segunda-feira, 1 de julho de 2019

O MOODLE E O RESTO


Nenhum estudante do ensino superior de “A Planície” ignora esta expressão. MOODLE quer dizer Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment. É uma plataforma de apoio ao estudo. Diz a wikipedia (e isto vale o que vale) que está disponível em 75 línguas diferentes. Conta com 25.000 websites registados, em mais de 175 países.
O meu entusiasmo com estas plataformas é limitadíssimo. Habituei-me a carregar nelas a bibliografia e os powerpoints das aulas. Como estes me servem apenas de ponto de partida, não é terrivelmente interessante passar aos alunos um desfilar de imagens. Mas as regras são essas.
O meu primeiro embate com as benditas plataformas deu-se há bem mais de 10 anos. Fui aos Serviços Académicos, em Gambelas, lançar as notas. “Ah, mas isso agora é feito na plataforma”. A senhora sentou-se ao meu lado e garantiu “isto é facílimo”. Faz-se assim, assim e assim. E assim e assim. Ao oitavo ou nono “agora clica aqui”, pedi “espere, espere”. Puxei do bloco de apontamentos e fiz um diagrama com setas, repetindo os passos. Uma seta na diagonal para cima e para a direita, outra para o lado, agora em cor vermelha. Um círculo. Um ponto de exclamação, auxiliares de memória uns a seguir aos outros. Expliquei a uma atónita funcionária “assim, não tenho de usar a memória para repetir estes passos de cada vez que aqui venho”. Olhou-me com um ar de piedade. Senti a tentação de lhe dizer que, no meu liceu, havia um pbx (o que será um pbx?, perguntará algum jovem que leia este texto), os “pontos” eram feitos com stencil, não havia computadores pessoais, muito menos havia moodle.
O moodle tem vantagens? Sim, tal como a plataforma “academia”. Tal como é uma tremenda vantagem podermos recorrer a textos que estão disponíveis na net e aos quais antes só podíamos aceder em longínquas bibliotecas. Mas o moodle e as plataformas não excluem as bibliotecas, a recolha de apontamentos e, sobretudo, as longas horas de conversa à volta de temas. "Sabem como é que recrutam professores para uma das melhores universidades americanas? Pedem três livros escritos por cada um dos candidatos e é com base nisso que fazem a seleção". A afirmação foi feita ao nosso grupo, em Mértola, por José Mariano Gago, há uns bons 10 anos. Ou seja, nem peer reviews, nem dados coisométricos, nem citações, apenas a leitura e a análise de textos.
A investigação tornou-se uma técnica ensimesmada e defensiva. “Tens um estilo de escrita que é pouco académico”, comentou uma muito jovem amiga. Repetia, sem o saber, o comentário da minha orientadora de mestrado. Tomei a frase como um elogio. Ora então, vivam então a liberdade da escrita e a busca da perfeição da escrita. É nisso que penso sempre, olhando as pisadas de António Borges Coelho, a única pessoa que conheço que sabe conjugar linguagem poética, um estilo fluido de narrativa e o absoluto rigor de análise. Isso, e a leitura, são coisas decisivas. O moodle é uma circunstância com a qual se tem de viver. Como a rinite crónica.
Em setembro, regressa o moodle – via Universidade Nova - à minha vida. Será utilizado de forma parcimoniosa e pessoal. E com o recurso a diagramas. Daqueles que causam risos em colegas mais novos dos serviços académicos.

Crónica publicada hoje, em "A Planície"

Sem comentários: