradas". Os socialistas garantem ainda que em Abril de 2018, aquando da apresentação das contas do ano de 2017, ficará claro para todos o estado financeiro do Município de Moura (...)"

Vale a pena perguntar, e ao tema tornarei com muito maior detalhe:
Onde está a auditoria que foi pedida à Inspeção-Geral de Finanças?
Onde estão os resultados?
Quais foram as surpresas menos positivas?
Onde é que isso está escrito no relatório e contas referente a 2017 e que, no essencial, diz respeito ao executivo que chefiei?

sexta-feira, 27 de abril de 2018

MÉRTOLA - A MENOS DE UM MÊS DOS 40 ANOS

Acaba de me ser enviado o programa do encontro sobre os 40 anos do Campo Arqueológico de Mértola. Que com todo o prazer ajudo a divulgar:

COMO SE ACABA UMA TESE

Era um dos livros mais populares e mais usados na Faculdade de Letras de Lisboa. A obra de Umberto Eco não é exatamente um livro de metodologia. Sempre me pareceu mais uma dissertação ou um divertimento intelectual que outra coisa. Confesso que, do ponto de vista prático, me foram muito mais úteis o Guia do Estudante de História Medieval Portuguesa, de A.H. Oliveira Marques, e Noções de metodologia para a eleboração de um trabalho científico, do jesuíta Júlio Fragata. Tive a sorte de ter Oliveira Marques como professor no mestrado, em 1991/92, na Universidade Nova.

Licenciatura na Faculdade de Letras, Mestrado na Nova, Doutoramento em Lyon. 1985/1995/2005. No meio de uma geograficamente errática carreira (nunca gostei de endogamias, nem de amarras, e escolhi sempre sítios diferentes para cada grau, prática que continuarei um dia com a habilitation...), sempre tive como certo que a parte mais difícil de um trabalho é o seu remate. A meio das teses teme-se, muitas vezes, o naufrágio (aconteceu-me em 2003...), o final é sempre tumultuoso, em ritmo operático. Já perto do fim, o computador, uma porcaria dum COMPAQ, estoirou. Dois capítulos foram ao ar. Investi num MAC, dando(-me) razão: não há nada como os MAC. Ainda dura, ao fim de 15 anos...

Coda: salvar texto em cima de texto. Para evitar "perder-me" (aquela cena do Final1, Final 2, etc. dá sempre barraca) adaptei um sistema semelhante ao que usava no projeto Discover Islamic Art, no qual trabalhava em paralelo. Mantinha, por precaução, ficheiros anteriores. Aos novos dava um número com dia/mês/ano/hora de armazenamento. O ficheiro mais recente tem este "estranho" código: 2704051248. Ou seja, na prática, terminei a minha tese numa quarta-feira, 27 de abril de 2005 AD, às 12.48. Na próxima, vou tentar ser mais disciplinado. Escrever menos. E levar menos tempo.


MIMETISMO MOURENSE


As assembleias municipais de grande dimensão organizam-se assim, por razões de ordem prática. A mesa da assembleia fica atrás, a vereação está em baixo.

Isto acontece em assembleias que têm, com frequência, umas largas dezenas de eleitos (Barcelos tem 123, Guimarães 97, Guarda 87, Bragança 79...). Nesta nossa vida há sempre quem tenha a tentação de imitar os grandes. E ceda a essa tentação. Daí ao "pedestal" é um pulinho. É a vida... Neste caso, a vida mourense.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O MUSEU EM BUSCA DE NOME E SEMPÉ

A recente polémica em torno do Museu da Descoberta / Interculturalidade / Viagem / Descobrimentos etc. trouxe-me à memória este cartoon de Sempé, datado de 1966. Mais que atual, como se vê. Do critch ao zgrouitch vai um pulinho.




MAS QUAL LUTA, PÁ?

De uma coisa tenho a certeza: tenho MUITO mais respeito por Vitor Gaspar que por este tanguista. Vitor Gaspar, ao menos, é coerente.

Ah, uma coisa positiva em Varoufakis: tem bom gosto nos padrões das camisas.

NO ADEUS A ABBAS

O desaparecimento de Attar Abbas (1944-2018), ontem ocorrido, não vai ter grande impacto por estas bandas. Com a exceção que os seguidores da Fotografia irão ser. As imagens deste repórter iraniano estão ao alcance de um clic. A muitas delas se aplica, com toda a propriedade, a ideia que uma imagem vale por mil palavras. Estas duas, do Irão e da África do Sul do apartheid valem por si.


INDIELISBOA

Começa hoje e, recordo, termina a 6 de maio com um toque mourense. Sérgio Tréfaut já venceu a competição por três vezes. Em 2016 com um filme que é uma obra-prima.

TREBLINKA, 2016
Melhor filme português - IndieLisboa, 2016

ALENTEJO, ALENTEJO, 2014 (documentário)
Melhor filme português – IndieLisboa 2014

LISBOETAS, 2004 (documentário)
Melhor filme português – IndieLisboa 2004

Site do festival: http://indielisboa.com

quarta-feira, 25 de abril de 2018

CRÓNICAS OLISIPONENSES - II


Foi ao fim da tarde. Não é muito habitual aquele género de apertos. Mas o combóio ia cheio. Entrei, conforme pude. Ao meu lado, estava uma senhora negra, baixinha e magrinha. Na casa dos 60. Mal o combóio arrancou, começou a cantar. E a dançar, tanto quanto lhe era possível. Entoava uma lengalenga:

Vamo' como sardinha em lataaaaa
E pagamo' 50 euroooooooo
Vamo' como sardinha em lataaaaa
E a cépééé não qué sabbbeeeee'
Vamo' como sardinha em lataaaaa

Uns dos companheiros de viagem olhava de viés. Outros faziam que sim, em concordância. Limitei-me a sorrir. Sempre me cairam no goto os gestos espontâneos e livres.

JOÃO ABEL MANTA - HOMENAGEM


Dizer que João Abel Manta (n. 1928) foi o cartoonista do 25 abril é redutor para tão genial obra (que foi muito para lá destes desenhos). Do ponto de vista pessoal, foi dos autores mais importantes na minha aprendizagem plástica, cívica e política. Assim, tudo ao mesmo tempo. Os seus cartoons foram um poderoso, ácido e inteligente elemento de denúncia. Fizeram-nos sorrir, de forma um pouco triste. E ajudaram-nos a tomar consciência. Não há 25 de abril sem João Abel Manta. Viva ele, neste Dia.

25 POP

Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!


Assim termina o conhecido poema de José Carlos Ary dos Santos (1937-1984). Algumas se cerraram. Boa parte do essencial ficou. A começar pela Liberdade.


Nikias Skapinakis (1931)
«Delacroix no 25 de Abril em Atenas», 1975. Óleo sobre tela, 145 x 235 cm. Coleção Particular.

terça-feira, 24 de abril de 2018

ABBA (a partir de uma ideia de Nuno Ramos de Almeida)

ANTES
DEPOIS

PORRADA NO 24 DE ABRIL

Esta extraordinária fotografia está no facebook do Comandante José Correia Guedes. De acordo com o próprio "ao que me disseram quando lá cheguei, o VW levou um pequeno 'toque' de uma Chaimite e depois os transeuntes fizeram o resto". Isto passou-se no dia 25 de abril de 1974. Mas atingia-se, na realidade, o 24 de abril. O jornal "Época" era o porta-voz do regime fascista. Finou-se no mês de maio desse ano.

CRÓNICAS OLISIPONENSES - I

A moda das hortas urbanas em tom pequeno burguês é coisa recente. Fazem, contudo, parte da minha memória remota. Havia-as em torno de Queluz, ao longo da ribeira de Carenque, há mais de 40 anos. Foram ficando, último reduto de resistência dos emigrantes cabo-verdianos. E dos beirões e dos alentejanos arreigados ao sítio de origem.

Estas hortas, já antigas, dão um toque de desordem mediterrânica nos subúrbios de toque tecnológico. Em Miraflores, ao lado das torres hi-tech, há hortas assim. Hoje, pela manhã, no meio de improvisadas barracas-armazém. saltaricavam galinhas anafadas. Punch-line. À saída da CRIL há cadeiras de plástico vermelhas penduradas em árvores, ao jeito de espantalhos. E, em engenhosas torres de babel, banheiras em esmalte (v. fotografia) que servem de depósitos de água para rega. Um mundo de improvisação, criatividade e esforço. Um toque do sul no cinzento setentrional.

O PAÍS ERA ESTE

O País era este. E era assim.

Lembro-me bem deste Portugal. São-me, por isso, estranhas as avaliações que se fazem da transição dos anos 60 para os anos 70, com base no PIB (que cresceu imenso) e num País que avançou, do ponto de vista económico. E que cresceu. E onde se vivia melhor... Uns quantos sim, a maioria não.

O Outro Portugal teve de sair. Para França, para a Suíça, para a Alemanha. O Outro Portugal só teve direito a uma existência minimamente decente a partir de 25 de abril de 1974. As manchas de barracas que existiram até aos anos 80 só desapareceram porque houve o 25 de abril. E porque houve o Poder Local Democrático. Não me macem com o PIB e outras coisas que tais, sff...

Fotografia: Alfredo Cunha

segunda-feira, 23 de abril de 2018

RAIVA


Foi rodado na nossa Margem Esquerda e teve o apoio da Câmara Municipal de Moura. O filme baseia-se na obra "Seara de vento". Tenho dois filmes do Sérgio na minha lista dos inesquecíveis: Lisboetas e Treblinka. Este ainda não vi, mas espero ver. As imagens do trailer são espantosas. A palavra apropriada é aturdido. Foi essa a sensação ao ver a fotografia de Acácio de Almeida (n. 1938). Um criador de imagens ao nível dos melhores.

Ver: http://indielisboa.com/movies/raiva/

Sérgio Tréfaut (LisboetasAlentejo, Alentejo e Treblinka venceram a competição nacional do festival) realiza a sua segunda longa de ficção depois de Viagem a Portugal (IndieLisboa 2011). Estamos no Alentejo, nos anos 50, e a planície é fustigada pelo vento, pelo desemprego e pela fome. As famílias ricas controlam a propriedade da terra e às famílias pobres só resta o desespero ou a revolta. Adaptando o clássico do neo-realismo português, Seara de Vento de Manuel da Fonseca, e fotografado pelo lendário Acácio de Almeida em preto-e-branco, o filme inclui um elenco de luxo com nomes como Catarina Wallenstein, Rogério Samora, Adriano Luz, Leonor Silveira, Isabel Ruth, Luís Miguel Cintra e Herman José.

LIVRO


Não sou grande fã dos dias disto e daquilo. Passo ao lado da maior parte. Abro uma exceção para referir o do livro. Que é hoje. Com a leitura do dia. Que é esta. Um livro sob a forma de entrevistas. Um registo muito interessante, com histórias de resistência ao fascismo. A história de Cláudio Torres já conhecia e só por isso não foi a que me causou maior entusiasmo. Esse lugar ficou, assim, reservado à narrativa de Luís Cília. Ácida, inteligente e atenta.

Sem que isto constitua um reparo, e sendo apenas uma observação, nestes livros e nestas abordagens falta sempre a voz do povo anónimo. Dos que foram para Champigny-sur-Marne porque o seu País não lhes deu uma vida digna desse nome. É uma outra História, que está ainda por fazer.

domingo, 22 de abril de 2018

AMARELEJA GLOBAL

Só ao chegar a casa é que reparei. O vinho do Douro é produzido por uma empresa da Amareleja. O que comprei não foi exatamente este, mas o de 2015.

O vinho é bom.

E a Amareleja fica, assim, a 330 kms. da Amareleja.

DOMINGO CROMÁTICO: O FASCISMO E O AMARELO

Pondo as coisas claras:

1) A causa da independência catalã não me merece a mínima simpatia.
2) Nunca gostei do Barcelona, sendo conhecida entre os amigos a minha antiga predileção pelo Atlético de Madrid (só em Moura somos uns 5 ou 6 adeptos...).

Posto isto, fiquei estupefacto com os acontecimentos de ontem, antes da final da Copa del Rey, que o clube catalão ganhou ao Sevilha. Os adeptos que levavam camisolas amarelas foram obrigados a despi-las. Por causa da mensagem política que lhes estava associada.

Fascismo amarillo a la Rajoy...

DOMINGO CROMÁTICO: MANIPULAÇÃO EM TONS DE ROSA E AZUL

O semanário "Expresso" tinha, na sua página 4 de ontem, os habituais altos e baixos. Os primeiros em tons de azul, os segundos numa cor próxima ao rosa. Curiosamente, na página anterior, num debate sobre a prospeção de petróleo na costa algarvia, o autor que está a favor via as suas palavras sublinhas a azul, a autora que está contra tinha as suas no rosa dos baixos da página seguinte. O efeito é claro, entre o sim e o não, o alto e o baixo. Vão, claro, dizer-me, que isto é tudo uma coincidência e que tenho a mania das conspirações. Foi, decerto, uma coincidência. Adoro coincidências.


sábado, 21 de abril de 2018

CIDADE GLOBAL


Não faz sentido "pegar" na cidade antiga sem ser sob esta perspetiva. A da cidade global de outrora, que não é menos global hoje. Redescubro agora o sítio. Com o prazer do regresso a sítios há muito conhecidos. Próximas paragens (segunda e terça): a Direção Municipal de Cultura, o depósito de materiais arqueológicos do Rego, o Instituto de Ciências Sociais, a Associação de Turismo de Lisboa, o Museu do Aljube e a Assembleia Municipal. A Carris vai ter "prejuízo" comigo...

Entre a luz e o lioz, retomo velhos caminhos. Os meus e, muito mais importante, os da História.


O Terceiro Corvo

Oh Lisboa
como eu gostava de ser
o terceiro corvo do teu emblema…
estar implícita na tua bandeira
negra e branca
como tinta e papel
como escrita e espaço!

Ser teu desenho
tua nova lenda
invenção deste século
que já não inventa
e se interroga:
donde vieram estes corvos?

Como tu, Vicente,
eu também não sou de cá
não sou daqui
não pertenço a esta terra
e talvez nem sequer a este mundo…

Porém estou aqui
nesta dolorosa praia lusitana
cheia de um tumulto inútil
que enegrece as tuas areias
e polui o ventre do rio
que os golfinhos há muito desertaram

E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento
sentindo a terna dor do teu sentir sentido
peço-te, Lisboa:
surge de novo bela
reinventa
a santidade perdida do teu emblema

Ana Hatherly (1929-2015)

TIPO NO 50, TIPO A CAMINHO DA BURACA

Ouvido esta manhã:

Ela tava assim tipo mal com a mãe, mas o irmão não. O irmão tava tipo bem.

Bom, mas ainda a anos luz do "o problema disto é a falta de mentalidade das pessoas!"

16 ANOS DE EQUIPA

A fotografia data do verão de 2004. Já lá vão 14 anos. Conheci a Marta e a Luísa (ambas da Conceição, porque nascidas em 8 de dezembro) em 2002. Uma tinha 21 anos, a outra 20. Não sei que diabo disseram às moças, mas quase não respiravam quando falava com elas. A campanha de 2002 foi atípica, um trabalho de pica-aqui, pica-ali preparando a reabilitação do Castelo de Moura. Tarefa terminada, no essencial, em 2004. A partir de 2003, arrancámos com a alcáçova. Recordo-me delas, no final desse verão, cheias de receio quando lhes disse que no dia seguinte iria para a Síria "ai, Santiago, como é que você não tem medo de ir para esses sítios?...".

Fui acompanhando o percurso e o crescimento de ambas. Pude constatar como as miúdas desses anos, de início medrosas e sempre hesitantes, se tornaram em duas profissionais qualificadas e de alto gabarito. O essencial da sua formação estivera a cargo de Miguel Rego, que ainda acompanhou os anos iniciais da aventura mourense. Depois vieram Vanessa Gaspar, mais tarde José Gonçalo Valente e Mário Romero Machado. Em tempos recentes, Rogério Silva.

Quanto a elas, quando me vi enrascado num desenho crucial, que me faltava para a tese, pedi-lhes ajuda. Fizeram um trabalho de elevada qualidade. Disse na altura,  e repito agora, "se um dia for escavar para as Caraíbas, vocês farão parte da equipa". Por causa da qualidade técnica e, ainda mais que isso, da qualidade humana.

Andamos nisto há 16 anos. Não dispenso a vossa presença. Muito menos a vossa amizade. Estaremos na mesma equipa, onde quer que andemos.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

ENOCH POWELL - OS RIOS DE SANGUE, 50 ANOS CORRIDOS


A leitura deste discurso, em 20 de abril de 1968, levou à demissão de Enoch Powell (1912-1998) do Gabinete Sombra conservador. Powell era um refinado racista, que viria a ter, muitos anos passados, o apoio de Thatcher. A qual não se coibiu de dizer que Powell tinha "made a valid argument, if in sometimes regrettable terms." Não vale a pena insultar quem já morreu...

O discurso acabou, paradoxalmente, por ser um bom suporte a todos os combates contra o racismo e o colonialismo. Agitou consciências e tornou claro que a mentalidade colonial iria, em breve, movimentar-se e organizar-se de outro modo. Nesse sentido, ainda bem que foi lido... Veio dar mais força ao lado contrário. E tornou claro que mesmo debaixo do mais "civilizado" cidadão britânico permanecia um medo antigo, e não ultrapassado, a tudo o que não fosse nórdico e níveo...


The supreme function of statesmanship is to provide against preventable evils. In seeking to do so, it encounters obstacles which are deeply rooted in human nature. 
One is that by the very order of things such evils are not demonstrable until they have occurred: at each stage in their onset there is room for doubt and for dispute whether they be real or imaginary. By the same token, they attract little attention in comparison with current troubles, which are both indisputable and pressing: whence the besetting temptation of all politics to concern itself with the immediate present at the expense of the future. 
Above all, people are disposed to mistake predicting troubles for causing troubles and even for desiring troubles: "If only," they love to think, "if only people wouldn't talk about it, it probably wouldn't happen." 
Perhaps this habit goes back to the primitive belief that the word and the thing, the name and the object, are identical. 
At all events, the discussion of future grave but, with effort now, avoidable evils is the most unpopular and at the same time the most necessary occupation for the politician. Those who knowingly shirk it deserve, and not infrequently receive, the curses of those who come after. 
A week or two ago I fell into conversation with a constituent, a middle-aged, quite ordinary working man employed in one of our nationalised industries. 
After a sentence or two about the weather, he suddenly said: "If I had the money to go, I wouldn't stay in this country." I made some deprecatory reply to the effect that even this government wouldn't last for ever; but he took no notice, and continued: "I have three children, all of them been through grammar school and two of them married now, with family. I shan't be satisfied till I have seen them all settled overseas. In this country in 15 or 20 years' time the black man will have the whip hand over the white man." 
I can already hear the chorus of execration. How dare I say such a horrible thing? How dare I stir up trouble and inflame feelings by repeating such a conversation? 
The answer is that I do not have the right not to do so. Here is a decent, ordinary fellow Englishman, who in broad daylight in my own town says to me, his Member of Parliament, that his country will not be worth living in for his children. 
I simply do not have the right to shrug my shoulders and think about something else. What he is saying, thousands and hundreds of thousands are saying and thinking - not throughout Great Britain, perhaps, but in the areas that are already undergoing the total transformation to which there is no parallel in a thousand years of English history. 
In 15 or 20 years, on present trends, there will be in this country three and a half million Commonwealth immigrants and their descendants. That is not my figure. That is the official figure given to parliament by the spokesman of the Registrar General's Office. 
There is no comparable official figure for the year 2000, but it must be in the region of five to seven million, approximately one-tenth of the whole population, and approaching that of Greater London. Of course, it will not be evenly distributed from Margate to Aberystwyth and from Penzance to Aberdeen. Whole areas, towns and parts of towns across England will be occupied by sections of the immigrant and immigrant-descended population. 
As time goes on, the proportion of this total who are immigrant descendants, those born in England, who arrived here by exactly the same route as the rest of us, will rapidly increase. Already by 1985 the native-born would constitute the majority. It is this fact which creates the extreme urgency of action now, of just that kind of action which is hardest for politicians to take, action where the difficulties lie in the present but the evils to be prevented or minimised lie several parliaments ahead. 
The natural and rational first question with a nation confronted by such a prospect is to ask: "How can its dimensions be reduced?" Granted it be not wholly preventable, can it be limited, bearing in mind that numbers are of the essence: the significance and consequences of an alien element introduced into a country or population are profoundly different according to whether that element is 1 per cent or 10 per cent. 
The answers to the simple and rational question are equally simple and rational: by stopping, or virtually stopping, further inflow, and by promoting the maximum outflow. Both answers are part of the official policy of the Conservative Party. 
It almost passes belief that at this moment 20 or 30 additional immigrant children are arriving from overseas in Wolverhampton alone every week - and that means 15 or 20 additional families a decade or two hence. Those whom the gods wish to destroy, they first make mad. We must be mad, literally mad, as a nation to be permitting the annual inflow of some 50,000 dependants, who are for the most part the material of the future growth of the immigrant-descended population. It is like watching a nation busily engaged in heaping up its own funeral pyre. So insane are we that we actually permit unmarried persons to immigrate for the purpose of founding a family with spouses and fiancés whom they have never seen. 
Let no one suppose that the flow of dependants will automatically tail off. On the contrary, even at the present admission rate of only 5,000 a year by voucher, there is sufficient for a further 25,000 dependants per annum ad infinitum, without taking into account the huge reservoir of existing relations in this country - and I am making no allowance at all for fraudulent entry. In these circumstances nothing will suffice but that the total inflow for settlement should be reduced at once to negligible proportions, and that the necessary legislative and administrative measures be taken without delay. 
I stress the words "for settlement." This has nothing to do with the entry of Commonwealth citizens, any more than of aliens, into this country, for the purposes of study or of improving their qualifications, like (for instance) the Commonwealth doctors who, to the advantage of their own countries, have enabled our hospital service to be expanded faster than would otherwise have been possible. They are not, and never have been, immigrants. 
I turn to re-emigration. If all immigration ended tomorrow, the rate of growth of the immigrant and immigrant-descended population would be substantially reduced, but the prospective size of this element in the population would still leave the basic character of the national danger unaffected. This can only be tackled while a considerable proportion of the total still comprises persons who entered this country during the last ten years or so. 
Hence the urgency of implementing now the second element of the Conservative Party's policy: the encouragement of re-emigration. 
Nobody can make an estimate of the numbers which, with generous assistance, would choose either to return to their countries of origin or to go to other countries anxious to receive the manpower and the skills they represent. 
Nobody knows, because no such policy has yet been attempted. I can only say that, even at present, immigrants in my own constituency from time to time come to me, asking if I can find them assistance to return home. If such a policy were adopted and pursued with the determination which the gravity of the alternative justifies, the resultant outflow could appreciably alter the prospects. 
The third element of the Conservative Party's policy is that all who are in this country as citizens should be equal before the law and that there shall be no discrimination or difference made between them by public authority. As Mr Heath has put it we will have no "first-class citizens" and "second-class citizens." This does not mean that the immigrant and his descendent should be elevated into a privileged or special class or that the citizen should be denied his right to discriminate in the management of his own affairs between one fellow-citizen and another or that he should be subjected to imposition as to his reasons and motive for behaving in one lawful manner rather than another. 
There could be no grosser misconception of the realities than is entertained by those who vociferously demand legislation as they call it "against discrimination", whether they be leader-writers of the same kidney and sometimes on the same newspapers which year after year in the 1930s tried to blind this country to the rising peril which confronted it, or archbishops who live in palaces, faring delicately with the bedclothes pulled right up over their heads. They have got it exactly and diametrically wrong. 
The discrimination and the deprivation, the sense of alarm and of resentment, lies not with the immigrant population but with those among whom they have come and are still coming. 
This is why to enact legislation of the kind before parliament at this moment is to risk throwing a match on to gunpowder. The kindest thing that can be said about those who propose and support it is that they know not what they do. 
Nothing is more misleading than comparison between the Commonwealth immigrant in Britain and the American Negro. The Negro population of the United States, which was already in existence before the United States became a nation, started literally as slaves and were later given the franchise and other rights of citizenship, to the exercise of which they have only gradually and still incompletely come. The Commonwealth immigrant came to Britain as a full citizen, to a country which knew no discrimination between one citizen and another, and he entered instantly into the possession of the rights of every citizen, from the vote to free treatment under the National Health Service. 
Whatever drawbacks attended the immigrants arose not from the law or from public policy or from administration, but from those personal circumstances and accidents which cause, and always will cause, the fortunes and experience of one man to be different from another's. 
But while, to the immigrant, entry to this country was admission to privileges and opportunities eagerly sought, the impact upon the existing population was very different. For reasons which they could not comprehend, and in pursuance of a decision by default, on which they were never consulted, they found themselves made strangers in their own country. 
They found their wives unable to obtain hospital beds in childbirth, their children unable to obtain school places, their homes and neighbourhoods changed beyond recognition, their plans and prospects for the future defeated; at work they found that employers hesitated to apply to the immigrant worker the standards of discipline and competence required of the native-born worker; they began to hear, as time went by, more and more voices which told them that they were now the unwanted. They now learn that a one-way privilege is to be established by act of parliament; a law which cannot, and is not intended to, operate to protect them or redress their grievances is to be enacted to give the stranger, the disgruntled and the agent-provocateur the power to pillory them for their private actions. 
In the hundreds upon hundreds of letters I received when I last spoke on this subject two or three months ago, there was one striking feature which was largely new and which I find ominous. All Members of Parliament are used to the typical anonymous correspondent; but what surprised and alarmed me was the high proportion of ordinary, decent, sensible people, writing a rational and often well-educated letter, who believed that they had to omit their address because it was dangerous to have committed themselves to paper to a Member of Parliament agreeing with the views I had expressed, and that they would risk penalties or reprisals if they were known to have done so. The sense of being a persecuted minority which is growing among ordinary English people in the areas of the country which are affected is something that those without direct experience can hardly imagine. 
I am going to allow just one of those hundreds of people to speak for me: 
“Eight years ago in a respectable street in Wolverhampton a house was sold to a Negro. Now only one white (a woman old-age pensioner) lives there. This is her story. She lost her husband and both her sons in the war. So she turned her seven-roomed house, her only asset, into a boarding house. She worked hard and did well, paid off her mortgage and began to put something by for her old age. Then the immigrants moved in. With growing fear, she saw one house after another taken over. The quiet street became a place of noise and confusion. Regretfully, her white tenants moved out. 
“The day after the last one left, she was awakened at 7am by two Negroes who wanted to use her 'phone to contact their employer. When she refused, as she would have refused any stranger at such an hour, she was abused and feared she would have been attacked but for the chain on her door. Immigrant families have tried to rent rooms in her house, but she always refused. Her little store of money went, and after paying rates, she has less than £2 per week. “She went to apply for a rate reduction and was seen by a young girl, who on hearing she had a seven-roomed house, suggested she should let part of it. When she said the only people she could get were Negroes, the girl said, "Racial prejudice won't get you anywhere in this country." So she went home. 
“The telephone is her lifeline. Her family pay the bill, and help her out as best they can. Immigrants have offered to buy her house - at a price which the prospective landlord would be able to recover from his tenants in weeks, or at most a few months. She is becoming afraid to go out. Windows are broken. She finds excreta pushed through her letter box. When she goes to the shops, she is followed by children, charming, wide-grinning piccaninnies. They cannot speak English, but one word they know. "Racialist," they chant. When the new Race Relations Bill is passed, this woman is convinced she will go to prison. And is she so wrong? I begin to wonder.” 
The other dangerous delusion from which those who are wilfully or otherwise blind to realities suffer, is summed up in the word "integration." To be integrated into a population means to become for all practical purposes indistinguishable from its other members. 
Now, at all times, where there are marked physical differences, especially of colour, integration is difficult though, over a period, not impossible. There are among the Commonwealth immigrants who have come to live here in the last fifteen years or so, many thousands whose wish and purpose is to be integrated and whose every thought and endeavour is bent in that direction. 
But to imagine that such a thing enters the heads of a great and growing majority of immigrants and their descendants is a ludicrous misconception, and a dangerous one. 
We are on the verge here of a change. Hitherto it has been force of circumstance and of background which has rendered the very idea of integration inaccessible to the greater part of the immigrant population - that they never conceived or intended such a thing, and that their numbers and physical concentration meant the pressures towards integration which normally bear upon any small minority did not operate. 
Now we are seeing the growth of positive forces acting against integration, of vested interests in the preservation and sharpening of racial and religious differences, with a view to the exercise of actual domination, first over fellow-immigrants and then over the rest of the population. The cloud no bigger than a man's hand, that can so rapidly overcast the sky, has been visible recently in Wolverhampton and has shown signs of spreading quickly. The words I am about to use, verbatim as they appeared in the local press on 17 February, are not mine, but those of a Labour Member of Parliament who is a minister in the present government: 
'The Sikh communities' campaign to maintain customs inappropriate in Britain is much to be regretted. Working in Britain, particularly in the public services, they should be prepared to accept the terms and conditions of their employment. To claim special communal rights (or should one say rites?) leads to a dangerous fragmentation within society. This communalism is a canker; whether practised by one colour or another it is to be strongly condemned.' 
All credit to John Stonehouse for having had the insight to perceive that, and the courage to say it. 
For these dangerous and divisive elements the legislation proposed in the Race Relations Bill is the very pabulum they need to flourish. Here is the means of showing that the immigrant communities can organise to consolidate their members, to agitate and campaign against their fellow citizens, and to overawe and dominate the rest with the legal weapons which the ignorant and the ill-informed have provided. As I look ahead, I am filled with foreboding; like the Roman, I seem to see "the River Tiber foaming with much blood." 
That tragic and intractable phenomenon which we watch with horror on the other side of the Atlantic but which there is interwoven with the history and existence of the States itself, is coming upon us here by our own volition and our own neglect. Indeed, it has all but come. In numerical terms, it will be of American proportions long before the end of the century. 
Only resolute and urgent action will avert it even now. Whether there will be the public will to demand and obtain that action, I do not know. All I know is that to see, and not to speak, would be the great betrayal.