É, com a provável excepção do conflito palestiniano, a mais prolongada guerra à face da Terra. Dura desde Agosto de 1955 e é interrompida ciclicamente por acordos de paz nos quais ninguém acredita.
A tragédia tem lugar nos confins do Sudão. Calcula-se que só entre 1983 e 1993, numa das fases mais agudas do conflito, tenham morrido entre 600.000 e 1.300.000 pessoas. As razias do exército são regulares, obrigando tribos inteiras a abandonarem os seus locais de origem e a instalarem-se nos arredores mais miseráveis de Khartum. A complacência dos organismos internacionais é total e até o inevitável Banco Mundial dá o seu contributo para este genocídio. As terras são abandonadas e os rebanhos dizimados. As acções da guerrilha anti-governamental não são menos mortíferas, obrigando as populações a dar-lhe apoio, a bem ou a mal. O norte do Sudão é árabe e muçulmano, o sul é negro e predominantemente animista. Essa é uma das partes do problema.
A tragédia tem lugar nos confins do Sudão. Calcula-se que só entre 1983 e 1993, numa das fases mais agudas do conflito, tenham morrido entre 600.000 e 1.300.000 pessoas. As razias do exército são regulares, obrigando tribos inteiras a abandonarem os seus locais de origem e a instalarem-se nos arredores mais miseráveis de Khartum. A complacência dos organismos internacionais é total e até o inevitável Banco Mundial dá o seu contributo para este genocídio. As terras são abandonadas e os rebanhos dizimados. As acções da guerrilha anti-governamental não são menos mortíferas, obrigando as populações a dar-lhe apoio, a bem ou a mal. O norte do Sudão é árabe e muçulmano, o sul é negro e predominantemente animista. Essa é uma das partes do problema.
Ante uma eminente catástrofe humanitária no Sudão, fala-se num milhão de pessoas em risco de morrerem à fome, voltámos a ter breves notícias, rodapés dos telejornais e coisas do género, desse sítio longínquo. . Ganha agora ainda mais força o pequeno livro de reportagem de George Rodger (1908-1995) sobre o país dos Nuba. A viagem, concretizada no Inverno de 1949, durou apenas 15 dias e Rodger produziu somente 30 rolos de fotografias. Os meios eram limitados – não mais que duas máquinas fotográficas - uma Rolleiflex e uma Leica – e o dinheiro não abundava. Publicada na imprensa americana pouco depois, a reportagem saiu em França sob a forma de livro em 1955. Rodger queria registar os últimos redutos de um mundo em vias de extinção, numa altura em que o continente africano começava a ser assolado por radicais mudanças. O seu interesse ia, portanto, para o modo de vida das populações, para as casas onde viviam e, sobretudo, para os encontros festivos entre os diferentes grupos. As fotografias não têm legendas, porque o texto as ilumina e porque elas explicam o que não nos é dito. A conclusão resume bem o espírito da reportagem: “levámos apenas connosco as recordações de um povo, sem dúvida primitivo mas muito hospitaleiro, mais generoso e amável do que muitos de nós que vivemos nos ‘continentes negros’ fora de África”.
Quando Rodger visitou o Sudão, os Nuba não sabiam que a tranquilidade do seu modo de vida tinha os dias contados. Certamente também desconheciam que as pastagens onde viviam o seu quotidiano assentavam sobre um vulcão. O subsolo daquela parte do Sudão tem reservas de cobre, ferro e ouro e, sobretudo, apreciáveis jazidas de petróleo. Deve estar aí a outra parte do problema.
Recentemente assinou-se mais um acordo de paz. O Ocidente, com os olhos postos nas riquezas escondidas do Sudão, assobia para o lado.
Quando Rodger visitou o Sudão, os Nuba não sabiam que a tranquilidade do seu modo de vida tinha os dias contados. Certamente também desconheciam que as pastagens onde viviam o seu quotidiano assentavam sobre um vulcão. O subsolo daquela parte do Sudão tem reservas de cobre, ferro e ouro e, sobretudo, apreciáveis jazidas de petróleo. Deve estar aí a outra parte do problema.
Recentemente assinou-se mais um acordo de paz. O Ocidente, com os olhos postos nas riquezas escondidas do Sudão, assobia para o lado.
O livro de George Rodger é uma pequena obra-prima e chama-se Village of the Nubas.
Texto publicado no jornal A PLANÍCIE em 15 de Junho de 2004
Sobre o livro: a reedição de 1995 da Phaidon está esgotada, pelo que as alternativas são a compra da versão inglesa por 33,60 € (www.amazon.com) ou da edição francesa (http://www.amazon.fr/) por 18,95 €. Exemplares da 1ª edição francesa estão disponíveis em antiquários por cerca de 200 €.
Vale a pena consultar o site http://www.nubasurvival.com/
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