Na televisão, passa uma série filmada em Corfu. Creio que é em Corfu, mas não me dei ao trabalho de confirmar. Recuo 14 anos e desemboco em Hydra e no Mosteiro do Profeta Elias, perto da cidade em linha reta, mas lá bem no alto.
Essa é uma memória de Hydra. As outras:
Que éramos bem mais novos (nós 43, a Luísa tinha 9, o Manuel ainda não chegara aos 13);
O porto;
Uma ilha sem carros;
Uma cidade que não é branca de postal turístico;
A árvore no meio da praça;
O restaurante Manolis, cuja dona nos atendia e depois recuava sem nos virar as costas, parecendo que deslizava sobre rodas;
A trovoada medonha que se abateu sobre a ilha;
Um poema de Sophia.
Há na manhã de Hydra uma claridade que é tua
Há nas coisas de Hydra uma concisão visual que é tua
Há nas coisas de Hydra a nitidez que penetra aquilo que é olhado por um deus
Aquilo que o olhar de um deus tornou impetuosamente presente -
Na manhã de Hydra
No café da praça em frente ao cais vi sobre as mesas
Uma disponibilidade transparente e nua
Que te pertence
O teu destino deveria ter passado neste porto
Onde tudo se torna impessoal e livre
Onde tudo é divino como convém ao real
Hydra, Julho de 1970
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