A ida à Estrela, no final da tarde de ontem, deu o mote aos tons dourados do resto do dia. A luz estava bonita e isso tornou-se mais evidente no interior da igreja. A paleta nacarada das paredes - rosas, azuis, amarelos, cinzas - dava um ar "romano" ao templo. Uma igreja é, também é, uma casa.
As cores, o silêncio do fim da tarde, a luz, trouxeram tranquilidade a um dia agitado. O poema de Manuel António Pina também ajudou bastante.
Primeiro abre-se a porta
por dentro sobre a tela imatura onde previamente
se escreveram palavras antigas: o cão, o jardim impresente,
a mãe para sempre morta.
Anoiteceu, apagamos a luz e, depois,
como uma foto que se guarda na carteira,
iluminam-se no quintal as flores da macieira
e, no papel de parede, agitam-se as recordações.
Protege-te delas, das recordações,
dos seus ócios, das suas conspirações;
usa cores morosas, tons mais-que-perfeitos:
o rosa para as lágrimas, o azul para os sonhos desfeitos.
Uma casa é as ruínas de uma casa,
uma coisa ameaçadora à espera de uma palavra;
desenha-a como quem embala um remorso,
com algum grau de abstracção e sem um plano rigoroso.
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