terça-feira, 21 de novembro de 2023

UMA ÓPERA NO BARREIRO

Há muitos anos, numa aula de Arte Contemporânea, o dr. Rio-Carvalho usou as duas horas daquele final de tarde explicando-nos a beleza do Barreiro. Escreveria, dias depois, um artigo sobre esse tema para o "Jornal de Letras". Uma sua aluna tinha-lhe apresentado um trabalho intitulado "Para compreender a beleza do Barreiro". Intrigado, Rio-Carvalho foi passear para a margem sul. Lembro-me da paisagem industrial lhe evocar o "Deserto Vermelho", de Antonioni, e dele próprio dizer que o mercado municipal, na sua arquitetura neo-árabe, era o cenário ideal para uma "Carmen".

Manuel Rio-Carvalho era um professor invulgar e com um conhecimento profundo de Arte. Foi um dos quatro ou cinco que (me) fizeram a diferença, na desgraça que era a Facudade de Letras na primeira metade da década de 80.

Aquele episódio ficou no fundo da minha memória, até ao passado domingo. Ao olhar para uma fotografia de Augusto Cabrita, do 1º. de maio de 1974, pensei "era este o edifício de que o Rio nos falava; vou ver como é". O mercado fica na zona antiga. Ao chegar, reparei que a fachada neo-árabe foi ocultada por um expansão desgraçada e cheia de nomes sonantes. Toda a poesia do lugar se foi. Meti-me rapidamente no carro e voltei para a margem norte.


1 comentário:

luis tavares disse...

Lembro-me muito bem dele...Foi meu professor de História de Arte, pelos anos de 1969, na ESBAL.
Uma figura.