terça-feira, 31 de dezembro de 2019

2019 - DOZE MESES VEZES DOIS

Um ano marcadamente profissional. Vincou-me uma certeza. Há a atividade política e há muita vida para lá dessa atividade. Há quem se pendure de cargos públicos para viver. No meu círculo de camaradas e amigos próximos há, sobretudo e com prazer o digo, profissionais que, por convicção e entrega, andaram/andamos também pela política. Os meus principais momentos, do ponto de vista profissional, passaram pelas áreas de sempre. Um ano compensador, felizmente. Com regressos constantes a Moura, pátria de origem. No meio dessas idas, entre o prazer de rever amigos, fui identificado os ecos de um trabalho coletivo recente, que me continua a dar prazer revisitar. O ano foi passado, todo ele, na Câmara Municipal de Lisboa. Um percurso que hoje se encerra. Revendo o meu 2019, encontrei 24 motivos. Tão pessoais como este blogue.


Janeiro

Comecei o ano recordando 1999, quando a minha vida se repartiu entre Moura, Mértola e Marrocos. Em janeiro, fez então 20 anos, arrancava um dos projeto mais improváveis da minha carreira. Terminou bem, com a inauguração, em setembro desse ano, de Marrocos-Portugal, portas do Mediterrâneo.


http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/01/stardust-memories-n-24-alcacer-ceguer.html



A ida a Travassô representou o arranque de um projeto de exposição, cuja responsabilidade é repartida pelo Joaquim Caetano e por mim. Acreditávamos que seria mais rápida a concretização. Só falhámos por 6 meses. Podia ser (muito) pior.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/01/procissoes-martires-e-sfumato-em.html



Fevereiro

A preparação da exposição Lisboa Islâmica (em 2020 será) levou-me à placidez e ao ambiente fraterno de um dia de oração, na mesquita central. Foram momentos únicos e intensos, e que ajudaram à preparação de um livro, que sairia meses depois.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/02/sexta-feira-na-mesquita.html




Recomeço as crónicas no "Diário do Alentejo". Retomando o título de outrora, "Quinta coluna". O primeiro texto foi sobre o Museu de Beja. Como se diz na minha terra, tantíssimo que se interessam por museus. E nada acontece.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/02/museu-nacional-de-beja.html



Março

Dias de carnaval, em Moura. Com um grupo firme e incansável.


http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/03/balanco-carnavalesco.html




Foi divertido ir a Aracena, falar de Moura. A convite de uma autarquia espanhola. Foi quase insólito falar durante cerca de uma hora em espanhol, para um público maioritariamente português e mourense. Acabou por ser um final de tarde muito mais interessante do que eu imaginaria.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/03/aracena-daqui-dias.html



Abril

Abril foi o mês de reanimar a MULTICULTI. A candidatura a um projeto comunitário precisava de uma entidade que o pudesse receber. Felizmente, a MULTICULTI cumpria todos os requisitos legais e assim se avançou. Entre 1 e 30 de abril não houve sossego. O projeto foi entregue e viria, mais tarde, a ser aprovado. As coisas começavam a compor-se, depois de um 2018 atipicamente calmo.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/04/stardust-memories-n-26-multiculti.html


Abril foi também o mês para um "filme-clip" feito em registo blitz. Nada de demasiado sério, apenas uma breve extravagância, concretizada a meias com um jovem amigo. O tema do clip? De como da luta e da festa se passa ao registo cinzento do quotidiano.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/04/a-festa-do-fabio-pa.html




Maio

E maio, o maduro maio, arrancou com um toque burlesco. Subitamente, vejo o meu nome em alvarás da Câmara de Moura. Rio a bom rir. Mais ainda quando uma alma ingénua sugeriu que aquilo era uma fotomontagem. Não era, a incompetência foi mesmo genuína.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/05/para-os-devidos-efeitos-se-declara-que.html



Muito melhor foi o lançamento do livro Mesquitas, uma edição da Câmara Municipal de Mértola. Sempre fiz questão de estar presente no festival e sempre vi com agrado que a minha participação era/é bem aceite pela autarquia. Já trabalho um projeto para 2021, por acaso...

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/05/das-almadenas-aos-almuadens.html



Junho

O meu Dia de Portugal passou-se em eixo lisboeta. Com duas intervenções em ambientes bem diferentes: de conferencista convidado na Casa do Alentejo a co-autor de um dos volumes da História de Portugal coordenada por Rui Tavares. O convite da Casa do Alentejo deixou-me assim um certo travo a membro de uma equipa sénior. Não foi nem bom, nem mau, apenas um pouco inesperado.


http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/06/da-casa-do-alentejo-feira-do-livro.html



E eis-me, ao longo da primavera e do verão, em pleno trabalho de pesquisa para um livro sobre as filiais e agências da Caixa Geral de Depósitos. Foi mais moroso do que inicialmente pensara, mas não menos interessante. O levantamento de edifícios - quase todos ainda em uso - levou a cerca de centena e meia de arquitetos. A base informativa foi um excecional livro de Joana Brites, mas as minhas motivações e perspetivas de divulgação são muito diferentes das da jovem académica coimbrã.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/06/solidum-opus-de-1920-2004.html



Julho

Regresso, mais um entre dezenas, à minha Moura. A escavação arqueológica vive momentos de "recentramento". Os resultados dos trabalhos iniciados em outubro de 2017 deixaram-me, no início, com algumas reservas. Afinal, não... As hipóteses são mais interessantes do que eu próprio supunha. Em 2020 será apresentado novo projeto de intervenção. Contas feitas, conto terminar esta investigação dentro de uma  década. O que quer dizer que o Castelo de Moura terá acompanhado, se lá chegar, toda a minha vida.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/07/castelo-de-moura-ouroboros-junto-ao.html




E, no meio da arqueologia, ainda houve tempo para uma "fuga" a Coimbra. Pelo segundo ano estive no júri do Prémio Vilalva, promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian. Foi este ano entregue a um inovador e corajoso projeto que engloba indústria, turismo e reabilitação. Uma aposta difícil, mas bem conseguida.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/07/premio-vilalva-cerimonia-de-entrega.html




Agosto


Arrancou o mês de agosto com uma ida a Soustons. No meio da juventude dos forcados, só o Pita e eu destoávamos ligeiramente. Rapidamente, as minhas dúvidas se dissiparam e o elixir da juventude parece ter sido encontrado. Tomber la chemise? Sempre.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/08/hoje-em-soustons.html



Deu-me o jornal "Público" a possibilidade de escrever sobre a exposição que esteve na Fundação Gulbenkian e que tinha a arte islâmica como tema principal. Uma grande exposição, ao nível do melhor que tenho visto. E que foi, também, um momento de afirmação para a sua curadoria, Jessica Hallett. Se dúvidas ainda houvesse, bem entendido.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/08/geopolitica-da-arte-islamica.html



Setembro

Regresso às aulas. Estes momentos causam sempre algum stress. Sobretudo tendo em conta que há 8 anos não lecionava. Valeu a pena, claro. Haverá afinações a fazer para o próximo ano. E este semestre deu-me "balanço" para o seminário de mestrado que, a partir de fevereiro, me espera. Sendo um quase "alienígena", sempre fui muito bem recebido na Nova.
 
http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/09/regresso-as-aulas.html



Retomo um projeto de exposição, iniciado em 2013 (!). Este ano de 2019 quase parece um acerto de contas com coisas que ficaram por fazer. Esta exposição, em particular, tem-se revelado muito mais difícil do que se imaginaria. Por razões que eu próprio não consigo explicar... Em todo o caso, vai ser por volta da Páscoa. Acho eu, mas já não digo nada. Serão 24 quadros, enquadrados por peças barrocas. A escolha não era a que eu quereria ter feito. Mas houve limitações que não se conseguiram ultrapassar. O conjunto agrada-me, em todo o caso.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/09/a-angustia-do-comissario-antes-da.html



Outubro

Outubro foi o mês de regressar, uma vez mais, a Moura, para estar presente na conclusão do processo do Bairro do Carmo. Foi uma não-inauguração, uma coisa envergonhada, quase escondida e a meio da manhã de um dia laboral. Bem sei porquê... Para mim, o essencial foi que se tivesse feito. E tendo, pessoalmente, muito que contar quanto a este projeto. Mas isso ficará para depois.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/10/bairro-do-carmo-22102019.html



E porque não, pensei ao olhar o promontório? Porque não poderia a Capela da Senhora da Rocha, em Porches, ser a tão procurada Kanisat al-Gurab das fontes árabes? A ideia acabou por entusiasmar uma colega, que me convidou a fazer uma conferência sobre o tema e a publicar a proposta. Assim será.




Novembro

929 saiu no início de novembro, na Tinta da China e no "Público". Desde 2016 que não publicava nada do género. Um sinal dos tempos. A experiência com o Fernando será, futuramente, ampliada.


http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/11/portugal-em-retrospectiva-929.html


Inauguração da Torre do Relógio. Passagem pela Amareleja, ainda antes da Feira do Vinho. A quantidade de disparates que se disseram e escreveram, as tentativas (vãs) de descredibilizar o processo, o projeto, os protocolos, tudo e mais alguma coisa, davam para extensas laudas. Como na altura escrevi "foi pena ter estado tão pouca gente. Mas uma inauguração às 20 horas é quase um convite à não presença. Do ponto de vista pessoal, virei, sem disfarçar o orgulho, mais uma página. E com a sensação de ter, uma vez mais, "estado em casa".

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/11/torre-do-relogio-09112019.html



Dezembro

Termina-se o ano quase como se começara, à volta dos Mártires de Marrocos. A exposição toma forma e já tem data marcada de abertura, lá para o final da primavera. Agora, é tempo de pedir peças emprestadas e de, rapidamente, fechar o catálogo.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/12/hashtags-em-arte-antiga.html


Acabo o ano com a conclusão de um livro. Mais um capítulo que se encerra. O tema é Moura e a nossa mouraria. O fecho de 2019 aponta já 2020. Fecho com Moura e com Moura retomarei. Sempre.

http://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2019/12/stvdia-historica-archaeologica-movra.html

segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

STVDIA HISTORICA & ARCHAEOLOGICA - MOVRA MEDIEVALIS

As palavras são curtas para exprimir o que senti, há minutos, quando despachei a parte final do manuscrito do livro, para ser tratado graficamente. Foi um percurso longo (de 2013 até agora), e cheio de curvas e contracurvas. Agora, temos esta calendarização:
Grafismo - 10 dias;
Revisões - 5 dias;
Impressão - 5 dias.
Apresentação pública em Moura - segunda quinzena de janeiro.
Programa a anunciar. 😊😊😊


Índice do livro:
Mouraria - o arrabalde muçulmano no século XIV - José Gonçalo Valente e Santiago Macias
A Mouraria de Moura -  a comuna, a organização do bairro e a toponímia - José Francisco Finha


domingo, 29 de dezembro de 2019

VELAS

O poema que se segue quase fechou, aqui no blogue, o ano de 2008. Já lá vão 11 (onze!) anos. O poema, sobre a passagem do tempo, faz hoje tanto sentido como naquela altura. Justamente pelo toque de eternidade que comporta.


Velas
Os dias do futuro ficam diante de nós
como fila de pequeninas velas acesas –
douradas, quentes, e vivas pequeninas velas.

Os dias passados ficam para trás,
uma linha triste de velas que se apagaram;
as mais próximas soltam fumo ainda,

velas frias, derretidas, e torcidas.

Não quero vê-las; dá-me dó a sua figura,
e dá-me dó lembrar-me da sua luz primeira.
Olho para a frente para as minhas velas acesas.

Não quero voltar-me para não sentir horror ao ver
que rapidamente se torna longa a linha escura,
que rapidamente se multiplicam as velas apagadas.


O poema é de Konstandinos Kavafis (1863-1933) e data de 1899 (tradução de Joaquim Manuel Magalhães e de Nikos Pratsinis). Não sei de quem é a pintura, que se encontra na coleção Isabel e Alfred Bader, Milwaukee (EUA). Tem sido, por várias vezes, atribuída a Rembrandt, mas não está na base de dados do pintor no RKD (Rijksbureau voor Kunsthistorische Documentatie).

Ver:
https://rkd.nl/en/collections/explore
e
http://rembrandtdatabase.org

sábado, 28 de dezembro de 2019

A ADSE E OS GRUPOS PRIVADOS DE SAÚDE, ESSES BENEMÉRITOS DA SOCIEDADE

Os privados estão preocupados com o futuro da ADSE. A ministra Alexandra Leitão joga por fora e dá uma ajudinha.
Os privados têm interesse na ADSE.
Os privados têm interesse nas centenas de milhões que a ADSE representa.
Estou emocionado com tanta preocupação e com tanto interesse.
Nestas alturas, lembro-me sempre da história verídica que um conhecido gestor da área financeira em tempos me contou. Numa ida ao Brasil perguntou a um dos criados do hotel qual a razão de tanto apoio a Lula da Silva (que ainda estava muito longe de vir a ser presidente). A resposta, de desarmante franqueza, foi algo como: "se os ricos não gostam de Lula, então ele deve ser bom pra nós".
Ou seja, se os grupos privados de saúde tanto salivam com a ADSE, então dali não deve vir coisa boa...

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

#HASHTAGS EM ARTE ANTIGA

Podia criar uma carrada de hashtags a partir da reunião da passada semana:

#badanas
#gramagem
#couché
#mate
#chromocard
#lombada
#plastificação
#semi-mate
#gráficas
#revisão

E, acima de tudo,
#prazos

Foi um projeto quase inesperado. “Nasceu” depois de se olhar, vezes sem conta, para um quadro, com pouco mais de 500 anos. O Joaquim tinha pensado numa coisa, eu noutra, afinal eram coincidentes. Acabámos visitando Travassô e a procissão em honra dos mártires. Não foi propriamente uma epifania, mas às vezes até me parece que sim. Estamos em V2 – para falar em termos aeronáuticos – e, daqui até junho de 2020, isto é um instante... Guerreiros e mártires à vista.


Os "olhares" são de uma exposição anterior...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

FERTAGUS APOIA O BREAKDANCE

Isto já por aqui andou, há uns meses. É a lógica sardinha em lata ou para-quem-é-bacalhau-basta. Não tenho qualquer dúvida: quem toma decisões, só anda em transportes públicos na altura das campanhas eleitorais.

Por outro lado, a falta de cadeiras propicia cenas criativas. É o que nos vale.



REGRESSO AO OUTRO LADO DO SUL

Não há nenhuma peça de Meknes, na lista que se alinha à minha frente. Essa é uma questão menor. Mas as fotografias de Jean-Marc Tingaud, que já aqui andaram, há quase uma década, servem-me de inspiração, noite dentro. Marrocos está em pano de fundo, nas páginas que vão sendo trabalhadas. A cor irreal de Tingaud dá lugar a problemas menos coloridos e mais prosaicos. De Mértola a Marrakech são, em linha reta, 670 quilómetros. É essa a distância do futuro.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

NÃO É MARQUÊS DE POMBAL QUEM QUER

Ao fim de todo este tempo, ainda não percebi, e sem ponta de ironia o digo, qual a agenda e o caminho do Ministro do Ambiente. O discurso é, com frequência, errático e disparatado. A última ideia apresentada, defendendo a mudança de aldeias de sítio, é o exemplo acabado da sobranceria urbana. Muito antes de se emitirem juízos de valor sobre a localização de aldeias nas margens do Mondego, haveria que reequacionar a localização da maior parte das urbanizações à volta de Lisboa. O que aconteceu em 1967 e, em menor grau, em 1983, não foi fruto do acaso. As inundações cíclicas nas baixas do Porto, de Águeda ou de Albufeira ainda não levaram a que se equacionasse um mudança de sítio de qualquer dessas cidades. Que há erros de planeamento acumulados é coisa de que não se duvida. Que sejam os aldeãos das margens do Mondego a pagar as favas é que não me parece lá muito justo.

Registei também, com grande interesse, a celeridade do governo em reparar os diques e repor a situação antes existente. Não tivemos a mesma fortuna, no Sobral da Adiça. A obra ficou, toda ela, a cargo da Câmara de Moura. Um processo marcante e que (me) deixou fundas cicatrizes.

João Matos Fernandes, um especialista em transportes, vai fazer tudo o que se propôs? Da reparação dos diques, falaremos daqui a dois meses. Quanto à mudança das aldeias, é pouco provável que aconteça. Afinal, não é Marquês de Pombal quem quer.

Obra de  Louis-Michel Van Loo (1705–1771) e de Claude Joseph Vernet (1714–1789).
Está na Câmara Municipal de Oeiras

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

PRESÉPIO

Longa vida e boas inspirações é o que se deseja à United Methodist Church, de Claremont, na Califórnia. Dos Estados Unidos vêm muitas e excelentes coisas. Como este presépio. Que é o dos nossos dias.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

MAMA CAX (1989-2019)

Era uma mulher muito bonita. De invulgar beleza e coragem. Um cancro na adolescência marcou~lhe o físico. Uma operação mal sucedida levaria à completa amputação da perna esquerda. Originária do paupérrimo Haiti usou todas as suas desvantagens como mola propulsora para levar a sua avante. E levou. Tornou-se modelo, blogger, desportista e ativista dos Direitos Humanos. Começou em desvantagem: era negra, padecia de doença oncológica e sofrera uma amputação. Nos curtos 30 anos que viveu deu a volta por cima. Até a doença a vencer, de vez.

Percursos como o de Mama Cax tornam-se ainda mais evidentes quando, todos os dias, ouço gente jovem, que vive pisando tapetes fofos, queixar-se por tudo e por nada. Normalmente por nada. Do seu mundo ocidental e privilegiado nem se dão conta de quantas pessoas como Mama Cax existem por esse mundo fora. Algumas tornam-se celebridades. A esmagadora maioria não. Por isso mesmo, percursos como os da jovem haitiana são ainda mais importantes.

domingo, 22 de dezembro de 2019

MÉRTOLA CHINESA

Uma passagem, ao fim da manhã, pela Senhora das Neves, levou-me à China. A sucessão de montanhas evoca, de forma irresistível, imagens do Extremo Oriente. A bruma acentuava contornos sínicos.

Rápido olhar ao horizonte, antes de (re)mergulhar no trabalho.


sábado, 21 de dezembro de 2019

A DANÇA DA PALMEIRA

Quando o inverno começa, dou comigo a pensar em calor. Nunca me queixo do calor... Já o frio e a chuva me deixam num silêncio fundo. Em Aruba estão 27º.

Por sorte, encontrei esta dança no site da extraordinária (não há outra palavra) e veterana Rosalind Schneider. Imagens que remetem para outras paragens e para dias futuros.

Ver: http://rosalindschneiderart.com


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

PAROLICE CLIMÁTICA

Dava depois do telejornal. Um dos meteorologistas, Costa Reis (não é o senhor da fotografia) era parecidíssimo com o nosso tio João, de Paymogo. Foi aí que me habituei a ouvir falar no anticiclone dos Açores e nas superfícies frontais. Os mapas eram desenhados a giz. Tudo aquilo tinha um ar familiar e caloroso. Tudo de viva voz e em tempo real.

Mais tarde, começou a falar-se nos tornados e nos furacões. Primeiro sintoma de intensa parolice: as descrições das tempestades no Midwest, as catástrofes no Oklahoma (um tema palpitante para quem vive em Figueira de Castelo Rodrigo ou em Santana da Serra) e tudo aquilo que não é relevante para o nosso quotidiano. Ai os furacões têm nome? Pois nós também vamos dar nomes ao nosso mau tempo. Segundo e decisivo sintoma de parolice. Foi a Elsa, depois o Fabien (!) etc. Podiam, ao menos, ter os centros de batismo dentro de portas. Sempre podíamos imortalizar o Camolas, o Fanan, o Joca, o Rucas etc. Nem isso. Somos bestiais e simpáticos e pacholas, mas não resistimos ao macaquismo de imitação e a um incontrolado desejo de agradar aos de fora.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

SENHORA MINISTRA DA JUSTIÇA

Parafraseando um grande escritor português, agredido por agentes da PIDE, "pergunto de que Justiça é V. Exa. ministra". Bem sei que não lerá o texto deste blogue. Espero, contudo, que de entre os cerca de 400 leitores diários que tenho, alguns possam comentar e difundir entre alguns amigos este texto.

Num País onde um político sem qualificação ética popularizou, com a ajuda de muita gente que gasta tempo a difundi-lo, a palavra VERGONHA, foi em vergonha que pensei ao ler que se promovera uma sessão de homenagem a Antunes Varela, "jurista brilhante". Que alguns dos seus pares académicos nela participem, diz bem da miséria a que chegou alguma Academia. Que o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça venha dizer  que a homenagem feita é um "claro testemunho da reconciliação e encontro de um país com a sua História" é o mais acabado exemplo de parolice intelectual e política. Que a Ministra da Justiça se lhe associe é uma vergonha e uma ignomínia.


É quase trágico que uma personalidade como Antunes Varela seja homenageada com base nas suas capacidades técnicas, esquecendo-se que um homem não é apenas uma máquina de execução ou de produção. João Antunes Varela foi Ministro da Justiça entre 1955 e 1967. Durante esses 12 anos, Portugal desfrutou de uma caricatura de Justiça. Antunes Varela, que tanto sabia do tema, esqueceu-se de o aplicar no dia-a-dia.

Ao entrevistar, em 2002, António Borges Coelho, que beneficiou de 5 anos nas prisões do fascismo (entre 1957 e 1962, justamente quando Antunes Varela era ministro), ouvi-o dizer-me que o grande escândalo do pós-25 de abril era a impunidade de que o aparelho judiciário beneficiara. Ninguém chamou a contas todos os que foram coniventes com a iniquidade e com a repressão. E justificava o facto de forma simples e linear: "os que hoje estão no poder são os filhos e os netos dos de antes". A entrevista seria publicada no livro "Historiador em discurso directo". É um testemunho impressivo, que merece leitura atenta.

É essa impunidade de uma certa mentalidade ultramontana que continua a campear. Sem vergonha nem memória. Parece, por isso, quase uma peça de humor negro que esta homenagem tenha lugar na véspera do aniversário do assassinato de José Dias Coelho, ocorrido em 19.12.1961. Era Antunes Varela o detentor da pasta da Justiça. A brigada da PIDE que o matou só foi a julgamento depois do 25 de abril. Seria interessante que a senhora ministra lesse essa sentença. E que, depois, tivesse vergonha de ter participado na coisa que ontem teve lugar. 

DUPLO INVERNO

Faltam, duplamente, dois dias. Robert Frost não assistiu, seguramente, ao degelo em Vethéuil. Frio e gelo perpassam por palavras e imagens. O inverno chega daqui a horas. Não serão muitas.

Sobre a tela de Monet, ver:
https://gulbenkian.pt/museu/works_museu/o-degelo/


An Old Man’s Winter Night

All out of doors looked darkly in at him
Through the thin frost, almost in separate stars,
That gathers on the pane in empty rooms.
What kept his eyes from giving back the gaze
Was the lamp tilted near them in his hand.
What kept him from remembering what it was
That brought him to that creaking room was age.
He stood with barrels round him -- at a loss.
And having scared the cellar under him
In clomping there, he scared it once again
In clomping off; -- and scared the outer night,
Which has its sounds, familiar, like the roar
Of trees and crack of branches, common things,
But nothing so like beating on a box.
A light he was to no one but himself
Where now he sat, concerned with he knew what,
A quiet light, and then not even that.
He consigned to the moon, such as she was,
So late-arising, to the broken moon
As better than the sun in any case
For such a charge, his snow upon the roof,
His icicles along the wall to keep;
And slept. The log that shifted with a jolt
Once in the stove, disturbed him and he shifted,
And eased his heavy breathing, but still slept.
One aged man -- one man -- can't keep a house,
A farm, a countryside, or if he can,
It's thus he does it of a winter night. 

STARDUST MEMORIES Nº. 31: BILHETE DE GARE

Estava, há dias, com um grupo de amigos em Moura quando resolvi recordar os bilhetes de gare. Ficou tudo a olhar para mim "o que é que estás para aí a dizer?". Ninguém se lembrava de tal coisa. Cheguei a duvidar de mim. Falava-se dos anos 70 do século passado. Os bilhetes de combóio eram umas tirinhas em cartão, como o da imagem. E havia outros bilhetes, que permitiam aos mais abonados irem esperar familiares e amigos na própria gare. Quem não podia, ou não queria, gastar mais esses tostões, ficava de nariz espalmado nas vidraças, à espera que os viajantes entrassem no edifício da estação.

Confirmei depois, junto de fonte autorizada, a existência dos tais bilhetinhos. Acabaram pouco depois do 25 de abril. Que é do povo, tal como as gares o passaram a ser.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

ALGO SE PASSA NO REINO DA PORBASE

A ideia é excelente e a PORBASE, enquanto catálogo coletivo, é um precioso auxiliar de investigação. O problema são as "falhas", que minam a confiança no sistema. Gostava de ter podido dizer aos meus alunos "vão à PORBASE". Mas não pude. Limitei-me a dizer "vejam a PORBASE e, também, os catálogos das universidades e/ou dos centros de investigação". O que devia estar na PORBASE, por estar também nesses catálogos, com frequência não está. Ou seja, multiplica-se o tempo de pesquisa e somos obrigados a fazer "o caminho das pedras" uma vez e outra. Estamos mal habituados? É possível. Nos meus tempos de estudante, tínhamos de ir à Nacional e Faculdade de Letras e à Católica e à Gulbenkian à procura deste ou daquele livro. O caminho está agora muito mais facilitado. É preciso é que a PORBASE funcione a 100%. E isso está muito longe de acontecer.

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

SPANISH BOMBS

Falei de London Calling há exatamente dez anos. O disco tinha saído em 1979. Dos 30 chegámos aos 40. O duplo ainda está cá por casa. Em 2009, o jovem Manuel ficou espantado por eu conhecer os Clash. Oxalá ele ainda se lembre deles, digo eu agora.

O espanhol de Joe Strummer não é bem canónico. Mas quem quer saber disso, não é verdade?

M. CONCEIÇÃO AMARAL NO OPART

A informação foi tornada pública hoje. Maria da Conceição Amaral dirigirá, a partir de janeiro, os destinos do OPART (Teatro Nacional de São Carlos e Companhia Nacional de Bailado). Fácil não é palavra que se adeque a esta nova função. No caso da Conceição, a longuíssima experiência profissional, a competência e a calma com que encara as dificuldades são um bom prenúncio.

Ao trabalho, e desejo-te toda a sorte do mundo.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

LUXÚRIA - VERSÃO CENTENO

Dois ou mais dependentes com menos de três anos de idade??? Bom, técnica e cronologicamente é possível. Eis a batalha da produção, em versão renovada.

ARRÁBIDA

Não imagino o que sentiria Sebastião da Gama (1924-1952) nos nossos dias. O drama da Arrábida tem décadas. Muitas das nossas "elites", que tanto gostam das coisas avançadas e modernas que se fazem "lá fora", pouco ou nada dizem. Silva Porto (1850-1893), que pintou este recanto do Portinho da Arrábida (aquele toque do pormenor vermelho dos naturalistas 😊), arrepiar-se-ia ao ver a fábrica do cimento.

Agora, são as dragagens. A APA admite que a intervenção "irá criar desequilíbrios na dinâmica natural do delta do estuário do Sado, gerando impactes negativos, diretos e indiretos". E nós não podemos deixar de pensar "mas afinal?...".


Dia 19 há votação na Assembleia da República. Não vai dar nada, bem entendido.



Desabrochar

Tudo se passa,
quando a Manhã nasce na Serra,
como se uma flor abrisse
e pelo ar 
o seu perfume subisse ...



domingo, 15 de dezembro de 2019

MARIANA ALCOFORADO

Ora bolas, é o que se pensa. O filme é Mariana Alcoforado e parece ser o contraponto fílmico à peça de Júlio Dantas, Soror Mariana. Quando começou a ser exibido, na RTP Memória, ainda acalentei uma breve esperança. Foi mesmo breve. O filme arrancou, numa monocórdica leitura de textos. E assim continuou. Lia Gama a deambular pelo Convento da Conceição. E noutros espaços.

O tema é interessante e merece ser retomado. No quadro de uma renovação do Museu de Beja seria o ideal. Embora o museu seja muito mais que uma janela e uma história de amor.

sábado, 14 de dezembro de 2019

TERRA FIRME: ENTRE MOURA E O SOBRAL

Post teaser, em dias de conclusão de coisas:

1. Livro já quase há (a capa será deste estilo, assim de "ar antigo");
2. A exposição, sobre mineração antiga, acontecerá, em maio, no Sobral.

Uma coisa de cada vez. O livrinho, com dois ensaios sobre Moura na Idade Média, aproxima-se, rapidamente, da conclusão. A ida a Moura permitiu-me, ontem, esquiçar o local e a fórmula de lançamento. Mais passos, no final de um ano em que muita coisa se retomou. E se começou a concluir.

FOGE CÃO...

Recordando um dito oitocentista: "foge cão, que te fazem barão; para onde ? se me fazem visconde". A banalização das coisas dá nisto e o desinteresse - nem hostilidade, nem sobranceria, nem despeito, nada disso - que sinto em relação a classificações como "património da humanidade" não podia ser maior. Já estive em sítios que são uma fraude (Taos, no Novo México, é o mais radical exemplo). E que, tendo em conta o contexto que lhes deu o título, já deviam estar há muito a "jogar nos distritais".

Recentemente, veio mais uma revoada de classificações. OK, muito bem, nada acrescentam a coisa nenhuma. Representam momentâneos sucessos políticos. Alguma auto-estima, também. Uma maior visibilidade, seja lá isso o que for. Haverá casos em que o valor do património vai perdurar. Noutros, vai-se taoizar.

O meu caminho não é esse, nada mais.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

O IMPÉRIO BIZANTINO NÃO É UMA POTÊNCIA REGIONAL

Escrevi num textinho, no passado mês de junho:

Putin não é comunista, nem socialista, clarifique-se. Nem é, à luz da nossa lógica, particularmente recomendável. É o herdeiro de Bizâncio e representa uma mentalidade imperial. A Rússia é isso. Não é preciso estudar ciência política ou qualquer outro ramo do ocultismo. Eisenstein e um par de livros dão uma ajuda.

Leitura simplista? Seguramente. Mas, segundo creio, não menos verdadeira. Tal como me dizia, há muitos anos, um então conhecido professor universitário de direita, hoje caído no esquecimento: "sabe, ainda bem que há União Soviética, caso contrário os americanos varreriam tudo... bom, mesmo, é que a União Soviética fique lá longe, que faça esse papel, mas não se aproxime de nós". Ainda hoje, quando vejo as entradas de Putin no Kremlin, entre o vermelho e o ouro de Bizâncio, me lembro dele.

REGRESSO AO MUSEU NACIONAL DE ARQUEOLOGIA

Não entrava nas reservas do Museu Nacional de Arqueologia há alguns tempo. Cinco anos, seis anos, não consigo precisar. O regresso teve lugar há dias, para verificar detalhes de um bocal de poço de Loulé. Uma peça interessante, ainda que muito fragmentada, e cuja datação andará em torno da segunda metade do século XIV. Temos (um colega e eu) um livro mesmo, mesmo a ser ultimado e quis fazer uma última verificação em torno desta peça, que conheço há muito, mas para a qual nunca olhara assim com tanta atenção. A pasta parece algarvia, e tem estampilhas que já vi noutros sítios e que Zeinab Shawky Sayed assinala em bocais mudéjares espanhóis. O sul ainda era só um, no século XIV.

Acabei por deambular por ali um pouco. Há muito tempo que não estava com a Luísa, com o Luís, com o Salvador, com a Ana Isabel, com o António... Em 1997/98, quase fiz do Museu a minha segunda casa. Foram momentos breves e compensadores, os da passada quarta-feira. Ao subir a escada interior - à qual o público não tem acesso - deparei com uma fotografia de Mértola, que ocupava o centro da exposição Portugal Islâmico. Não foi para a lixo, como imaginara. Não resisti à ideia do recuerdo.