Conheci o Chola (nome de guerra) num já distante mês de setembro de 1983. Foram mais de 40 anos de uma amizade firme. Era daqueles colegas com quem se podia contar, sempre e a qualquer hora. Quando, nas infindáveis montagens dos museus, era preciso ficar, sem saber a que horas se iria terminar, ele estava lá. Sempre. A bonomia e um modo tranquilo de trabalhar iam a par com a discrição e com um jeito silencioso de estar. No trabalho de campo era exemplarmente dedicado e metódico. Não sabia dizer "não!". Estava sempre disponível para ajudar e para melhorar o trabalho dos outros. Escavava de forma inteligente e exemplar. Quantas vezes olhou para o que eu estava a fazer com ar pesaroso (os trabalhos manuais nunca foram o meu forte) aproveitando um qualquer pretexto para dizer "deixa estar que acabo". Ou seja, ia deixar o terreno em condições.
Tive dele ajudas decisivas - silenciosas e discretas, como sempre - nos meus trabalhos de investigação. As recolhas de materiais osteológicos que consumiram boa parte do inverno de 1990/91 fizeram parte dessa saga. Quando lhe agradecia, dizia-me, encolhendo os ombros "tão, isto tem que ser, não?...". Foi com pessoas como o Chola que se fez o Campo Arqueológico e se construiu o projeto de Mértola. Agora, que os anos passaram (o Campo vai com 47 anos!) firma-se-me essa certeza.
No almoço de dia 15 de março disse-lhe "agora, no festival islâmico, temos que tomar uns birinaites". Riu e respondeu "e a gente toma".
Não voltarei a estar com ele. E vou ter saudades do homem simples, humilde e bondoso que conheci durante mais de 40 anos. Dele recordarei sempre a generosidade e a entrega. E como ele já há muito poucos. Cada vez menos.
Aqui fica uma imagem da "velha guarda" (estamos dois no serviço ativo, e nem o Miguel nem eu em Mértola), feita na noite de 21.12.2024.
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