sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

COMO É QUE ISTO É POSSÍVEL?

Declarações do Embaixador de Israel em Portugal a um canal televisivo. Sem um pingo de humanidade, nem de nada.


 

HOMENAGEM A HELENA CATARINO

O meu percurso de aluno da Faculdade de Letras de Lisboa foi marcado pelo "Caso Helena Catarino". A jovem Helena tinha entrado como assistente e preparava-se para fazer carreira enquanto investigadora naquela casa. Uma Comissão Científica de História burra, labrega, tacanha e incompetente (podem juntar adjetivos...) entendeu que não e Helena Catarino teve o seu contrato interrompido. Rumou depois a Coimbra, onde leccionou, com êxito, durante mais de 30 anos. Uma notável carreira na Arqueologia Medieval.

Eu não era aluno de Arqueologia, mas para o caso tanto dava. Enquanto membro da direção da Associação de Estudantes participei ativamente no combate contra os corifeus da Comissão e em defesa de H.C., que iniciava então carreira na Arqueologia Islâmica. Essas e outras custaram-me caro, mas voltaria (1000 vezes!) a fazer o mesmo.

Fico contente por ser feita esta homenagem, agora que chegou à aposentação. Já lhe escrevi, felicitando-a e recordando os dias tensos de há 40 anos. 


quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

DAVID LYNCH (1946-2025)

Hollywood não gostava dele.

Tanto pior para Hollywood.

David Lynch foi um dos mais inovadores e estranhos cineastas do século XX. Há quase 20 aos que não rodava um filme de fundo, depois da viagem que "Inland empire" é. O meu preferido? Blue Velvet, seguido de Lost Highway. Tenho a sensação de que Lynch será (re)descoberto algures no futuro.

PARA ONDE VAI O PIB

O problema não estará na despesa, mas sim na organização...

Confiram o link, por favor.

https://www.pordata.pt/pt/estatisticas/contas-publicas/receitas-e-despesas/despesas-publicas-por-funcao-em-do-pib

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

ESTÁDIO NACIONAL

Gosto do projeto de Jacobetty Rosa para o Estádio Nacional. Dentro do espirito do tempo foi do melhor que se fez. O enquadramento é perfeito e aquela pompa em pedra envelheceu bem.

E agora, senhoras e senhores, chega uma pala. Olhando para o desenho da pala, não percebo muito bem para que serve a dita. Cobre um setor mínimo da bancada central. Quando a chuva vier de poente só os da tribuna de honra não levam com água em cima.

O projeto inicial tinha uma certa lógica e dignidade. Os remendos que se seguiram são apenas remendos.

Pala por pala antes a de Entrecampos (obra dos anos 50?), que ao menos tapa qualquer coisa.













terça-feira, 14 de janeiro de 2025

MAIS UM GUINNESS DO OPORTUNISMO

Quando pensas que as coisas não podem piorar, há um André Pestana que já passou por várias formações políticas de esquerda e que agora não quer ser de esquerda porque "a maioria da população associa a esquerda aos antigos governos do PS e a regimes antidemocráticos". Lata há. Vergonha, nem por isso.


OLIVIERO TOSCANI (1942-2025)

É, seguramente, um dos nomes mais marcantes da fotografia (publicitária, mas não só) o século XX. Sem ele, tenho a certeza que a Benetton não se teria tornado no sucesso universal que é.

Oliviero Toscano, ontem falecido, foi o autor de algumas das mais ousadas, provocatórias e bonitas fotografias que já vi. Como esta.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

O ELOGIO...

No outro dia fizeram-me um elogio. Era do género "deixa-te estar aí [Panteão Nacional], que aí estás bem". Divirto-me sempre com estas situações. E com votos que significam, nestes casos, não te queremos por perto.

Agradeço muito estes "elogios", mas continuarei a seguir o meu caminho.


domingo, 12 de janeiro de 2025

5.000 EUROS "O METRO"

Queixava-me eu, há meses, do preço da água nos restaurantes algarvios. Refiro-me a água da rede, servida em garrafas em estilo fancy.

Afinal, o preço cobrado (3.600 euros o metro cúbico) até era barato. No outro dia, serviram-me, em Lisboa, uma garrafa de água de 70 cl. Água da torneira, claro. No final, 3,50 euros. Ou seja, 5.000 euros "o metro". Ou seja, uma perfeita vigarice. Nem uma gota de água, na próxima vez!

sábado, 11 de janeiro de 2025

STARDUST MEMORIES Nº 80: TRIPOLI

Esta imagem apareceu aqui há exatamente nove anos. Retomo-a hoje. Data da primavera de 2008 (17 anos já) e foi feita em Tripoli, na esquina da Rua Umar al-Mukhtar com a Praça dos Mártires. Dentro da carroça havia um parzinho de namorados, que dava voltas e mais voltas à praça.

O que me chamou a atenção foi o colorido da carroça, que me fazia lembrar as que eu via nas romarias, em Paymogo. Fotografei-a com um rolo velvia 100 (slides, hoje uma relíquia).

Quando a Conceição Lopes me apanhou, estava eu a explicar ao moço como é que a minha R7 funcionava...


quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

AINDA PENSEI QUE TIVESSE OUVIDO MAL...

Anteontem de manhã, Fernando Alves citou, a sua crónica, Durão Barroso. Teria ele dito, num seminário, "se os grandes poderes conseguissem isso, com essa facilidade, impor a paz, porque é que não fizeram isso em relação ao Médio Oriente?".

Pensei, sem ironia, ter percebido mal alguma coisa. Ao chegar a Santa Apolónia fui comprar o jornal. Estava tudo escarrapachado no "Diário de Notícias".

Vão ver que fui eu o mordomo daquela cena triste nos Açores...

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

EÇA NO PANTEÃO

Eça de Queiroz está, a partir de hoje, no Panteão Nacional. Foi o final de um processo longo, que terminou muito muito bem. Um cerimónia digna e apropriada.

A partir de amanhã a nova sala tumular fica visitável.

O Panteão terá mais três iniciativas (duas delas "de peso") até final do mês.


terça-feira, 7 de janeiro de 2025

MÁSCARA Nº. 24: HAVANA

Havana, novembro de 2024. Mais uma face na paisagem urbana.

Uma cara algo "nariguda" na Avenida Salvador Allende.



segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

VAI A PÉ, SATANÁS

O poeta Alexandre O'Neill, que trabalhava também como publicitário, sugeriu à administração do Metropolitano de Lisboa, como frase de lançamento do novo meio de transporte, Vá de metro, Satanás. A frase era genial, mas não foi aprovada, claro.

Os atrasos são tantos, mas tantos (quase todos os dias as benditas linhas verde e azul e eles pedem a nossa compreensão...), que não deveria ser vá de metro, Satanás, mas sim vai a pé, Satanás.


domingo, 5 de janeiro de 2025

AMOR PALAFÍTICO

Regresso, quase 10 anos volvidos, à Carrasqueira. Achei, talvez equivocadamente, que algumas coisas mudaram. Notei, estarei enganado?, que havia uma certa "privatização" de alguns passadiços. Pareceu-me, estarei a ser atraiçoado pela memória?, que havia mais barraquinhas de apoio à pesca. Como a da fotografia, com tanto amor palafítico. Um sítio extraordinário, em qualquer caso.

Repito o poema aqui publicado num já distante 15.3.2015:

Manhã no Sado
Brancas, as velas
eram sonhos que o rio sonhava alto....

Meninas debruçadas em janelas,
viam-se, à flor azul das águas, as gaivotas.
E a Manhã quieta (sorrindo, linda, vinha vindo a Primavera…)
punha os pés melindrosos entre as conchas.
Derivavam jardins imponderáveis
dos seus passos de ninfa
e tremiam as conchas
de súbitas carícias.

Longe era tudo: o medo dos naufrágios,
as angústias dos homens, o desgosto,
os esgares das tragédias e comédias
de cada um, os lutos, as derrotas.
Longe a paz verdadeira das crianças
e a teimosia heróica dos que esperam.

Ali, à beira-rio,
de olhos só para o rio, de ouvidos surdos
ao que não é a música das águas,
um sossego alegórico persiste.
Nem o arfar das velas o perturba.
Nem o rumor dos seios capitosos
da Manhã, que nas águas desabrocham
e flutuam, doentes de perfume.
Nem a presença humana do Poeta
- sombra que a pouco e pouco se ilumina
e se dilui, anónima, na aragem…

Sebastião da Gama

sábado, 4 de janeiro de 2025

RÁDIO SAUDADE: UM ANO

Um projeto "improvável": divulgar, a partir da estação radiofónica da minha terra (Rádio Planície), cantores, grupos ou compositores já desaparecidos ou injustamente esquecidos. Dá um pouco mais de trabalho do que parece, em especial pela necessidade de escrever os textos de suporte.

Assim é, desde há um ano. O programa passa aos domingos, pouco depois das 12, repetindo às quartas, a seguir às 19.

Eis a listagem do que se ouviu entre janeiro de 2024 e a presente data (a emissão 53 é amanhã). Está já selecionados os protagonistas das emissões 54 a 75: por ex. no número 60 aparecerá Carlos Paredes, no 70 será o Quarteto 1111, no 75 a quase esquecida Dalida.

As primeiras 40 emissões estão em

https://soundcloud.com/user-129438212/sets/radio-saudade

1: José Coelho
2: Amália Rodrigues
3: José Coelho
4: Nuccia Buongiovanni
5: Alberto Ribeiro
6: Pink Martini
7: Arucivetus
8: Dolores Duran
9: Heróis do Mar
10: Pérez Prado
11: Lucília do Carmo
12: Luís Rendall
13: Ary dos Santos
14: Dick Farney
15: Conjunto de Oliveira Muge
16: Celia Cruz
17: Zeca Afonso
18: Milva
19: Carlos Ramos
20: Gal Costa
21: Luís Piçarra
22: Anna Magnani
23: Francisco José
24: Los Panchos
25: Frederico de Freitas
26: Dorival Caymmi
27: Raffaella Carrà
28: Trio Guadiana (com Quim Barreiros)
29: António Machin
30: João Maria Tudela
31: Charles Trenet
32: Maria de Fátima Bravo
33: Diblo Dibala
34: Tristão da Silva
35: Peggy Lee
36: Duo Ouro Negro
37: Gilbert Bécaud
38: Adriano Correia de Oliveira
39: Os Tubarões
40: Os Titãs
41: Nicola di Bari
42: Tony de Matos
43: Cesária Évora
44: Jose Mário Branco
45: Georges Brassens
46: Luís Cília
47: Jacques Brel
48: Rui de Mascarenhas
49: Doris Day
50: Banda do Casaco
51: João Gilberto
52: Carlos do Carmo
53: The Specials

Estes são os 53:









sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

2025 EM QUATRO PARÁGRAFOS

O que esperar deste ano em que entramos? Nunca os tempos foram tão incertos e tão preocupantes como aqueles que vivemos.

 

Fora de portas: Rodeados por líderes, em geral, muito fracos, com uma guerra que se arrasta na Ucrânia (importaria ler um pouco de História e ver “como isto começou”…), por entre os interesses americanos, a incompetência europeia e um Kremlin que sempre foi o herdeiro do império bizantino, o que causa preocupação são as quase quatro mil ogivas nucleares ativas. E não falemos de Gaza, que é a vergonha de todos nós. A nível internacional, não há motivos para tranquilidade.

 

Em Portugal: Importa fazer perceber ao Governo que o problema não é o Estado. E que, mais do que nunca, precisamos de serviços públicos de qualidade (a começar pela Saúde), que precisamos de segurança (sem paranoias securitárias e a falsa ideia de que Portugal é um país perigoso), que precisamos de transportes públicos em condições, que precisamos do ensino público. Precisamos de trabalho pago com justiça e com dignidade.

 

No Alentejo: A nossa região passa por uma revolução demográfica sem precedentes. A integração dos imigrantes é o nosso grande desafio. Por mais que a alguns custe encaixar a ideia, a imagem folclórica do Alentejo criada pelo fascismo é para as vitrinas da História. O Alentejo do século XXI já é outro. Tenho ainda a esperança em duas coisas: primeiro, que se acabe, de vez, com a miragem de um aeroporto em Beja como alternativa a Lisboa; segundo, que se consiga fazer de Évora uma digna capital europeia da cultura em 2027.

 

Em Moura: Para a minha terra faço votos de mudança política e que o atual e incompetente executivo seja removido por uma Câmara de maioria CDU. Porque o meu concelho merece tempos de esperança.


Texto hoje, no "Diário do Alentejo"



quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A TERCEIRA IDADE DE UMA REVOLUÇÃO

Quando este jornal estiver a sair está a celebrar-se em Cuba o 66º. aniversário da tomada do poder pelos revolucionários de Fidel Castro. Havana era, até então, uma banal extensão dos prostíbulos de Miami. O governo de Fulgencio Batista (1901-1973) destacava-se por níveis nunca vistos de corrupção e de incompetência. A opressão sobre o povo cubano era uma realidade. Daí que a adesão da população tenha sido generalizada e que a revolução tenha triunfado. Batista tomou o caminho do exílio. Morreu, em 1973, na estância balnear de Marbella. Os seus seguidores espalharam o terror, onde puderam, durante mais quatro ou cinco anos. Em meados da década de 60, mesmo com a ajuda dos americanos, a contrarrevolução fracassava.

A ilusão de um marxismo caribenho, romântico e independente, duraria pouco. Os americanos rapidamente hostilizaram um regime que, de forma crescente, teve o apoio soviético. A primeira, ilusória e curta, idade da revolução estava consumada. Durante cerca de duas décadas e meia, Cuba resistiu de forma notável e conseguiu aquilo que quase não existe na América Latina: elevados níveis de educação, cuidados de saúde e segurança. A supressão de liberdades individuais foi um facto, mas pergunto-me, muitas vezes, qual a liberdade dos mais de 30% de colombianos ou de 20 % de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza… E não falemos do perigo urbano no México, na Guatemala ou nas Honduras.

Mas 1959 foi há 66 anos e já são poucos os que têm memória da Cuba pré-Fidel Castro. Duas semanas em Cuba – andando à solta, sem excursões organizadas, nem resorts nem idas a “sítios obrigatórios” – deixaram-me impressões (não lhe chamarei opiniões, porque não sou especialista no tema) sobre um País em mudança.

Do socialismo caribenho restam meia-dúzia de “slogans” e uma população que vive à margem da militância política. O embargo americano – uma monstruosidade sem pés nem cabeça – tornou a economia num sistema de penúria, onde o que funciona passa para mãos estrangeiras (como os “Habanos”, que hoje pertencem em 50% a investidores asiáticos). O salário médio oficial é de cerca de 35 euros. Mas o turismo criou uma sociedade de classes: os que têm meios e os que não têm nada. O frugal igualitarismo de outrora foi-se e o abastecimento de energia (os hotéis e os que têm posses têm geradores e têm luz) pareceu-me ser a face mais evidente dessa desigualdade.

A esperança e o sonho de outrora já não são visíveis. Uma pessoa bem colocada, com quem pude falar, dizia-me ter a convicção, que uma parte da estrutura política está a deixar “deslizar” o sistema, de forma deliberada. Acredito sinceramente que assim seja. Até porque os Estados Unidos são a grande miragem. Há bandeiras e bandeirinhas dos U.S.A. por toda a parte. Parece quase provocatório, mas não se vê sinal de opressão sobre os “atrevidos”.

Ao final de uma tarde luminosa subi ao Memorial José Martí e coloquei-me muito perto do sítio onde Fidel Castro fazia os seus discursos. Fidel não construiu qualquer “culto da personalidade” (terei visto duas ou três imagens dele em locais públicos, não mais que isso), o que me reforça a imagem que dele tinha: um homem e um líder de qualidade superior.

O sonho falhou? Quase. O nível de educação e dos cuidados de saúde (até onde puderam resistir, neste último caso) não têm comparação com qualquer outro ponto para baixo de El Paso. A segurança urbana é total. Um dia deixará de ser assim. Nessa altura, outros emergirão. Novos combates terão de ser travados. A América Latina, no meio das suas enormes contradições, por entre os seus caudilhos, soube sempre criar soluções libertadoras. Velasco Alvarado, Juan José Torres, João Goulart, Salvador Allende, Omar Torrijos fazem parte desse grupo de homens de exceção. Outros sonhos e outras cubas haverá.

Crónica em "A Planície"


quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

2024 X 12 É IGUAL A 12

O que (me) aconteceu em 2024? Um par de coisas, profissionalmente falando... Um ano que agora chegou ao fim. Escolho doze momentos marcantes, sem serem à razão de um por mês.

7.1 - Rádio Saudade: arranque das emissões radiofónicas.

6.2 - Rádio Renascença: debate sobre Património.

13.3 - Vanitas: inauguração de uma exposição que marcou o ano, no monumento.

16.3 - Amareleja: conversa com estudantes muito jovens, no meu concelho.

20.4 - Dia da Voz: o cante alentejano num dia duplo.

20.5 - Património arquitetónico da Caixa Geral de Depósitos: apresentação do livro.

7.5 - Inauguração da exposição "Fausto Giaccone: o *Povo no Panteão".

5.6 - Azimute: entrevista a muito jovens candidatos a jornalistas.

12.9 - Entrega do Prémio Gulbenkian Património - Maria Tereza e Vasco Vilalva.

8.10 - Primeira de duas conferências sobre o Museu das Descobertas.

2.11 - O mar sem fim: estreia da oratória, que a RTP2 gravou

8.12 - Participação na apresentação de um livro de Ana Baião sobre o cante alentejano.

Um terço do que destaco é Panteão. Um defeito antigo (sem ironia, é mesmo falha), o de mergulhar nas coisas tão a fundo desta maneira... Já não deve ter remédio.


https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/01/radio-saudade.html


https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/02/hoje-na-renascenca.html


https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/03/vanitas.html
















https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/03/de-oeiras-amareleja.html

terça-feira, 31 de dezembro de 2024

CUBA 3/10: AMANHÃ

Celebram-se amanhã 66 anos. A fotografia, onde vemos, da esquerda para a direita, Che, Fidel e Cienfuegos, data de 8 de janeiro, dia em que o líder da guerrilha entrou em Havana.

Cienfuegos morreu poucos meses mais tarde, Che faleceu em 1967, Fidel em 2016. A revolução perdeu a sua aura romântica? Sim. Mas nunca deixará de nos fazer sonhar. E veio mostrar que a vontade dos povos deve ser mais forte que o imperialismo.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

RAMAL DE SUESTE - 35 ANOS SE PASSARAM

No dia 31 de dezembro de 1989 terminou o transporte ferroviário de passageiros para Moura.

Nos últimos tempos, a frequência de automotoras diminuira e o número de passageiros caira. O número de carros particulares tinha subido muito e em vez de duas horas e meia de trajeto, ida e volta, gastava-se menos uma hora. As automotoras eram, em segunda classe, desconfortáveis (toda a gente se lembra dos célebres bancos em sumapau) e cheirava a gasóleo dentro da carruagem. O Governo, a CP, o Estado, estavam-se/estão-se marimbando para estas longínquas paragens. O desinvestimento foi evidente, a qualidade do serviço era uma desgraça e a linha fechou.

O edifício em si teve, depois, uma longa história, que terminou com a sua cedência à autarquia. Mas isso será tema para outra conversa, um destes dias.

Do ponto de vista pessoal, e defensor que sou dos transportes públicos, continuei a usar o comboio. Ainda este mês, numa só semana, fui a Braga uma vez e outra ao Porto. Para Moura é que não deverei voltar a fazer o trajeto dessa forma.

domingo, 29 de dezembro de 2024

BOOGIE DOODLE

Memória de um fantástico e hoje pouco visto - fora do circuito cinéfilo - fazedor de imagens. Nasceu no Reino Unido, fez a maior parte da sua carreira no Canadá e chamou-se Norman McLaren (1914-1987). Como hoje em dia só temos direito a telelixo, aqui vos deixo estes momentos de pura magia.


sábado, 28 de dezembro de 2024

MEIA DOSE É MEIO OVO

As sofisticadas avaliações que, hoje em dia, se fazem, a propósito de bistrôs, fine dinnings, tabernas chiques etc., trazem-me sempre à memória aquele modesto restaurante de uma vila na raia alentejana onde serviam doses e meias-doses de grão com bacalhau. Um prato simples e que continua a estar no meu top de preferências na idade adulta (bacalhau era, na infância, sinónimo de birras e de bofetadas).

Qual a particularidade? É que a meia-dose vinha sempre com meio ovo cozido, cirurugicamente cortado. Quando uma amiga estranhou o "procedimento", clarifiquei: se é meia-dose é meio ovo; quando pedes meia de frango assado, também é meio frango.

As saudades que eu tenho desse pequeno e simpático restaurante, por onde onde passavam as pessoas que vinham dos montes, e ali tomavam uma refeição e mudavam de sapatos, para entrarem na vila.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

A PROPÓSITO DO PANAMÁ

Este texto foi publicado no "Diário do Alentejo" no dia 21.1.1999. Há mais de um quarto de século. Deixo-o, sem mais comentários, à consideração de quem possa estar interessado no aqui se publica.

Retiraria apenas a última frase: "o imperialismo não morreu, apenas se foi tornando mais subtil e sofisticado".


QUARTA-FEIRA, 21 DE JANEIRO DE 2009

O NASCIMENTO DE UMA NAÇÃO

Não é todos os dias que alguém decide criar um país. Foi, contudo, o que sucedeu em 1903, quando o presidente americano Theodore Roosevelt pôs termo a infindáveis negociações com a Colômbia e determinou que a parte norte deste país se tornaria independente e que teria o nome de República do Panamá.
a
A discórdia, se assim se lhe pode chamar, entre as duas nações girava em torno da abertura de um canal ligando o Atlântico e o Pacífico. A empresa construtora falira e o impasse prolongava-se sem acordo à vista. Depois de uma rápida rebelião orquestrada pelo governo norte-americano e organizada no terreno por um engenheiro chamado Bunau-Varilla os colombianos ainda esboçaram um simulacro de resistência, enviando para a cidade de Colón 200 soldados. A companhia ferroviária argumentou que não tinha a possibilidade d e transportar tanta gente e acedeu em fazer chegar à cidade do Panamá apenas o general Tokar e os seus ajudantes de campo. Ali foram amigavelmente recebidos, convidados para almoçar e depois gentilmente metidos na cadeia. Todas estas cenas de opereta estão contadas no fascinante Getting to know the general, de Graham Greene.
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A 3 de Novembro de 1903 nascia o novo país. Uma semana mais tarde o governo americano e Bunau-Varilla assinavam um tratado referente ao canal, numa cerimónia em que não interveio qualquer panamiano. Durante quase um século, os Estados Unidos detiveram um completo controlo sobre 1432 km2 de outro país: o canal propriamente dito e mais 5 km para cada lado. Ali mandavam os norte-americanos: leis, tropas, tribunais, tudo se regia por princípios idênticos aos de qualquer outro estado da União. Aos panamianos estava destinado o papel de estrangeiros na sua própria terra. A Theodore Roosevelt estaria reservado o Prémio Nobel da Paz de 1906, bem como a construção da teoria do big stick, uma certa forma América de conceber a política externa e o Mundo.
a
Décadas de humilhação e de ocupação ilegítima desse troço de território terminaram, de forma quase total, no dia 31 de Dezembro de 1999, quando o canal passou para a posse do Panamá, por entre comentários paternalistas sobre a capacidade dos indígenas em gerirem o seu próprio país. Graham Greene, e o seu anfitrião, o general Omar Torrijos, já não viram esse dia. Nem puderam saber que continua de pé a cláusula que prevê a possibilidade de os Estados Unidos poderem intervir militarmente se o Panamá não puder assegurar a segurança da zona. Nada de muito supreendente. O imperialismo não morreu, apenas se foi tornando mais subtil e sofisticado.


Está crónica foi publicada no DIÁRIO DO ALENTEJO, faz hoje exactamente dez anos. O tema continua actual. Omar Torrijos pereceu num desastre de aviação, em 1981. Graham Greene faleceu em 1981, aos 87 anos. O livro está disponível na amazon, com preços a partir dos 2 euros.
A imagem de Ansel Adams (1902-1984), captada no deserto do Nevada, em 1960, aponta para o infinito e para os caminhos que nunca se acabam nem se concluem.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

O MELHOR...

Uma avalanche, a toda a hora, em toda a comunicação social: há sempre alguém a descobrir a melhor qualquercoisadomundo: a melhor praia / a melhor bica / o melhor pão / o melhor pastel de nata / o melhor queijo / a melhor imperial. Bora lá a descobrir onde é q melhor paisagem, a melhor praia, a melhor cascata, a melhor sombra, o melhor trail, o melhor por do sol, a melhor montanha. Um pesadelo de coisas melhores.

Quando, há semanas, fui de férias fui inquirido no regresso "foste ao sítio tal? e ao bar tal?". E eu não, nem um nem outro. Não tenho pachorra para picar sítios e tenho pouco instinto gregário. Nunca fui à melhor qualquercoisadomundo. Não sou menos feliz por isso. Paciência é coisa que nunca tive assim em grande quantidade.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2024

É NATAL NO PARAÍSO...

RECECIONISTA: Happy Christmas!
DEBBIE: Oh, is it Christmas today?
RECECIONISTA: Of course, madam. It's Christmas every day in Heaven.

É assim que começa a última cena do filme "O sentido da vida", dos Monty Python. Depois, Graham Chapman (1941-1989) aparece disfarçado à Freddy Breck, à Tony Bennett ou à Engelbert Humperdinck, algo assim.

Uma recordação para o dia de hoje.


terça-feira, 24 de dezembro de 2024

MÁSCARA Nº. 23: BARCELOS

Olhos, nariz e boca na Igreja do Senhor Bom Jesus da Cruz. Mais uma "cara" para a coleção. De Trinidad, Cuba, se passa para Barcelos, Portugal: 6900 kms. de distância.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

CEAL: O TEMPLO DA ENERGIA

A central elétrica já existia desde há umas décadas quando era criança. A minha geração conhecia o edifício como sendo da CEAL - COMPANHIA ELÉCTRICA DO ALENTEJO E ALGARVE — CEAL, S.A.R.L. -, constituída em 4 de Novembro de 1954. A CEAL foi nacionalizada em 15 de Abril e integrada na EDP – Electricidade de Portugal, E.P. em 1976.

O projeto inicial, segundo informação do meu colega José Francisco Finha foi da autoria do Eng. Carlos Alberto Roeder (de acordo com o Jornal de Moura de maio de 1928, que o José Francisco generosamente me enviou). O edifício teve depois uma adaptação interior - creio que do já desaparecido arq. José Garrett -, estando hoje ocupado por instalações da Guarda Nacional Republicana.

Fica-me uma dúvida, e uma vez que o texto do J.M. não é explícito. O eng. Carlos Alberto Roeder foi autor do projeto técnico da central e também do arquitetónico? É que o desenho - fenestrações e frontão ao jeito clássico - "remete" para a intervenção do arq. Jorge Segurado em Moura, ocorrida na mesma altura.

O que tem graça no desenho original é aquele ar de fábrica-templo, tão ao gosto do século XIX. A burguesia "nobilitava-se" indo buscar inspiração no mundo greco-romano (Paestum na imagem inferior).

Ver: http://arquivo.jornalarquitectos.pt/pt/243/destaque%201/

domingo, 22 de dezembro de 2024

O ÚLTIMO LIVRO DE ASTÉRIX

O último livro de Astérix data, de facto, de 1976 (Obélix e companhia). René Goscinny morreu, muito novo, em 1977. Depois disso, "saiu" Astérix entre os belgas, começado por Goscinny, mas que ele já não terminou.

René Goscinny era um genial criador e o último livro que completou - Obélix e companhia - é uma mordaz sátira ao sistema capitalista e à criação e venda de (in)utilidades.

De 1979 até hoje sairam mais 16 livros. Nenhum deles ultrapassa o patamar da mediocridade. Vem aí outro, em 2025. É para vender e da muitos milhões, aposto eu. Valham-nos os 24 livros que foram publicados entre 1961 e 1979.


sábado, 21 de dezembro de 2024

GAIA ISLÂMICA

Não há mouros no norte? Em princípio, não. É isso o que se diz. Mas há dias, em Gaia, dei com este edifício, a cerca de 300 metros da gare ferroviária. É tudo o que resta da outrora produtiva Companhia Cerâmica das Devezas. Do outro lado da rua há uma casa em mau estado, de gosto bourgeois ao estilo do final do século XIX. Cerâmicas polícromas, merlões de raíz oriental, arcos ultrapassados, um neo-mourisco, mais do sul que do norte. Uma Gaia com arte islâmica.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

QUANDO ZECA LEU O FUTURO

Se o Adolfo pudesse ressuscitar em Abril
Dançava a dança macabra com os meninos nazis

Depois mandava-os a todos
Com treze anos ou menos
Entrar na ordem teutónica
Combater os sarracenos

Os pretos, os comunistas
Os Índios, os turcomanos
Morram todos os hirsutos!
Fiquem só os arianos!

A ignomínia que a imagem mostra aconteceu ontem. Porquê e em nome de quê?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

O'NEILL

Centenário do nascimento. Hoje.

 








Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

linda vista para o mar,

Minho verde, Algarve de cal,

jerico rapando o espinhaço da terra,

surdo e miudinho,

moinho a braços com um vento

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

se fosses só o sal, o sol, o sul,

o ladino pardal,

o manso boi coloquial,

a rechinante sardinha,

a desancada varina,

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

a muda queixa amendoada

duns olhos pestanítidos,

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

o ferrugento cão asmático das praias,

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!

 

*

 

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,

galo que cante a cores na minha prateleira,

alvura arrendada para ó meu devaneio,

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

 

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

golpe até ao osso, fome sem entretém,

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

rocim engraxado,

feira cabisbaixa,

meu remorso,

meu remorso de todos nós...


ó Portugal, se fosses só três sílabas

de plástico, que era mais barato!