Até dia 31 de agosto. Imagens e o meu texto para a exposição:
LAWRENCE WEINER NO PANTEÃO NACIONAL
Ceci n’est pas un Panthéon, seríamos tentados a dizer ante a profusão de palavras na obra de Lawrence Weiner, que se abre aos nossos olhos.
As palavras na pintura, como na aludida obra de René Magritte, não são coisa recente. Numa célebre “Anunciação”, pintada por Simone Martini e Lippo Memmi cerca de 1330, lemos as palavras do anjo “Ave Maria, gratia plena, dominus tecum”. Não sendo novidade, não são também frequentes. Assumem valor de auxiliar de narrativa em Roy Lichtenstein e ganham caráter panfletário em obras como “Alabama”, de Robert Indiana. Contudo, só com Lawrence Weiner a linguagem está no centro da produção artística. O próprio dizia que o seu trabalho era a linguagem, mais os materiais que lhe dizem respeito.
Era, por isso difícil, encontrar melhor cenário do que o ambiente barroco do Panteão Nacional para este “Around the world”. Pela escala monumental do edifício e da obra de Lawrence Weiner, pelo que representam alguns dos navegadores aqui homenageados, pela cúpula celeste que nos domina. O Equador e a Viagem são temas próximos a muitos dos que aqui se encontram.
Na narrativa “Embaixadas em Bizâncio”, Liutprando de Cremona descreve, em meados do século X, como o imperador Constantino Porfirogeneta se fazia elevar à cúpula do palácio, tornando-se a presença da Deus na Terra. Não é esse o nosso espaço. Nem sequer, sendo este um espaço mortuário, “a cúpula imensa dum sepulcro enorme” do poema de Antônio Castro Alves. A nossa cúpula é terrena e viva e fica maior, melhor e mais próxima do mundo com a obra de Lawrence Weiner.
Santiago Macias
Diretor do Panteão Nacional
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