Há dias, surgiu no "Público", um questionário que o jornal faz a personalidades da vida pública portuguesa.
Não pertenço a esse grupo, claro. Mas resolvi responder "ao Proust", acrescentando este pós-Proust.
O autor do blogue, por si próprio.
QUESTIONÁRIO 1
O principal aspeto da minha personalidade.
A capacidade de persistir. Sem me desconcentrar.
A qualidade que desejo num homem.
A honestidade.
A qualidade que desejo numa mulher.
Idem.
O que eu mais aprecio nos meus amigos.
A paciência que têm para me aturarem...
Meu principal defeito.
Uma razoável dose de intolerância. Decantada com uma certa impaciência.
Minha ocupação favorita.
No essencial, trabalhar no que gosto. O que varia muito.
Meu sonho de felicidade.
Que, às vezes, em certos momentos, o relógio do tempo pudesse parar.
Qual seria a minha maior desgraça?
A absoluta solidão de não ter família.
O que eu gostaria de ser.
“Vou passar a noite a Sintra por não poder passá-la em Lisboa, / Mas, quando chegar a Sintra, terei pena de não ter ficado em Lisboa”. Senti, muitas vezes isto, ao longo da minha carreira, a permanente dúvida. Talvez fotógrafo/repórter, se tivesse tido talento para tal.
O país onde eu gostaria de viver.
Na pátria mediterrânica, que é aquela onde vivo. Ou seja, em Portugal, apesar de tudo... Mas não me importaria de viver no sul de Espanha, em Tânger ou numa ilha grega.
A minha cor favorita.
O azul, todos os dias; o amarelo e o negro, quando me lembro de Moura.
A flor de que eu gosto.
O cravo, símbolo da Liberdade.
O meu pássaro favorito.
A águia, por ver mais longe.
Os meus autores de prosa favoritos.
Não sei se são os favoritos, mas foram os mais marcantes: Albert Camus, Jorge Luis Borges, Graham Greene.
Os meus poetas favoritos.
Robert Frost, Baudelaire, Pessoa.
Os meus heróis da ficção.
O major Alvega. Porque há momentos da primeira juventude que não se esquecem.
As minhas heroínas da ficção.
Fantomête, pela mesma razão.
Os meus compositores favoritos.
Os compositores anónimos do cante alentejano. Noutro registo, Beethoven e os da ópera: Puccini, Bellini, Rossini, Verdi e Wagner.
QUESTIONÁRIO 2
Já se arrependeu de alguma coisa que escreveu numa rede social? O quê?
Arrependo-me de uma ou duas coisas na vida. Mas não nas redes sociais.
Tem a noção de quantos ex-amigos tem? Cinco? Dez? Ou nunca se zangou com um amigo?
Com os amigos que são mesmo amigos a gente nunca se zanga a sério.
Qual é o elogio que menos gosta que lhe façam?
Já fizeram: “você é um grande presidente de câmara”. Foi feito por um lambe-botas imbecil que disse, e diz, isto a todos, mesmo todos, os presidentes de câmara. A banalização do elogio faz dele quase um insulto...
Fora de Portugal, qual é o lugar onde se sente em casa? E porquê?
Na Andaluzia. As origens estão lá, o sangue puxa para lá. Vejo-me a viver em Sevilha ou em Granada até ao fim dos meus dias. E em Tânger, que é a Andaluzia do lado de lá.
De que tem saudades quando está de férias? Porquê?
Nunca estou 100% de férias. Nunca desligo. Para irritação dos que me são próximos.
Quantos dias de férias precisa até se desligar?
Cf. supra.
Qual o melhor conselho que lhe deram na vida?
"Fala e escreve só do que souberes" (Cláudio Torres, há muitos anos). Falo de conselhos profissionais. Foi o único que cumpri. Deram-me muitos outros, que falhei. Aliás, ando a falhar há 60 anos...
Em que situações se considera um “chato”?
Quando estou a trabalhar. Perco a paciência com a excessiva lentidão e com o desleixo. Já fui apelidado de irascível e perfecionista, por uma colega. Um manifesto exagero...
Tem algum vício que gostaria de não ter? E um de que se orgulhe?
Vícios privados, públicas virtudes. Deixemos essas coisas de lado.
Com que personalidade (viva ou morta) gostaria de ir almoçar amanhã? Porquê?
Morta - Nelson Mandela e Fidel Castro. Dois homens acima dos outros.
Viva - Snoop Dogg. A parte pós-prandial devia ser divertida.
Noutro registo - o meu avô Francisco Ferreira; foi um homem decisivo no meu percurso de vida.
Já teve algum ataque de ansiedade? Em que circunstâncias?
Na primavera de 2003. Quando achei que não ia conseguir acabar o doutoramento. Fui para Mérida sozinho fotografar, pensar no futuro e traçar um plano. Resultou.
E já se sentiu profundamente exausto? Foi burnout?
Exausto, um par de vezes. Nessas alturas, mudo de registo. Faço outra coisa.
Se lhe pedissem conselhos para uma relação amorosa feliz, o que é que dizia?
Que há sentimentos pessoais e intransmissíveis.
É vegetariano, vegan, faz alguma dieta especial? Porquê?
Não. Às vezes, devia ter mais juízo, só isso.
Gosta de cozinhar? Qual a sua maior especialidade?
Não sei cozinhar. Nada. O limite é fritar um bife ou fazer ovos mexidos. Mas sou um lavador de pratos de elevadíssimo nível.
Qual foi o último filme ou série que viu? E qual foi o/a último/a de que gostou?
O último não me lembro. Quando não gosto, esqueço-os. O último de que gostei foi “O cão preto”, de Guan Hu. É-me importante a construção de narrativas que passem pela capacidade de bem contar uma história. Neste caso, quase sem palavras.
Qual o seu maior arrependimento?
Não ter tomado determinadas decisões no tempo certo.
Qual foi a última vez em que se surpreendeu?
Há um par de dias. Com o País a arder, anuncia-se o GP de Fórmula 1 em 2027. Perguntei-me “como é que é possível?”.
Qual foi a última coisa nova que aprendeu? Como foi?
Estou a digitalizar todos os meus milhares de slides. Nunca tinha trabalhado com um aparelho daqueles.