segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O SENTIDO PERDE-SE NA TRADUÇÃO


Um dos meus "passatempos" preferidos é ver onde andam os meus colegas de liceu e de faculdade. O que será feito daquele puto atinado que estava sempre na primeira fila, a beber os ensinamentos do prof? Onde parará aquele vândalo que só tinha ideias desatinadas e que passava metade da semana a caminho do diretivo? Que carreira terá feito a graxista-mor, que dava pontapés na gramática, mas era exímia na sabujice?

Tenho de tudo no passado escolar, embora as memórias mais vivas sejam as da Faculdade: historiadores, músicos, professores, bibliotecários, museógrafos, arquitetos, paisagistas, funcionários judiciais, jornalistas, um designer de moda, inspetores da PJ, radialistas, apresentadores de TV, um ministro (!) etc.

Mas o meu preferido é um colega de História da Arte da Faculdade de Letras que, num momento de aperto, se dedicou à tradução de filmes. Bom, mais ou menos... Foi contratado para traduzir um filme porno, que tinha o título, discreto e nada óbvio, de Os bacamartes da Mauritânia. Quando lhe disse que aquilo não devia ter nada para traduzir pôs um ar falsamente ofendido e ripostou: "é mais difícil do que pensas; são argumentos muito elaborados; o sentido-se vai-se todo na tradução".

Cruzei-me com ele há uns meses. Não falámos no assunto. Mas não está nas traduções de filmes desde há muito.

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