O BARCO
Margens inertes
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.
Sophia de Mello Breyner Andresen
abrem os seus braços
Um grande barco no silêncio parte.
Altas gaivotas nos ângulos a pique,
Recém-nascidas à luz, perfeita a morte.
Um grande
barco parte abandonando
As colunas de um cais ausente e branco.
E o seu rosto busca-se emergindo
Do corpo sem cabeça da cidade.
Um grande
barco desligado parte
Esculpindo de frente o vento norte.
Perfeito azul do mar, perfeita a morte
Formas claras e nítidas de espanto.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Fotografia de Kees Scherer (1920-1993), que andou por Portugal no início dos anos 60. Quem souber de barcos, conseguirá dizer se esta fotografia foi feita a norte ou a sul. Como de barcos nada sei diz-me a intuição que será mais a norte que a sul. Aquelas linhas verticais evocam, ao longe, o porto palafítico da Carrasqueira. Mas só evocam, nada mais. Mais imagens de um Portugal desaparecido, aqui através da lente de um grande fotógrafo holandês.
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