Regresso, quase 10 anos volvidos, à Carrasqueira. Achei, talvez equivocadamente, que algumas coisas mudaram. Notei, estarei enganado?, que havia uma certa "privatização" de alguns passadiços. Pareceu-me, estarei a ser atraiçoado pela memória?, que havia mais barraquinhas de apoio à pesca. Como a da fotografia, com tanto amor palafítico. Um sítio extraordinário, em qualquer caso.
Repito o poema aqui publicado num já distante 15.3.2015:
Manhã no Sado
Brancas, as velas
eram sonhos que o rio sonhava alto....
Meninas debruçadas em janelas,
viam-se, à flor azul das águas, as gaivotas.
E a Manhã quieta (sorrindo, linda, vinha vindo a Primavera…)
punha os pés melindrosos entre as conchas.
Derivavam jardins imponderáveis
dos seus passos de ninfa
e tremiam as conchas
de súbitas carícias.
Longe era tudo: o medo dos naufrágios,
as angústias dos homens, o desgosto,
os esgares das tragédias e comédias
de cada um, os lutos, as derrotas.
Longe a paz verdadeira das crianças
e a teimosia heróica dos que esperam.
Ali, à beira-rio,
de olhos só para o rio, de ouvidos surdos
ao que não é a música das águas,
um sossego alegórico persiste.
Nem o arfar das velas o perturba.
Nem o rumor dos seios capitosos
da Manhã, que nas águas desabrocham
e flutuam, doentes de perfume.
Nem a presença humana do Poeta
- sombra que a pouco e pouco se ilumina
e se dilui, anónima, na aragem…
Sebastião da Gama
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