sexta-feira, 31 de maio de 2019

ANTÓNIO BORGES COELHO - DIA DE CONDECORAÇÃO

Foi esta tarde, no apropriado cenário da Biblioteca da Ajuda. A Ministra da Cultura entregou a António Borges Coelho a Medalha de Mérito Cultural. Que se veio juntar a outras condecorações que lhe tinham sido atribuídas. Fiz questão em estar, pela enorme admiração que tenho pelo António. Porque sem o seu "Portugal na Espanha Árabe" nunca teria escolhido este caminho. E pelo telefonema descontraído de há umas semanas "oh pá, a ministra vai-me dar uma medalha, vê lá se podes aparecer na Ajuda".

Foi bom ter ido. Ouvi-o falar dos seus historiadores de referência, Fernão Lopes, João de Barros e Alexandre Herculano. Ouvi-o invocar a família, os amigos, os alunos... E ouvi a ministra fazer um quentíssimo e emotivo discurso. Não estava à espera e achei o texto lido por Graça Fonseca de enorme qualidade. Ainda bem, porque o António mereceu.

CARO LEITOR DE "A PLANÍCIE"

Peço desculpa por, uma vez mais, tornar a temas que têm sido mais que conversados e que, pensava eu, estavam arrumados. Não estão, porque há quem pense que uma mentira muitas vezes repetida pode tornar-se verdade. Não é assim, como facilmente veremos.


Num muito recente artigo de opinião, decidiu o Presidente da Câmara de Moura atacar o seu antecessor. Que é o autor deste artigo. O tempo passa e a obsessão mantém-se. Já lá vão 570 dias desde que deixei funções. Nem assim Álvaro Azedo sossega. Ele lá saberá porquê…

Não me merecem comentários frases de Álvaro Azedo, a meu respeito, como “suspendeu um mandato (…) porque tinha de tratar da sua vidinha” ou “se acha tão melhor que os outros ao ponto do seu partido lhe ter virado as costas”. Não há resposta para este nível de escrita.

Mais complicado é Álvaro Azedo continuar a insistir na mentira de “os executivos CDU nunca honraram o compromisso de pagar a água que compraram à AGDA e venderam à população”. Vou voltar a repetir números e factos, para que não restem dúvidas. Foi feito um acordo para pagamento da dívida, votado em 2014 pela Câmara Municipal e pela Assembleia Municipal, e que contou com os votos favoráveis do PS. A Câmara Municipal pagou, entre 2015 e 2017, um total de 3.578.000 euros à AGDA. Quando deixei de ser Presidente da Câmara, a dívida ainda existente era de 1.163.000 euros. Em 31 de dezembro de 2018 era de 1.708.000 euros. Sob a gestão de Álvaro Azedo a dívida aumentou 545.000 euros. Estes são os números oficiais e não vale a pena andar com malabarismos.

Descabidas são as afirmações a propósito da Torre do Relógio da Amareleja. Custa a crer que o projeto tenha sido “feito contra a vontade do povo”, como escreve Álvaro Azedo. Muito pior é dizer, a meu respeito: “conseguiu assinar dois protocolos distintos com dois párocos da Amareleja” e “aproveitou as férias de um para assinar um novo protocolo com outro, alterando o compromisso que tinha com a Fábrica da Igreja da Amareleja”. Ou seja, atribui-me a infame atitude de, à socapa, andar a modificar documentos para enganar pessoas.

Existem, efetivamente, dois protocolos, porque o primeiro documento não era totalmente adequado às condições exigidas para a candidatura a apresentar aos fundos comunitários, tendo em vista o financiamento da obra. Só assim se entende que os dois protocolos (o de 2015 e o de 2016) tenham sido aprovados por unanimidade (votos da CDU e do PS) nas reuniões de câmara.

Facto fundamental, conseguimos um apoio para a concretização da obra na ordem dos 85%, pagando a Câmara apenas os 15% remanescentes. A única alteração relevante no segundo documento é a diminuição do direito de superfície (ou seja, da posse do edifício) de 30 para 12 anos. Ou seja, a Fábrica da Igreja recupera a posse plena da Torre 18 anos antes do que estava previsto. Estiveram, em todo este processo, subjacentes princípios de boa fé e de lealdade, que são devidos à Fábrica da Igreja da Amareleja, o que fica claro não só porque tem de volta o edifício completamente recuperado muito antes do que estava previsto, como pelo facto (e isso ficou escrito no segundo documento) de ser a Fábrica da Igreja “a única usufrutuária do espaço da Igreja do Relógio da Amareleja” (cláusula sexta). Ou seja, em que é que enganei as pessoas, sr. Álvaro Azedo?

Dediquei 24 anos de vida ao concelho (12 na Assembleia Municipal, dos quais 4 como presidente; 12 na Câmara, dos quais 4 como presidente). Entendo os lugares autárquicos como sítios de honra. A forma como Álvaro Azedo pretende atingir-me – querendo lançar sobre mim lama e suspeições – não é séria nem decente.

Deixo uma garantia final. Continuarei presente em Moura. E estarei sempre empenhado no futuro da minha terra.


Crónica em "A Planície" (1.6.2019)

quinta-feira, 30 de maio de 2019

O VINHO DA AMIZADE - uma história amarelejense

Aconteceu há uns meses e não identificarei a pessoa em causa, porque não tenho a certeza que lhe agradasse essa "exposição". O telefonema, no final do ano, deixara-me surpreendido e intrigado. Era de uma pessoa com quem não tinha falado assim tantas vezes quanto isso. Um senhor mais velho, de gestos suaves e de grande cordialidade. Uma pessoa "à antiga", se assim se pode dizer. Queria oferecer-me um par de garrafas da sua produção. Fiquei sensibilizado mas, sobretudo, enormemente surpreendido.

Algum tempo depois, passei pela Amareleja. Levava alguns dos meus livros, para um intercâmbio, que se revelou ainda mais desequilibrado do que eu imaginava. É que o par de garrafas eram umas caixas... Vinho forte, denso, encorpado e saboroso mas, sobretudo, temperado pela amizade.

De cada vez que abro uma garrafa, penso no que me diz uma velha amiga, sobre a não-política depois da política. Que são gestos assim que marcam, porque alguma coisa ficou na relação entre as pessoas. Entre algumas pessoas, melhor dizendo. Muito para lá de um voto, de um cargo e de um mandato. Isso conta, o resto conta muito menos.



quarta-feira, 29 de maio de 2019

FERTAGUS 2025

A baixa do preço dos passes teve um efeito positivo: mais gente aderiu ao transporte público, em detrimento da viatura própria. Mas como, como quase sempre, há mais preocupação com a propaganda que com a realidade das coisas, rapidamente se constatou que não há capacidade de resposta para o aumento da procura. [Aqui entre nós, com tanto especialista e tanto estudo, não prever uma coisa destas dá vontade de rir, mas isso é porque eu sou de História].

E pronto. Solução? Retirar bancos, para os passageiros irem dempéi, como se diz na minha zona. Temos ainda a possibilidade de colocar em prática a solução indo-paquistanesa. Que era a dos combóios de Sintra nos anos 70.

Quem toma decisões, só anda em transportes públicos na altura das campanhas eleitorais. É só isso.

FERTAGUS - antevisão

FERTAGUS - hoje

ANTEVISÃO DE DIAS QUE VIRÃO

Fala a preguiça

Eu gosto tanto, tanto, tanto
de estar quieta, muito parada,
de fazer nada, coisa nenhuma,
e de fazer isso, que é não fazer
e de não estar, não ir, também.
Eu cá faço nada e todos
me dizem que faço isso muito bem.

Faço arroz de nada, pudim de nada
(que não é nada, está-se mesmo a ver)
e é tudo muito bom, delicioso,
só por não ser preciso fazer.

Eu faço nada, sou um nadador,
mas não daqueles que nadam mesmo,
O que é cansativo, tão maçador;
é que nadar, cá para mim,
tem um defeito insuportável:
aquele erre que está no fim.

E não digam que não faço nada
porque eu faço isso o mais que posso
e se não faço mais é porque mesmo nada
fazê-lo muito é uma maçada.
Não quero ir. Ainda é cedo.
Que pressa é essa? Não pode ser!
Deixem-me estar porque eu hoje tenho
bastante nada para fazer.


Álvaro Magalhães


La sieste (d'après Millet) - Van Gogh (1890)

A contradição com o dia que agora começa é flagrante. Mas o poema não é sobre hoje, mas sim sobre outros dias que hão-de vir.

terça-feira, 28 de maio de 2019

388.81 EUROS

No facebook há coisas engraçadas. A "surpresa" de hoje, seguida do "protesto" habitual é uma abertura de concurso para bolseiros na Faculdade de Ciências e Tecnologia. O valor da bolsa é de 388.81 euros, por mês. Ou seja, e considerando um horário normal de trabalho, o extraordinário valor de 2,52 € à hora. O valor é baixo? É baixíssimo. Mas não é de agora, vigora desde 2013! E em 2007, o montante mensal de uma BIC era de 385 € ao mês.

Escândalo? Sim, mas com barbas...

segunda-feira, 27 de maio de 2019

DAS "MESQUITAS" A "929" E DAQUI PARA O PRÓXIMO

Os últimos dois dias foram mais ou menos assim:



Não é que andássemos, o Fernando Branco Correia e eu, a calacear... Mas as chamadas "dúvidas filosóficas", e o pouco espaço de escrita (170.000 caracteres para texto, notas e bibliografia), causavam algum constrangimento. Mas já está. O original seguiu para a editora às 08:26.

O final da primavera, e o sossego do verão, irão permitir arrumar um livro e avançar cinco exposições (para abrir uma e avançar com a produção de outras quatro, com calendários previstos para julho de 2019, janeiro de 2020, março de 2020 e duas em agosto de 2020). Todas elas com catálogo. Depois, nada. Já prometi a toda a gente cá em casa que vou tentar sossegar...

Moura está no horizonte de quatro destes projetos. Diretamente em dois, indiretamente noutros dois.

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XXX

As vindas a Lisboa - vínhamos a Lisboa muito raramente, eu só vim uma vez em 1968 para vir "ao especialista", porque se suspeitava que tinha problemas no coração, e depois mais uma ou duas vezes, e ficávamos na casa da prima Isabel, nos Olivais - eram pretexto para colecionar bilhetes do metro e dos autocarros. Os do metro custavam 1$50 ou 2$00. O equivalente a 0,01 € ou 0,0075 €. Os troféus eram depois exibidos na escola primária. O campeão nas viagens era o Rui, que já tinha ido a Coimbra.

O metro tinha uma rede em Y. Bifurcava na estação da Rotunda (hoje Marquês de Pombal). As estações terminais eram, em 1968, Sete Rios (hoje Jardim Zoológico), Entre Campos e Anjos. Havia 15 estações, em vez das 56 atuais.

Na quinta-feira passada, a caminho de um júri de mestrado na Nova, resolvi sair do lado oposto da Praça de Espanha. O dia estava bonito e tinha tempo de sobra para chegar à Universidade. À saída reparei nesta raridade. Uma sinalização à antiga. Pelo menos, com uns 25 anos... Ou mais, que este logótipo ainda é o de origem. Há coisas assim, que estão fora de moda, parece que estão sempre atuais.

domingo, 26 de maio de 2019

PARA OS DEVIDOS EFEITOS SE DECLARA QUE...

Tornaram-se comuns, nas primeiras semanas a seguir ao 25 de abril de 1974, as declarações nos jornais, sob a forma de anúncio, segundo a qual cidadãos declaravam nunca ter sido agentes da PIDE/DGS. Havia, por vezes, confusões de nomes ou de fisionomia, que causavam situações desagradáveis.

Ao saber, pelo facebook do meu amigo Rafael Rodrigues, que há alvarás das eleições europeias em meu nome, mas assinados pelo atual Presidente da Câmara de Moura, fiquei perplexo. Perguntei-me "como é que é possível?". E vejo-me na obrigação de, um destes dias, publicar uma declaração: "Para os devidos efeitos se declara que, desde dia 21 de outubro de 2017, não sou Presidente da Câmara de Moura".

Ou fazer como aquele personagem do filme Pierrot le fou, de Jean-Luc Godard quando, quando lhe chamavam Pierrot respondia "Je m'appelle Ferdinand!".

16 x 16

A série vai em 8 publicações.

Mértola Chefchaouen (2001), fotografias de António Cunha, textos de Cláudio Torres e meu.
Síria (2005)
Mar do meio (2009)
Moura Bissau (2010)
Mosaicos (2011)
Alcaria dos Javazes (2012)
Casas do Sul (2013), em colaboração com Manuel Passinhas da Palma e Miguel Rego.
Mesquitas (2019)

O formato, 16x16, foi uma das tais ideias do Luís Moreira. Permite fazer livros elegantes e com um custo comportável. As edições com tradução em árabe, e já lá vão quatro, têm, para mais, a vantagem de permitir duas capas.

Próximo trabalho? BOLAMA. Está maquetado desde setembro de 2013 (andava em campanha eleitoral, e onde isso já vai...), embora vá haver revisão de algumas imagens. E está escrito, mais vai ser re-escrito. Quando houver dinheiro, haverá livro.


sábado, 25 de maio de 2019

DO LIVRO DE HORAS DE JEAN DE MONTAUBAN

Nesta iluminura medieval não está claro quem iria ganhar. Parece que foi o leão. No Jamor foi.

Este Livro de Horas, obra da primeira metade do século XV, conserva-se na Biblioteca de Rennes.

STARDUST MEMORIES Nº 27: FINAL DA TAÇA DE PORTUGAL (1978)

As fotografias são de dias diferentes. Na de cima, Meneses acaba de bater o pénalti que vai empatar o jogo. E empatado terminaria, com Manuel Fernandes deitado no chão em boa parte do prolongamento, com cãibras. Foi no dia 17 de junho de 1978, fui ver o jogo com os meus primos sportinguistas, e fiquei no meio da claque. Recordo bem o golo, porque estava justamente detrás dessa baliza. Tal como recordo a pusilânime arbitragem de Francisco Lobo. Em dado momento, o defesa direito do Porto, Gabriel, despiu a camisola e enfiou-a na cabeça do fiscal de linha. Nem amarelo viu. Cenas antigas, e que previam no que a arbitragem portuguesa se viria a tornar.

Na de baixo, do dia 24.6.1978, vê-se a equipa do Sporting depois de vencer a finalíssima. No dia seguinte, "A Bola" mostrava um esfuziante Keïta, com a camisola do Porto vestida, na tribuna principal, exibindo a taça acabada de conquistar.

Depois disso, vi mais seis finais no Jamor. A última foi no dia 29 de maio de 2005.

sexta-feira, 24 de maio de 2019

SOCIEDADE DE CONSUMO

Uma imagem vale por 1000 palavras?
Neste caso, vale todo um compêndio.
É algo que gostaria de conseguir definir, mas não consigo melhor que uma desenfreada sofreguidão de coisa nenhuma.

Everest - 22.5.2019

ELEMENTOS - AR 6

AIR VIF

J’ai regardé devant moi
Dans la foule je t’ai vue
Parmi les blés je t’ai vue
Sous un arbre je t’ai vue
Au bout de tous mes voyages
Au fond de tous mes tourments
Au tournant de tous les rires
Sortant de l’eau et du feu
L’été l’hiver je t’ai vue
Dans ma maison je t’ai vue
Entre mes bras je t’ai vue
Dans mes rêves je t’ai vue
Je ne te quitterai plus.

De Paul Éluard (1905-1952), um homem que gostava do tom cadenciado das palavras e da sua repetição.

O ar e a palavra. A literatura no elemento "ar".

quinta-feira, 23 de maio de 2019

AS VELOCIDADES DA CIDADE

Quem escolhe os ritmos somos nós. Ontem, olhei para o relógio e percebi que tinha tempo de sobra antes de chegar aos antigos Armazéns Sommer. Minutos mais tarde, iria andar dentro e fora da cerca velha de Lisboa. As fotografias e as filmagens prolongaram-se por boa parte da manhã. Antes, os 1450 metros entre o Largo do Conde Barão e a esquina da Rua do Arsenal com o Terreiro do Paço seriam vencidos dentro do 25. Mais devagar e mais depressa.



quarta-feira, 22 de maio de 2019

DAS ALMÁDENAS AOS ALMUADENS

Das almádenas de seiscentas mesquitas não soa uma única voz de almuadem, e os sinos das igrejas moçárabes guardam também silêncio. Às ruas, as praças, os azoques ou mercados estão desertos. Somente o murmúrio das novecentas fontes ou banhos públicos, destinados às abluções dos crentes, ajuda o zumbido noturno da sumptuosa rival de Bagdad, recorda-nos um texto de Alexandre Herculano. É melhor dizer almádena que minarete, tal como almuadem é preferível a muezzin. Não se trata de rejeitar o galicismo, por si só.

Foi pelo som que me guiei no mais recente livrinho fotográfico, editado pela Câmara Municipal de Mértola. Mesquitas é o sexto da série, depois de
Síria (2005)
Mar do meio (2009)
Moura Bissau (2010)
Casas do Sul (2013), em colaboração com Manuel Passinhas da Palma e Miguel Rego.
Caligrafias (2018)

Agora, haverá, um destes dias, Bolama e, depois, Roma. Um com tradução em crioulo, outro com versão em latim. Depois se verá.

Argel, 2004

terça-feira, 21 de maio de 2019

MUSEU DA(S) DESCOBERTA(S)

Tenho imensa curiosidade em saber "o que vai daqui sair". O título da exposição não rima com inocência, sobretudo depois da polémica que envolveu o projetado Museu da Descoberta.

É o último ato de António Filipe Pimentel à frente do MNAA. E é um bom golpe de marketing no momento da saída.

MEMÓRIA ARQUITETÓNICA - DO POÇO DOS NEGROS A LAMEGO

Passagem matinal pelo seiscentista Palácio Mesquitela (imagem inferior). Terá sido aqui que Tertuliano de Lacerda Marques (1882-1942) se inspirou para desenhar a agência de Lamego da Caixa Geral de Depósitos? Este edifício alberga hoje a Biblioteca Municipal.

Tertuliano Marques é um hoje um arquiteto esquecido. O seu estilo, pesadamente revivalista, datou uma obra que tem pormenores interessantes. São da sua autoria o atual MUDE (antigo BNU) e o palácio contruído na Cova da Moura para o financeiro João Ulrich.

O edifício da Caixa, em Lamego, é dos que mais me agrada? Nem por isso... Mas tem hoje mais graça que à época.


segunda-feira, 20 de maio de 2019

ADEUS, MADRAGOA

Foi pouco mais de um ano. Em rigor, quase 14 meses. Nunca trabalhei num edifício tão bonito. Dificilmente, voltarei a trabalhar num sítio com o charme do Palácio do Machadinho. Nem sempre é muito prático ter gabinete num edifício setecentista. As paredes grossas foram feitas à prova de rede de telemóvel, o que me obriga a um pendurar da janela várias vezes ao dia. Nas traseiras há um jardim com azulejos e bancos de pedra, do qual terei saudades para sempre.

Também gostei da Madragoa. Onde passei por várias situações peculiares com senhoras de idade muito avançada, que acham que ainda têm 40 anos e que podem carregar sacos de compras quase tão pesados como elas...

Há várias versões deste Fado Madragoa. Acho particular graça a esta, de uma não-fadista.


domingo, 19 de maio de 2019

FESTIVAL ISLÂMICO - O SOM

É difícil resistir ao apelo eletro-turegue de Bombino. Posso quase repetir o que, há seis anos, aqui escrevi. Até porque a magia se repetiu.

Bombino veio de Agadez, no Níger. Um caminho longo para conquistar o público do cais do Guadiana, que aguentou até de madrugada.

O Festival Islâmico de Mértola foi esta festa e este som. O extraordinário Bombino veio aponta os caminhos do sul. Já estamos à espera do dia 20 de maio de 2021.

O vento dança e canta

O vento dança e canta
Entre palmeiras
As vagas dançam e cantam
Entre barcos
Os pássaros dançam e cantam
Entre a terra e o mar
Meus versos dançam e cantam
Ebntre o silêncio e o caderno
Minha alma dança e canta
Nestes caminhos de areia.

Luís Filipe Maçarico in Ilha de jasmim

sábado, 18 de maio de 2019

DESCOBRE-TE

Coisas que fazem falta aos museus.
Irreverência. Criatividade. Inovação.
O MNAA a dar cartas.


MOMENTO GARRINCHA

Em julho de 2016, Portugal não existia. De tal maneira que os franceses pintaram um carro que celebrava a conquista do campeonato europeu de futebol (v. aqui).

Quando um selecionador brasileiro, antes de um jogo com a União Soviética, em 1958, explicava "vocês fazem assim, depois entram assado", Garrincha perguntou "e já combinaram isso com os russos?".

Sou adepto do Benfica, e quero que o Benfica ganhe. Mas com tanto triunfo antecipado, e agindo-se como se os açorianos fossem os russos desta história, de uma coisa tenho a certeza. Se fosse jogador do Santa Clara, logo à tarde até a relva haveria de morder.


sexta-feira, 17 de maio de 2019

UMA HISTÓRIA DE NUDISMO: TUDO PRA TRÁS!

Foi há muitos anos, em Vila Nova de Milfontes. Não fui, para grande pena minha, testemunha presencial dos factos. O episódio foi-me contado pela Elisa e pelo Zé, meus queridos tios. Havia, pela primeira vez, a prática do nudismo nas praias portuguesas. Os meus tios não praticavam a modalidade, mas não lhes passava pela cabeça mudar de praia só por esse motivo. Quem estivesse habituado ou não se incomodasse com a novidade (au contraire, por vezes...), não ligava muito.

Um belo dia, chegou à praia um casal de velhotes - trajados de preto, bem a rigor - com os netinhos e aviados com a cesta do farnel. Mal deram a volta à rocha, deram com aquilo. O senhor largou a cesta, pôs os braços na horizontal, em cruz, e bradou "alto! tudo pra trás!". Os moços, de queixo caído, a avó descompondo o grupo de estrangeiros "vejam só esta pouca vergonha... parece mentira". E abalaram. O dia continuou, com naturalidade.

O episódio faz parte das reuniões de família. O tudo pra trás! tem-me vindo hoje à memória.

Adão e Eva - obra de Masaccio

FESTIVAL ISLÂMICO - O AMBIENTE

Uma das coisas interessantes que o Festival Islâmico tem é aquela criação, fugaz e original, de uma terra nova. É outra Mértola, que nasce e se extingue, de forma rápida. Há sombras desconhecidas que se projetam nas paredes.

A poucas horas de chegar a Mértola, e de mergulhar numa sextasábadodomingo de enfiada, tenho a enorme expetativa de saber que vila vou encontrar.

Vou encontrar amigos, seguramente. Vou estar em casa. Vai haver livro. E vai haver Bombino.


quinta-feira, 16 de maio de 2019

CRÓNICAS OLISIPONENSES - XXIX

Aproximei-me da entrada do local onde iria ter a reunião. Ía formal, de gravata de padrão clássico, óculos escuros e chapéu. Perguntei pela minha interlocutora. O segurança, de ar severo, pegou no walkie-talkie e disse "Delta 4 chama Charlie 3. Escuto". Fico com vontade de rir, ante tanto estilo pseudo-militar. Depois, virou-se para mim e perguntou "e o senhor é...". Por uma fração de segundo, passou-me pela cabeça dizer BOND... JAMES BOND. Depois, resolvi ter juízo e disse MACIAS, SANTIAGO MACIAS. O senhor apontou um edifício "está a ver aquele prédio; vá ter ali, senhor Tiago Messias". A reunião correu bem. A cena pseudo-militar iria repetir-se, ao longo da manhã...

FESTIVAL ISLÂMICO - O JORNAL DOS PEQUENOS

Há também um Notícias de Mértola para os mais novos. Quando ontem, na Câmara de Lisboa, me perguntavam a quem se compravam os serviços (decoração, montagem, animação cultural etc.) do Festival, houve um silêncio de surpresa quando respondi "desde a primeira edição que é tudo feito em Mértola; pelas pessoas de lá". Rematei dizendo "é essa a grande diferença, e é por isso que Mértola é o que é". Boletins como este(s) fazem parte desse princípio e dessa forma de trabalhar.



FESTIVAL ISLÂMICO - O JORNAL DOS GRANDES

Começa o Festival Islâmico. Nas bancas vai estar o Notícias de Mértola, edição da Biblioteca Municipal. Uma presença já habitual, dando mais cor ao evento.


quarta-feira, 15 de maio de 2019

NO TERRITÓRIO DA GAIVOTA

O início das gravações para a exposição Lisboa Islâmica contou com intervenientes esperados. As gaivotas não gostam de intrusos no seu território. Quando o drone se afastava em direção ao Martim Moniz ou à Graça, as gaivotas recolhiam ao castelejo. Mal o drone se aproximava do castelo, havia duas gaivotas que, em jeito Messerschmitt, picavam sobre o aparelho. A evocação de Hitchcock, e de um dos mais inteligentes e premonitórios filmes da História do Cinema, andou por ali. A manhã terminou com uma bela recolha de imagens. E sem danos.

À ATENÇÃO DO PAN: SECÇÃO TRANSPORTE DE GADO

Há um problema básico. Quem toma decisões, só anda em transportes públicos na altura das campanhas eleitorais.

Tenho inúmeros episódios vistos e vividos, ao longo de décadas de uso convicto dos transportes. Os mais interessantes têm lugar carreiras como o 50, o 54, o 99, no fundo de todos aquelas que vão para os bairros da periferia.

terça-feira, 14 de maio de 2019

PASSAGEM POR METROPOLIS

Uma recolha de imagens no interior da Casa dos Bicos levou-me a um filme de Fritz Lang, rodado em 1927 (!). As colunas de luz evocaram-me Metropolis. Foi certamente a memória do modernismo que estava presente no espírito de Manuel Vicente (1934-2013) e de José Daniel Santa-Rita (1929-2001), autores da reabilitação do edifício.

De Metropolis só não gosto do final, com o compromisso entre trabalho e capital. Uma ideia de Thea Von Harbou, uma nazi badernista. O final dos filmes com compromisso ideológico sempre deu barraca, mas isso são cá coisas minhas...




1400

Se os nove senhores e senhoras da fotografia não vivessem em simultâneo (como felizmente sucede) e fosse colocados em fila indiana cronológica, teriam começado em 1400 e chegariam até hoje. Uma história longa e ramificada.

1400 foi o ano em nasceu Luca Della Robbia e em que se fez a paz com Castela.


segunda-feira, 13 de maio de 2019

DORIS DAY (1922-2019)

Mais uma heterodoxia, de entre muitas: gostar de Doris Day. Gosto da voz de Doris Day, elegante e cheia de swing. Gostava menos do programa musical dela, que "dava" às quintas-feiras, entre as 13.30 e as 14.00. Em 1973/74, andava eu no Ciclo e achava-a uma chata. Depois, passei a gostar. Primeiro, mais ou menos. Depois, muito.

Doris Day partiu hoje, aos 97 anos. Gosto muito do Fly me to the moon.

BIZÂNCIO NA BURACA

Não é que seja uma originalidade. Bem longe disso. Mas achei uma certa graça ao jeito de, no Snack-Bar Restaurante O Manel, na Buraca, atarem os cortinados. Quando os vejo arrumados deste jeito, de modo a deixar entrar a luz, lembro-me sempre do Palácio de Teodorico, em Ravena.

E assim, de manhã cedo, a História se me cruzou no caminho.



domingo, 12 de maio de 2019

REN

Foi no Alentejo, há uns anos. O senhor que me recebia mostrava-me as marcas bem evidentes do seu sucesso. Às tantas, exibiu um pequena tira de terreno, que fazia as vezes de local de aterragem para ultra-leves. Intrigado, e tendo em conta onde estávamos, perguntei "isto aqui não é REN (reserva ecológica nacional)?", ao que ele respondeu, com ar de triunfo, "não, isto aqui é meu".

A nossa relação com as normas não é fácil. Uma fotografia posta a circular nas redes sociais mostra um edifício plantado em cima de uma igreja. Gera-se um enorme clamor. Há uma torrente de piadas fustigando a autarquia. Nunca tinha visto as imagens antes. A única coisa que me surpreendeu é que só agora o assunto tenha vindo a lume. A construção que está, literalmente, em cima da igreja data dos anos 60 ou 70 do século XX...

Coisas destas acontecem? Sim, no Mediterrâneo até acontecem com frequência.


Agia Dynami (Atenas)

sábado, 11 de maio de 2019

MESQUITAS, EM BREVE

O lançamento do livrinho "Mesquitas" será no dia 18, às 17 horas. De hoje a uma semana, no âmbito do Festival Islâmico. Textos em português e em árabe. Prefácio de Rosinda Pimenta, vereadora da Cultra da Câmara Municipal de Mértola, entidade que patrocinou a edição. Design da TVM, tradução de Badr Hassanein.

São 20 imagens, de 9 países: Alepo, Argel, Cairo, Córdova, Damasco, Djenné, Gibraltar, Kairouan, Lisboa, Mértola, Mopti, Moura, Rabat, Sidi Bou Said e Tlemcen.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

MÉRTOLA ON MY MIND

Não estou por lá, mas vou estando. Tanto no filme, em que apareço vestido à Hulot, como no livro sobre Cláudio Torres, para o qual contribuí com um pequeno texto. Que foi escrito em abril de 2013 e que só há minutos reli, depois de o descobrir nas catacumbas do meu gmail. Pela Georgia passei uma vez. Mértola, essa, está-me sempre no pensamento.



QUINTA COLUNA Nº. 3: CIDADE DAS ROSAS

Em 2011, o Presidente da Câmara de Serpa, João Rocha, pediu-me um parecer quanto à viabilidade de se proceder à escavação e valorização de um sítio arqueológico, no concelho de Serpa. Não se procurava um local à toa, mas sim O sítio. Ponderados vários fatores – acessos, potencial científico, interesse paisagístico -, indiquei a Cidade das Rosas como sendo o local de maior interesse. E o mais fácil de abordar, num horizonte temporal curto.

O que é a Cidade das Rosas e onde fica? O nome é bonito e esse é o primeiro dado que joga em seu favor. Tem o código nacional de sítio 24 e começou a ser escavada por José Olívio Caeiro (1949-2009). As campanhas foram-se, ao longo de décadas, sem que um projeto de raíz tenha sido construído. José Caeiro publicou, sobre o sítio, breves notas: em 1978, em 1987 e em 1995, nas atas de um congresso e em publicações periódicas. Maria da Conceição Lopes integraria, mais tarde, esta estação, e as que lhe estão associadas em dois estudos que continuam a ser as obras de referência para este território: Arqueologia do Concelho de Serpa (1997) e A Cidade Romana de Beja. Percursos e debates acerca da "civitas" de Pax Ivlia (2003). Em 2006, José Norton, João Luís Cardoso e A. Barros e Carvalhosa publicaram ânforas provenientes do local. A Cidade das Rosas é uma villa romana (habitação de uma grande propriedade), que teve ocupação continuada até ao período califal. Não se pode falar em modelo ou em padrão, mas é uma realidade que constatamos noutros sítios arqueológicos do sul. Ou seja, muitas grandes propriedades não foram abandonadas na Alta Idade Média. Já bem dentro do período islâmico, sítios como Milreu, Cerro da Vila, Alto do Cidreira, Cidade das Rosas etc. continuam a ser habitados.

Alguns materiais islâmicos desta última foram publicados por Manuel Retuerce no Congresso de Cerâmica de Toledo, em 1981. As deambulações feitas por uma peça cerâmica e por um cabo de faca em osso dariam pano para mangas. Não é, contudo, esse o tema do presente texto.

A Cidade das Rosas fica bem perto de Serpa, à distância de uma légua e à vista de que passa na estrada. Mesmo em frente está o Lagar da Herdade Maria da Guarda. Em março de 2012, manifestei a João Rocha o interesse em, em conjunto com Maria da Conceição Lopes, iniciar um projeto de investigação sobre a Cidade das Rosas. A intenção foi recebida com agrado tanto pelo autarca com por João Cortez de Lobão, proprietário do local. O mandato autárquico 2013/2017 interrompeu este processo.

No início de 2018, foi anunciado, pela Câmara de Serpa, o iminente arranque de um projeto para a Cidade das Rosas. Foi uma boa notícia. O sítio tem uma belíssima localização e o proprietário é uma pessoa que tem sensibilidade para estes temas. O potencial é enorme e um dia terá de ser concretizado. Não só através da continuação dos trabalhos iniciados, há já 40 anos!, por José Caeiro, como pelo alargamento da escavação a outros sítios, que potenciem uma explicação global da Cidade das Rosas. É coisa para uns bons 20 anos.

Aguardo, aguardamos todos, com interesse, expetativa e entusiasmo, o arranque das escavações, uma vez que em 2018 nada aconteceu. Provavelmente será em 2019 que se vai dar o primeiro passo. Virão, depois, o evoluir dos trabalhos, as publicações e o programa de divulgação do sítio.

Crónica publicada hoje, no "Diário do Alentejo"

quinta-feira, 9 de maio de 2019

RACISMO SUBURBANO

Estação de Oeiras - cerca das 15 horas de ontem.

Um homem está sentado ao a meio da carruagem, junto à janela. Entra uma senhora negra, na casa dos 40. Era uma mulher bonita. Não espampanante, nem vistosa. Só bonita e de ar discreto. Senta-se ao lado do homem. O qual parece acordar do torpor que o fazia, há minutos, olhar para a chuva lá fora. Levanta-se, como se tivesse sido empurrado por uma mola, com um ar incomodado. Cruza a carruagem na minha direção. Sai em direção à carruagem seguinte. A mulher segue-o com o olhar. Deu-se conta da "motivação". Daí a minutos, o mesmo indivíduo volta. Volta a percorrer a carruagem sem se sentar. A mulher volta a olhá-lo, mantendo a mesma expressão, a meio caminho entre a tristeza e o desprezo. Nenhum deles se dá conta que me apercebi do que se passou.

Não aconteceu na África do Sul do apartheid. Foi ontem, a meio da tarde. Quando cheguei ao local de trabalho, comentaram "ai, o Santiago hoje está muito sério...". Pois, devia estar.

África do Sul, em 1990. A imposição de autocarros separados terminara semanas antes.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

VOX POP

Heduíno Gomes, ou Vilar, veio dar um ar da sua graça e contar, de novo, o que já se sabe. Mais do que a sua militância no PSD, facto bem conhecido, o que chama a atenção são as suas posições políticas, próximas da extrema-direita. É certo que o órgão informativo que acolhia as diatribes de Heduíno Gomes era o Campanário do Vale do Roxo. É curioso ler as coisas que escrevia. Como esta:

https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2012/04/fascismo-sempre-25-de-abril-nunca-mais.html

Leia-se também o DN de hoje e fique-se com a certeza que a jornalista não distingue marxista-leninista de maoista:

https://www.dn.pt/1864/interior/lembra-se-dos-onda-choc-historia-do-jovem-marxista-leninista-que-criou-o-fenomeno-10849801.html