quinta-feira, 31 de agosto de 2017

UM DENSO SETEMBRO

"Dernier virage", anunciam os comandantes da Air France, quando dão a última curva, antes de se aproximarem do terminal.

Não sou piloto, muito menos comandante do que quer que seja, mas este último mês é a minha última curva no mandato.

Pensava que iria ser mais sossegado, o setembro que aí vem. A agenda está mais ou menos nisto...


O último mês é de paragem? Então não é...

DETRITUS E MAIS DETRITUS


Uma das coisas que verdadeiramente me diverte são os anónimos nas redes sociais. Em especial, alguns da minha terra, que me dedicam amor e carinho há longos. Odeiam-me com uma ternura que me comove. Insultam, difamam, inventam com toda a bravura que o anonimato permite. Pensava que o fim da carreira autárquica os acalmaria. Qual quê... Investem ainda com maior intensidade.

Continuem, por favor. Não me votem ao esquecimento...

(NÃO) VER BRAGA POR UM CANUDO

Terminou ontem uma saga com muitos anos. Foi assinada, em Braga, a escritura de um prédio deixado em testamento à Câmara Municipal de Moura por uma benemérita amarelejense já falecida. A receita proveniente da venda do edifício destinava-se a um lar na Amareleja. Destinava-se e destina-se. O edifício, situado na Rua Júlio Lima, em Braga, foi vendido, depois de se ultrapassar um calvário legal que tardou anos a resolver. Depois de resolvidos os últimos tramites administrativos, a receita será entregue ao Centro Social da Amareleja. 

Pela parte que me toca, posso dizer: missão cumprida.


terça-feira, 29 de agosto de 2017

A ARTE POUCO FÁCIL DE NAN GOLDIN


Transgressão, dor e violência são temas comuns na arte de Nan Goldin. Não faz fotografias-bilhete-postal, nem o bonitinho dos ramos de flores lhe interessa.

"I didn't really care about 'good' photography," she once said, "I cared about complete honesty."

Porque é que as fotografias são assim violentas e diretas na sua luz? A explicação é de uma perturbadora candura: "[people] refer constantly to The Ballad of Sexual Dependency and think I am the same person that took those pictures. That series is stark. It's all flash-lit. I honestly didn't know about natural light then and how it affected the colour of the skin because I never went out in daylight".

Uma franca e brutal honestidade é coisa que não falta em Nan Goldin... O post de hoje é um gesto de admiração para com Nan Goldin e para com todos os que trabalham a Arte de forma pouco fácil. E, bem entendido, é também uma homenagem a Diane Arbus, a sensível e frágil artista a quem a Fotografia do século XX tanto deve.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

FERNANDO PIMENTA


Preferi esta imagem à das medalhas. Por detrás do brilho das luzes estão a família, o treinador e muitas horas de solidão. O desempenho de Fernando Pimenta nos Mundiais de canoagem passou para segundo plano. Houve futebol. O Benfica empatou, o Sporting e o Porto ganharam. O vídeo-árbitro já começou a dar polémica. Com a vantagem que ninguém chama "ó boi vestido de preto" a um televisor.

Mas houve, sobretudo, Fernando Pimenta. Fiquei com a impressão que se deu mais destaque ao insucesso nos Jogos Olímpicos que à grande vitória de ontem. Mas pode ser só impressão minha.

THE ENDLESS SONG AND MURMUR OF THE NEVER RESTING SEA



This little bowl is like a mossy pool 
In a Spring wood, where dogtooth violets grow 
Nodding in chequered sunshine of the trees; 
A quiet place, still, with the sound of birds, 
Where, though unseen, is heard the endless song 
And murmur of the never resting sea. 
'T was winter, Roger, when you made this cup, 
But coming Spring guided your eager hand 
And round the edge you fashioned young green leaves, 
A proper chalice made to hold the shy 
And little flowers of the woods. And here 
They will forget their sad uprooting, lost 
In pleasure that this circle of bright leaves 
Should be their setting; once more they will dream 
They hear winds wandering through lofty trees 
And see the sun smiling between the leaves. 

Amy Lowell (1874-1925) escreveu este The green bowl. Uma pia batismal em terracota é bem mais que um bowl. Em todo o caso, e numa tarde em que o sol não sorria por entre as folhas, o ambiente era de grande placidez, em Santo Aleixo da Restauração. Havia sombras densas dentro da igreja e luzes precisas e recortadas. Foi essa a imagem que me ficou, na solidão da tarde.

domingo, 27 de agosto de 2017

A CUSTÓDIA (IN)VISÍVEL


Que fazer com este Património? Foi ontem exibida, por pouco tempo, a célebre custódia de Santo Aleixo. Sobre esta peça circulavam as mais desencontradas e, por vezes, quase delirantes hipóteses. O seu paradeiro foi, durante muito tempo, motivo para especulação.

Ao final da tarde, depois da procissão, a custódia foi colocada no altar e, sob vigilância policial, ali ficou durante alguns momentos.

Depois de cumprimentar o pároco e, enquanto regressava ao ponto onde iria ter com amigos, não pude deixar de me colocar um conjunto de questões:

Que fazer com este Património?
Quem deve guardar estas peças?
Podem as mesmas estar à guarda de particulares, com inexistentes condições de segurança? Sinceramente, não me parece que devam...
Onde deverão ser expostas?
Em que condições?

São questões que não são fáceis de resolver. Exigem debate, estudo e conhecimento. Há sempre, aqui e além, quem escreva sobre Património e patrimonialização sem ter a mais pequena ideia do que se significa o conceito.  O atrevimento da ignorância, contudo, não chega...

Quanto mais o tempo passa, mais se me sedimenta a ideia que a valorização do Património é não só uma questão de cidadania, mas sobretudo faz parte de um todo que não podemos dissociar do desenvolvimento.

sábado, 26 de agosto de 2017

OLHA, AFINAL JÁ NÃO É NOTÍCIA...

Não houve fraude.
O ato eleitoral decorreu com normalidade.
O MPLA ganhou com grande vantagem.
Olha, assim derepentemente, o assunto deixou de interessar à comunicação social em Portugal.
Porque será?


sexta-feira, 25 de agosto de 2017

CRÓNICA DE FIM DE TARDE

Tinha passado o Café Ideal em direção à Salúquia. Trinta metros mais à frente alguém me chama "Santiago! Santiago!". A miopia não ajuda. Volto para trás em passo lento. O José Rita e o Marco Telo riam a bandeiras despregadas. Que se passa?  Um miúdo fazia 8 anos e tinham-no convencido que não cantavam os "parabéns" enquanto não chegasse o presidente da câmara. O Óscar não estava de momento. O José Rita e o Marco Telo foram imperativos "tens de esperar que ele venha". Claro, que havia eu de fazer? Passam 5, 10, 15 minutos e nada de Óscar. Lá aparece. Fica boquiaberto quando me vê. O José e o Marco fazem um ar sério "a gente não te tinha dito que tínhamos de esperar o presidente da câmara??". Com esforço, não me desmancho a rir. Cantamos os parabéns, primeiro ao Óscar, depois ao Alberto, que faz 44.

Faço uma fotografia e alguém diz "começou a campanha eleitoral". Aí sim, rio e digo "só se for aqui a do Óscar". O qual, galhardamente, me pergunta "o que é que o senhor toma?". Assim mesmo. Não bebo nada, mas como uma deliciosa talhada de pão-de-ló.

Retomo o caminho da Salúquia, quase feliz.


E AGORA, A TOMINA


LUZ E COR EM SANTO ALEIXO

No território de Moura fazia-se, em plena época dos califas de Córdova (920-1031), a mineração da prata, atividade que, segundo al-Razi (século X), era praticada no sítio de Totalica, onde haveria "uma minera de mui boa prata e mui branca". Essa mina era explorada em segredo pelos seus habitantes.
O local em causa ficava, por certo, perto da ribeira de Toutalga, não sendo de excluir que o sítio possa coincidir com o de Santo Aleixo da Restauração. O brilho dos metais, em especial o da tão procurada prata, ficou no espírito de todos, ao longo dos séculos.
Santo Aleixo ganha ainda mais luz e mais cor e mais brilho nestes dias das Festas da Tomina. Uma vibração mediterrânica passa pelas ruas, de forma intensa, durante o dias da festa. Festas religiosas e momentos profanos. O que se leva ao alto é aquilo a que se dá valor. O que se considera único. Tal como nos andores de tradição oriental, onde a noiva é levada ao alto, Nossa Senhora é transportada num andor com baldaquino. A solenidade da procissão, ao som ritmado da filarmónica, rapidamente dá lugar a outras celebrações.
Há luz e há cor em permanência. Regressa, em todo o seu esplendor, uma aldeia antiga e orgulhosa. Habituada a resisitir e a vencer todas as dificuldades, o combate que mantemos na aldeia é o da restauração da esperança e da permanente construção do futuro.
A Câmara Municipal de Moura saúda as Festas da Tomina e felicita a Comissão pelo empenho, dinâmica e entusiasmo que, no seguimento da tradição, pôs no programa deste ano. Aí estaremos, no final de agosto. Porque a Festa é dos santo-aleixenses e é de todos.

Santiago Augusto Ferreira Macias
Presidente da Câmara Municipal de Moura

Texto redigido para o livro das festas. Começam hoje. E vão até dia 29.
Fotografia de Diamantina Nunes.