Quando um dia perguntaram ao estadista britânico Winston Churchill qual a razão da sua persistente boa forma respondeu, imagino que entre duas baforadas de charuto, “first of all, no sports!” (antes de mais, nada de desporto).
A minha relação com o desporto foi sempre difícil. Na verdade, gosto da actividade desportiva, se considerarmos como tal gostar de ver as moças da natação sincronizada ou as velocistas jamaicanas. Ou assistir ao futebol com os amigos numa esplanada ou no estádio.
Limitações de ordem física impediram-me sempre de ir mais além. A falta de vontade em um dia vir a ser campeão olímpico também ajudou um pouco. O João bem que tentou, numa longa saga. Primeiro a ginástica, no Grupo Desportivo de Queluz. Ao fim de seis meses e de quase provocar um colapso nervoso no prof (nunca consegui fazer o pino) achei que a ginástica não era para mim. Depois o basket, porque foram buscar os mais altos ao liceu e assim tive a oportunidade de vislumbrar uma gloriosa carreira no banco. Durou uma semana. Depois veio o atletismo. O João ia beber uns copos de vez em quando a um café de um senhor de Pias, cujo filho, António Cachola, era campeão nacional de velocidade. Vai daí teve a triste ideia de dizer ao João “porque é que não leva o rapaz lá ao Benfica?”. A ideia pareceu-me péssima mas o João achou-a óptima. Dois dias depois estava às voltas ao Estádio da Luz. A mesma cena. Voltas e mais voltas, chuva e um frio de rachar. Durou duas semanas. Quarta tentativa, a natação. Agora é que é. No Benfica outra vez. Aulas de aprendizagem, onde se faz a primeira escolha dos que um dia irão nadar à séria. O mestre era nem mais nem menos que o célebre Shintaro Yokochi. Não foi completamente mau, embora hoje tenha remorsos do trabalho que dei ao prof. Yokochi, um caso raro de dedicação, uma vez que ele próprio ensinava à miudagem as técnicas e os truques das técnicas. Como me safei? Em bruços era assim-assim, no crawl fracote, em costas um pouco pior. O drama foi na mariposa. Nunca dominei a técnica, que não é fácil, e não conseguia bater as pernas ao mesmo tempo que os braços. Ou uma coisa ou outra, o que me fazia avançar os solavancos. Parecia que tinha soluços debaixo de água, o que desesperava o treinador e os adjuntos. Fui piedosamente remetido para as classes de manutenção, onde convivia com outros adolescentes borbulhentos e desajeitados como eu, com velhotes com asma e com senhoras solitárias. Capítulo final: o remo. Mais dificuldades. Os barcos eram velhos e pesados, o rio Tejo sujíssimo e os treinos monótonos, para trás e para a frente como os cacilheiros, só que muito mais devagar. Foi coisa para uns dois meses.
Desisti de vez. Claro está que, com o passar dos anos, começamos a ter preocupações, aquelas que antes não tínhamos, com a saúde. E quando um dia fui fazer um electro-cardiograma, e me assustei um pouco com tantos fios e tantos monitores porque nunca tinha feito nada daquilo, só descansei no momento em que a Elsa exclamou “ena! 61 pulsações! Como é que é isto?”. Antes que alguém pensasse que o aparelho podia estar avariado, senti-me vingado e quase pronto para a maratona olímpica. Pude então revelar o segredo: um cognac Martell com regularidade a seguir ao jantar e, sobretudo, nada de desporto.
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1 comentário:
E ninguém comentou este texto ? Os teus leitores sao uns caretas : ((
Acabo de apanhar uma panzada (ou pazada?) de rir
: )))
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