sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

2025 EM QUATRO PARÁGRAFOS

O que esperar deste ano em que entramos? Nunca os tempos foram tão incertos e tão preocupantes como aqueles que vivemos.

 

Fora de portas: Rodeados por líderes, em geral, muito fracos, com uma guerra que se arrasta na Ucrânia (importaria ler um pouco de História e ver “como isto começou”…), por entre os interesses americanos, a incompetência europeia e um Kremlin que sempre foi o herdeiro do império bizantino, o que causa preocupação são as quase quatro mil ogivas nucleares ativas. E não falemos de Gaza, que é a vergonha de todos nós. A nível internacional, não há motivos para tranquilidade.

 

Em Portugal: Importa fazer perceber ao Governo que o problema não é o Estado. E que, mais do que nunca, precisamos de serviços públicos de qualidade (a começar pela Saúde), que precisamos de segurança (sem paranoias securitárias e a falsa ideia de que Portugal é um país perigoso), que precisamos de transportes públicos em condições, que precisamos do ensino público. Precisamos de trabalho pago com justiça e com dignidade.

 

No Alentejo: A nossa região passa por uma revolução demográfica sem precedentes. A integração dos imigrantes é o nosso grande desafio. Por mais que a alguns custe encaixar a ideia, a imagem folclórica do Alentejo criada pelo fascismo é para as vitrinas da História. O Alentejo do século XXI já é outro. Tenho ainda a esperança em duas coisas: primeiro, que se acabe, de vez, com a miragem de um aeroporto em Beja como alternativa a Lisboa; segundo, que se consiga fazer de Évora uma digna capital europeia da cultura em 2027.

 

Em Moura: Para a minha terra faço votos de mudança política e que o atual e incompetente executivo seja removido por uma Câmara de maioria CDU. Porque o meu concelho merece tempos de esperança.


Texto hoje, no "Diário do Alentejo"



quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A TERCEIRA IDADE DE UMA REVOLUÇÃO

Quando este jornal estiver a sair está a celebrar-se em Cuba o 66º. aniversário da tomada do poder pelos revolucionários de Fidel Castro. Havana era, até então, uma banal extensão dos prostíbulos de Miami. O governo de Fulgencio Batista (1901-1973) destacava-se por níveis nunca vistos de corrupção e de incompetência. A opressão sobre o povo cubano era uma realidade. Daí que a adesão da população tenha sido generalizada e que a revolução tenha triunfado. Batista tomou o caminho do exílio. Morreu, em 1973, na estância balnear de Marbella. Os seus seguidores espalharam o terror, onde puderam, durante mais quatro ou cinco anos. Em meados da década de 60, mesmo com a ajuda dos americanos, a contrarrevolução fracassava.

A ilusão de um marxismo caribenho, romântico e independente, duraria pouco. Os americanos rapidamente hostilizaram um regime que, de forma crescente, teve o apoio soviético. A primeira, ilusória e curta, idade da revolução estava consumada. Durante cerca de duas décadas e meia, Cuba resistiu de forma notável e conseguiu aquilo que quase não existe na América Latina: elevados níveis de educação, cuidados de saúde e segurança. A supressão de liberdades individuais foi um facto, mas pergunto-me, muitas vezes, qual a liberdade dos mais de 30% de colombianos ou de 20 % de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza… E não falemos do perigo urbano no México, na Guatemala ou nas Honduras.

Mas 1959 foi há 66 anos e já são poucos os que têm memória da Cuba pré-Fidel Castro. Duas semanas em Cuba – andando à solta, sem excursões organizadas, nem resorts nem idas a “sítios obrigatórios” – deixaram-me impressões (não lhe chamarei opiniões, porque não sou especialista no tema) sobre um País em mudança.

Do socialismo caribenho restam meia-dúzia de “slogans” e uma população que vive à margem da militância política. O embargo americano – uma monstruosidade sem pés nem cabeça – tornou a economia num sistema de penúria, onde o que funciona passa para mãos estrangeiras (como os “Habanos”, que hoje pertencem em 50% a investidores asiáticos). O salário médio oficial é de cerca de 35 euros. Mas o turismo criou uma sociedade de classes: os que têm meios e os que não têm nada. O frugal igualitarismo de outrora foi-se e o abastecimento de energia (os hotéis e os que têm posses têm geradores e têm luz) pareceu-me ser a face mais evidente dessa desigualdade.

A esperança e o sonho de outrora já não são visíveis. Uma pessoa bem colocada, com quem pude falar, dizia-me ter a convicção, que uma parte da estrutura política está a deixar “deslizar” o sistema, de forma deliberada. Acredito sinceramente que assim seja. Até porque os Estados Unidos são a grande miragem. Há bandeiras e bandeirinhas dos U.S.A. por toda a parte. Parece quase provocatório, mas não se vê sinal de opressão sobre os “atrevidos”.

Ao final de uma tarde luminosa subi ao Memorial José Martí e coloquei-me muito perto do sítio onde Fidel Castro fazia os seus discursos. Fidel não construiu qualquer “culto da personalidade” (terei visto duas ou três imagens dele em locais públicos, não mais que isso), o que me reforça a imagem que dele tinha: um homem e um líder de qualidade superior.

O sonho falhou? Quase. O nível de educação e dos cuidados de saúde (até onde puderam resistir, neste último caso) não têm comparação com qualquer outro ponto para baixo de El Paso. A segurança urbana é total. Um dia deixará de ser assim. Nessa altura, outros emergirão. Novos combates terão de ser travados. A América Latina, no meio das suas enormes contradições, por entre os seus caudilhos, soube sempre criar soluções libertadoras. Velasco Alvarado, Juan José Torres, João Goulart, Salvador Allende, Omar Torrijos fazem parte desse grupo de homens de exceção. Outros sonhos e outras cubas haverá.

Crónica em "A Planície"


quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

2024 X 12 É IGUAL A 12

O que (me) aconteceu em 2024? Um par de coisas, profissionalmente falando... Um ano que agora chegou ao fim. Escolho doze momentos marcantes, sem serem à razão de um por mês.

7.1 - Rádio Saudade: arranque das emissões radiofónicas.

6.2 - Rádio Renascença: debate sobre Património.

13.3 - Vanitas: inauguração de uma exposição que marcou o ano, no monumento.

16.3 - Amareleja: conversa com estudantes muito jovens, no meu concelho.

20.4 - Dia da Voz: o cante alentejano num dia duplo.

20.5 - Património arquitetónico da Caixa Geral de Depósitos: apresentação do livro.

7.5 - Inauguração da exposição "Fausto Giaccone: o *Povo no Panteão".

5.6 - Azimute: entrevista a muito jovens candidatos a jornalistas.

12.9 - Entrega do Prémio Gulbenkian Património - Maria Tereza e Vasco Vilalva.

8.10 - Primeira de duas conferências sobre o Museu das Descobertas.

2.11 - O mar sem fim: estreia da oratória, que a RTP2 gravou

8.12 - Participação na apresentação de um livro de Ana Baião sobre o cante alentejano.

Um terço do que destaco é Panteão. Um defeito antigo (sem ironia, é mesmo falha), o de mergulhar nas coisas tão a fundo desta maneira... Já não deve ter remédio.


https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/01/radio-saudade.html


https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/02/hoje-na-renascenca.html


https://avenidadasaluquia34.blogspot.com/2024/03/vanitas.html
















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