Falharei, este ano, o arranque, em Mourão. Por boas razões, felizmente.
Mas haverá Olivença, Moura, Sevilha, Campo Pequeno. Talvez Madrid.
A fotografia foi feita, há uns tempos, em Vila Franca de Xira. Outro destino a considerar.
Viva a Festa!
Falharei, este ano, o arranque, em Mourão. Por boas razões, felizmente.
Mas haverá Olivença, Moura, Sevilha, Campo Pequeno. Talvez Madrid.
A fotografia foi feita, há uns tempos, em Vila Franca de Xira. Outro destino a considerar.
Viva a Festa!
Nunca tive particular interesse por estes temas. Mas, há uns anos, deparei com esta referência à minha família. Tentei depois, sem sucesso, localizar Francisco de Almeida Guedes, para tentar saber mais um pouco desta história, que tem um toque "insólito".
O apelido (a minha família) veio de Marrocos? Eu tenho origens marroquinas (sim, pele e olhos claros podia bem ser amazigh...)? Sou, portanto, meio africano? Bem vistas as coisas, somos todos, a partir do Quénia.
É que a "narrativa" bate certo (Andaluzia, Serpa...). Não me consta que haja papéis trazidos de Marrocos. Estaremos todos ilegais, caramba?
Assisti, há pouco, à sessão que teve lugar no Centro de Trabalho do PCP, em Moura. Éramos muitos. Mais seremos daqui para a frente. Cá estamos, unidos como sempre. O nosso cabeça de lista à Câmara Municipal de Moura é o André Linhas Roxas.
Daqui até ao outono há um longo caminho a percorrer. O concelho de Moura merece este esforço.
O filme de Walter Salles é poderosíssimo. Impecavelmente filmado e montado. Com um lote de interpretações de grande qualidade. Talvez daqui a uns anos o vejamos como "datado". Por agora, é um filme necessário.
Recordo as lamentáveis palavras da criatura Bolsonaro no impeachment de Dilma Rousseff (assisti em direto, e assim não esquecerei...)
“Nesse dia de glória para o povo brasileiro, tem um nome que entrará para a história nessa data pela forma como conduziu os trabalhos dessa Casa. Parabéns presidente Eduardo Cunha. Perderam em 64, perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula, que o PT nunca teve. Contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff. Pelo Exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim.”...
É por causa de frases destas que a patada de Cantona ganha dimensões poéticas.
Trump, a mi no me gusta mucho viajar a los EEUU, es un poco aburridor, pero confieso que hay cosas meritorias, me gusta ir a los barrios negros de Washington, allí ví una lucha entera en la capital de los EEUU entre negros y latinos con barricadas, que me pareció una pendejada, porque deberían unirse.
Confieso que me gusta Walt Withman y Paul Simon y Noam Chomsky y Miller. Confieso que Sacco y Vanzetti, que tienen mi sangre, en la historia de los EEUU, son memorables y les sigo. Los asesinaron por lideres obreros con la silla eléctrica, los fascistas qué están dentro de EEUU como dentro de mi país. No me gusta su petroleo, Trump, va a acabar con la especie humana por la codicia. Quizás algún día, junto a un trago de Whisky qué acepto, a pesar de mi gastritis, podamos hablar francamente de esto, pero es difícil porque usted me considera una raza inferior y no lo soy, ni ningún colombiano. Así que si conoce alguien terco, ese soy yo, punto. Puede con su fuerza económica y su soberbia intentar dar un golpe de estado como hicieron con Allende. Pero yo muero en mi ley, resistí la tortura y lo resisto a usted. No quiero esclavistas al lado de Colombia, ya tuvimos muchos y nos liberamos. Lo que quiero al lado de Colombia, son amantes de la libertad. Si usted no puede acompañarme yo voy a otros lados. Colombía es el corazón del mundo y usted no lo entendió, esta es la tierra de las mariposas amarillas, de la belleza de Remedios, pero tambien de los coroneles Aurelianos Buendía, de los cuales soy uno de ellos, quizás el último. Me matarás, pero sobreviviré en mi pueblo que es antes del tuyo, en las Américas. Somos pueblos de los vientos, las montañas, del mar Caribe y de la libertad. A usted no le gusta nuestra libertad, vale. Yo no estrecho mi mano con esclavistas blancos. Estrecho las manos de los blancos libertarios herederos de Lincoln y de los muchachos campesinos negros y blancos de los EEUU, ante cuyas tumbas llore y recé en un campo de batalla, al que llegue, después de caminar montañas de la toscana italiana y después de salvarme del covid. Ellos son EEUU y ante ellos me arrodillo, ante más nadie. Túmbeme presidente y le responderán las Américas y la humanidad. Colombia ahora deja de mirar el norte, mira al mundo, nuestra sangre viene de la sangre del califato de Córdoba, la civilización en ese entonces, de los latinos romanos del mediterraneo, la civilización de ese entonces, que fundaron la república, la democracia en Atenas; nuestra sangre tiene los resistentes negros convertidos en esclavos por ustedes. En Colombia está el primer territorio libre de América, antes de Washington, de toda la América, allí me cobijo en sus cantos africanos. Mi tierra es de orfebrería existente en época de los faraones egipcios, y de los primeros artistas del mundo en Chiribiquete. No nos dominarás nunca. Se opone el guerrero que cabalgaba nuestras tierras, gritando libertad y que se llama Bolívar. Nuestros pueblos son algo temerosos, algo tímidos, son ingenuos y amables, amantes, pero sabrán ganar el canal de Panamá, que ustedes nos quitaron con violencia. Doscientos héroes de toda latinoamerica yacen en Bocas del Toro, actual Panamá, antes Colombia, que ustedes asesinaron. Yo levanto una bandera y como dijera Gaitán, así quede solo, seguirá enarbolada con la dignidad latinoamericana que es la dignidad de América, que su bisabuelo no conoció, y el mio sí, señor presidente inmigrante en los EEUU. Su bloqueo no me asusta; porque Colombia además de ser el país de la belleza, es el corazón del mundo. Se que ama la belleza como yo, no la irrespete y le brindará su dulzura. COLOMBIA A PARTiR DE HOY SE ABRE A TODO EL MUNDO, CON LOS BRAZOS ABIERTOS, SOMOS CONSTRUCTORES DE LIBERTAD, VIDA Y HUMANIDAD. Me informan que usted pone a nuestro fruto del trabajo humano 50% de arancel para entrar a EEUU, yo hago lo mismo. Que nuestra gente siembre maíz que se descubrió en Colombia y alimente al mundo.
António Ramalho Eanes faz hoje 90 anos. Foi eleito à primeira em duas eleições (61,6% em 1976 e 56,4% em 1980). Foi Presidente da República entre 14 de julho de 1976 e 9 de março de 1986.
A sua visão do mundo e política está bem presente no recente livro "Palavra que conta". Por muito que possamos discordar de muitas das suas visões há uma palavra que é inatacável, quando falamos de Ramalho Eanes: integridade. Não é coisa pouca.
Uma vida ao serviço de Portugal. Obrigado!
Há uma imagem de Nossa Senhora do Carmo na bonita exposição que logo, ao fim da tarde, é inaugurada no Panteão Nacional. Provém da Igreja Matriz de Sines. É uma peça dos séculos XVII/XVIII.
Fiquei contente de ver uma Nossa Senhora do Carmo, que é a Padroeira da minha terra, na exposição. Há sítios que nunca se esquecerão.
Depois de vários atrasos, chegam ao termo dois projetos que foram difíceis de concretizar. Inaugurações:
Dia 22 (18h 30) - Guerra Junqueiro e o capricho da Arte
Dia 23 (18h 00) - Tesouro de Nossa Senhora das Salas
Assim vai ganhando forma o ano de 2025.
"Le commandant Pasqua vous prie d'attacher vos ceintures, sinon c'est deux baffes". Ou seja, "o comandante Pasqua pede que apertem os cintos, se não levam dois estalos". A legenda estava num desenho de Plantu (?), no "Le monde" (?), que não consigo encontrar de maneira nenhuma. "Ouvia-se" a voz do piloto e via-se um grupo de homens negros dentro de um avião, com os pés agrilhoados aos assentos. Estava-se no auge da crise dos charters malianos. Em outubro de 1986 a França deportara uma centena de cidadãos do Mali, que estavam ilegais em território gaulês. Charles Pasqua (1927-2015) defendia a solução da deportação aérea como solução radical para o problema da imigração.
A História repete-se. Agora, do outro lado do Atântico. Com um presidente tão de extrema-direita como Pasqua era.
A exposição sobre Veneza foi bonita. E tinha sons: pássaros e sinos... E tinha Guardi, uma das minha primeiras paixões pictóricas. No meio de tanto azul e de tanta gôndola, o melhor foi este "Capricho com arco romano em ruínas e templo circular", um desenho vibrante e de traço frenético que pertence ao Museu Calouste Gulbenkian. Um desenho atual e moderno.
O meu percurso de aluno da Faculdade de Letras de Lisboa foi marcado pelo "Caso Helena Catarino". A jovem Helena tinha entrado como assistente e preparava-se para fazer carreira enquanto investigadora naquela casa. Uma Comissão Científica de História burra, labrega, tacanha e incompetente (podem juntar adjetivos...) entendeu que não e Helena Catarino teve o seu contrato interrompido. Rumou depois a Coimbra, onde leccionou, com êxito, durante mais de 30 anos. Uma notável carreira na Arqueologia Medieval.
Eu não era aluno de Arqueologia, mas para o caso tanto dava. Enquanto membro da direção da Associação de Estudantes participei ativamente no combate contra os corifeus da Comissão e em defesa de H.C., que iniciava então carreira na Arqueologia Islâmica. Essas e outras custaram-me caro, mas voltaria (1000 vezes!) a fazer o mesmo.
Fico contente por ser feita esta homenagem, agora que chegou à aposentação. Já lhe escrevi, felicitando-a e recordando os dias tensos de há 40 anos.
Hollywood não gostava dele.
Tanto pior para Hollywood.
David Lynch foi um dos mais inovadores e estranhos cineastas do século XX. Há quase 20 aos que não rodava um filme de fundo, depois da viagem que "Inland empire" é. O meu preferido? Blue Velvet, seguido de Lost Highway. Tenho a sensação de que Lynch será (re)descoberto algures no futuro.
O problema não estará na despesa, mas sim na organização...
Confiram o link, por favor.
Gosto do projeto de Jacobetty Rosa para o Estádio Nacional. Dentro do espirito do tempo foi do melhor que se fez. O enquadramento é perfeito e aquela pompa em pedra envelheceu bem.
E agora, senhoras e senhores, chega uma pala. Olhando para o desenho da pala, não percebo muito bem para que serve a dita. Cobre um setor mínimo da bancada central. Quando a chuva vier de poente só os da tribuna de honra não levam com água em cima.
O projeto inicial tinha uma certa lógica e dignidade. Os remendos que se seguiram são apenas remendos.
Pala por pala antes a de Entrecampos (obra dos anos 50?), que ao menos tapa qualquer coisa.
É, seguramente, um dos nomes mais marcantes da fotografia (publicitária, mas não só) o século XX. Sem ele, tenho a certeza que a Benetton não se teria tornado no sucesso universal que é.
Oliviero Toscano, ontem falecido, foi o autor de algumas das mais ousadas, provocatórias e bonitas fotografias que já vi. Como esta.
No outro dia fizeram-me um elogio. Era do género "deixa-te estar aí [Panteão Nacional], que aí estás bem". Divirto-me sempre com estas situações. E com votos que significam, nestes casos, não te queremos por perto.
Agradeço muito estes "elogios", mas continuarei a seguir o meu caminho.
Queixava-me eu, há meses, do preço da água nos restaurantes algarvios. Refiro-me a água da rede, servida em garrafas em estilo fancy.
Afinal, o preço cobrado (3.600 euros o metro cúbico) até era barato. No outro dia, serviram-me, em Lisboa, uma garrafa de água de 70 cl. Água da torneira, claro. No final, 3,50 euros. Ou seja, 5.000 euros "o metro". Ou seja, uma perfeita vigarice. Nem uma gota de água, na próxima vez!
Esta imagem apareceu aqui há exatamente nove anos. Retomo-a hoje. Data da primavera de 2008 (17 anos já) e foi feita em Tripoli, na esquina da Rua Umar al-Mukhtar com a Praça dos Mártires. Dentro da carroça havia um parzinho de namorados, que dava voltas e mais voltas à praça.
O que me chamou a atenção foi o colorido da carroça, que me fazia lembrar as que eu via nas romarias, em Paymogo. Fotografei-a com um rolo velvia 100 (slides, hoje uma relíquia).
Quando a Conceição Lopes me apanhou, estava eu a explicar ao moço como é que a minha R7 funcionava...
Anteontem de manhã, Fernando Alves citou, a sua crónica, Durão Barroso. Teria ele dito, num seminário, "se os grandes poderes conseguissem isso, com essa facilidade, impor a paz, porque é que não fizeram isso em relação ao Médio Oriente?".
Pensei, sem ironia, ter percebido mal alguma coisa. Ao chegar a Santa Apolónia fui comprar o jornal. Estava tudo escarrapachado no "Diário de Notícias".
Vão ver que fui eu o mordomo daquela cena triste nos Açores...
Eça de Queiroz está, a partir de hoje, no Panteão Nacional. Foi o final de um processo longo, que terminou muito muito bem. Um cerimónia digna e apropriada.
A partir de amanhã a nova sala tumular fica visitável.
O Panteão terá mais três iniciativas (duas delas "de peso") até final do mês.
Havana, novembro de 2024. Mais uma face na paisagem urbana.
Uma cara algo "nariguda" na Avenida Salvador Allende.
O poeta Alexandre O'Neill, que trabalhava também como publicitário, sugeriu à administração do Metropolitano de Lisboa, como frase de lançamento do novo meio de transporte, Vá de metro, Satanás. A frase era genial, mas não foi aprovada, claro.
Os atrasos são tantos, mas tantos (quase todos os dias as benditas linhas verde e azul e eles pedem a nossa compreensão...), que não deveria ser vá de metro, Satanás, mas sim vai a pé, Satanás.
Regresso, quase 10 anos volvidos, à Carrasqueira. Achei, talvez equivocadamente, que algumas coisas mudaram. Notei, estarei enganado?, que havia uma certa "privatização" de alguns passadiços. Pareceu-me, estarei a ser atraiçoado pela memória?, que havia mais barraquinhas de apoio à pesca. Como a da fotografia, com tanto amor palafítico. Um sítio extraordinário, em qualquer caso.
Repito o poema aqui publicado num já distante 15.3.2015:
Manhã no Sado
Brancas, as velas
eram sonhos que o rio sonhava alto....
Meninas debruçadas em janelas,
viam-se, à flor azul das águas, as gaivotas.
E a Manhã quieta (sorrindo, linda, vinha vindo a Primavera…)
punha os pés melindrosos entre as conchas.
Derivavam jardins imponderáveis
dos seus passos de ninfa
e tremiam as conchas
de súbitas carícias.
Longe era tudo: o medo dos naufrágios,
as angústias dos homens, o desgosto,
os esgares das tragédias e comédias
de cada um, os lutos, as derrotas.
Longe a paz verdadeira das crianças
e a teimosia heróica dos que esperam.
Ali, à beira-rio,
de olhos só para o rio, de ouvidos surdos
ao que não é a música das águas,
um sossego alegórico persiste.
Nem o arfar das velas o perturba.
Nem o rumor dos seios capitosos
da Manhã, que nas águas desabrocham
e flutuam, doentes de perfume.
Nem a presença humana do Poeta
- sombra que a pouco e pouco se ilumina
e se dilui, anónima, na aragem…
Sebastião da Gama
Um projeto "improvável": divulgar, a partir da estação radiofónica da minha terra (Rádio Planície), cantores, grupos ou compositores já desaparecidos ou injustamente esquecidos. Dá um pouco mais de trabalho do que parece, em especial pela necessidade de escrever os textos de suporte.
Assim é, desde há um ano. O programa passa aos domingos, pouco depois das 12, repetindo às quartas, a seguir às 19.
Eis a listagem do que se ouviu entre janeiro de 2024 e a presente data (a emissão 53 é amanhã). Está já selecionados os protagonistas das emissões 54 a 75: por ex. no número 60 aparecerá Carlos Paredes, no 70 será o Quarteto 1111, no 75 a quase esquecida Dalida.
As primeiras 40 emissões estão em
https://soundcloud.com/user-129438212/sets/radio-saudade
O que esperar deste ano em que entramos? Nunca os tempos foram tão incertos e tão preocupantes como aqueles que vivemos.
Fora de portas: Rodeados por líderes, em geral, muito fracos, com uma guerra que se arrasta na Ucrânia (importaria ler um pouco de História e ver “como isto começou”…), por entre os interesses americanos, a incompetência europeia e um Kremlin que sempre foi o herdeiro do império bizantino, o que causa preocupação são as quase quatro mil ogivas nucleares ativas. E não falemos de Gaza, que é a vergonha de todos nós. A nível internacional, não há motivos para tranquilidade.
Em Portugal: Importa fazer perceber ao Governo que o problema não é o Estado. E que, mais do que nunca, precisamos de serviços públicos de qualidade (a começar pela Saúde), que precisamos de segurança (sem paranoias securitárias e a falsa ideia de que Portugal é um país perigoso), que precisamos de transportes públicos em condições, que precisamos do ensino público. Precisamos de trabalho pago com justiça e com dignidade.
No Alentejo: A nossa região passa por uma revolução demográfica sem precedentes. A integração dos imigrantes é o nosso grande desafio. Por mais que a alguns custe encaixar a ideia, a imagem folclórica do Alentejo criada pelo fascismo é para as vitrinas da História. O Alentejo do século XXI já é outro. Tenho ainda a esperança em duas coisas: primeiro, que se acabe, de vez, com a miragem de um aeroporto em Beja como alternativa a Lisboa; segundo, que se consiga fazer de Évora uma digna capital europeia da cultura em 2027.
Em Moura: Para a minha terra faço votos de mudança política e que o atual e incompetente executivo seja removido por uma Câmara de maioria CDU. Porque o meu concelho merece tempos de esperança.
Texto hoje, no "Diário do Alentejo"
Quando este jornal estiver a sair está a celebrar-se em Cuba o 66º. aniversário da tomada do poder pelos revolucionários de Fidel Castro. Havana era, até então, uma banal extensão dos prostíbulos de Miami. O governo de Fulgencio Batista (1901-1973) destacava-se por níveis nunca vistos de corrupção e de incompetência. A opressão sobre o povo cubano era uma realidade. Daí que a adesão da população tenha sido generalizada e que a revolução tenha triunfado. Batista tomou o caminho do exílio. Morreu, em 1973, na estância balnear de Marbella. Os seus seguidores espalharam o terror, onde puderam, durante mais quatro ou cinco anos. Em meados da década de 60, mesmo com a ajuda dos americanos, a contrarrevolução fracassava.
A ilusão de um marxismo caribenho, romântico e independente, duraria pouco. Os americanos rapidamente hostilizaram um regime que, de forma crescente, teve o apoio soviético. A primeira, ilusória e curta, idade da revolução estava consumada. Durante cerca de duas décadas e meia, Cuba resistiu de forma notável e conseguiu aquilo que quase não existe na América Latina: elevados níveis de educação, cuidados de saúde e segurança. A supressão de liberdades individuais foi um facto, mas pergunto-me, muitas vezes, qual a liberdade dos mais de 30% de colombianos ou de 20 % de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza… E não falemos do perigo urbano no México, na Guatemala ou nas Honduras.
Mas 1959 foi há 66 anos e já são poucos os que têm memória da Cuba pré-Fidel Castro. Duas semanas em Cuba – andando à solta, sem excursões organizadas, nem resorts nem idas a “sítios obrigatórios” – deixaram-me impressões (não lhe chamarei opiniões, porque não sou especialista no tema) sobre um País em mudança.
Do socialismo caribenho restam meia-dúzia de “slogans” e uma população que vive à margem da militância política. O embargo americano – uma monstruosidade sem pés nem cabeça – tornou a economia num sistema de penúria, onde o que funciona passa para mãos estrangeiras (como os “Habanos”, que hoje pertencem em 50% a investidores asiáticos). O salário médio oficial é de cerca de 35 euros. Mas o turismo criou uma sociedade de classes: os que têm meios e os que não têm nada. O frugal igualitarismo de outrora foi-se e o abastecimento de energia (os hotéis e os que têm posses têm geradores e têm luz) pareceu-me ser a face mais evidente dessa desigualdade.
A esperança e o sonho de outrora já não são visíveis. Uma pessoa bem colocada, com quem pude falar, dizia-me ter a convicção, que uma parte da estrutura política está a deixar “deslizar” o sistema, de forma deliberada. Acredito sinceramente que assim seja. Até porque os Estados Unidos são a grande miragem. Há bandeiras e bandeirinhas dos U.S.A. por toda a parte. Parece quase provocatório, mas não se vê sinal de opressão sobre os “atrevidos”.
Ao final de uma tarde luminosa subi ao Memorial José Martí e coloquei-me muito perto do sítio onde Fidel Castro fazia os seus discursos. Fidel não construiu qualquer “culto da personalidade” (terei visto duas ou três imagens dele em locais públicos, não mais que isso), o que me reforça a imagem que dele tinha: um homem e um líder de qualidade superior.
O sonho falhou? Quase. O nível de educação e dos cuidados de saúde (até onde puderam resistir, neste último caso) não têm comparação com qualquer outro ponto para baixo de El Paso. A segurança urbana é total. Um dia deixará de ser assim. Nessa altura, outros emergirão. Novos combates terão de ser travados. A América Latina, no meio das suas enormes contradições, por entre os seus caudilhos, soube sempre criar soluções libertadoras. Velasco Alvarado, Juan José Torres, João Goulart, Salvador Allende, Omar Torrijos fazem parte desse grupo de homens de exceção. Outros sonhos e outras cubas haverá.
Crónica em "A Planície"
O que (me) aconteceu em 2024? Um par de coisas, profissionalmente falando... Um ano que agora chegou ao fim. Escolho doze momentos marcantes, sem serem à razão de um por mês.
7.1 - Rádio Saudade: arranque das emissões radiofónicas.
6.2 - Rádio Renascença: debate sobre Património.
13.3 - Vanitas: inauguração de uma exposição que marcou o ano, no monumento.
16.3 - Amareleja: conversa com estudantes muito jovens, no meu concelho.
20.4 - Dia da Voz: o cante alentejano num dia duplo.
20.5 - Património arquitetónico da Caixa Geral de Depósitos: apresentação do livro.
7.5 - Inauguração da exposição "Fausto Giaccone: o *Povo no Panteão".
5.6 - Azimute: entrevista a muito jovens candidatos a jornalistas.
12.9 - Entrega do Prémio Gulbenkian Património - Maria Tereza e Vasco Vilalva.
8.10 - Primeira de duas conferências sobre o Museu das Descobertas.
2.11 - O mar sem fim: estreia da oratória, que a RTP2 gravou
8.12 - Participação na apresentação de um livro de Ana Baião sobre o cante alentejano.
Um terço do que destaco é Panteão. Um defeito antigo (sem ironia, é mesmo falha), o de mergulhar nas coisas tão a fundo desta maneira... Já não deve ter remédio.
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