Ó corpo feito à imagem
do meu desejo e meu amor
que vais comigo de viagem
pra onde eu for,
que mar é este em que andamos
há três noites bem contadas
e não tem ventos nem escolhos
nem ondas alevantadas?
que sol é este, que aquece,
mas sereno, tão sereno,
que não te põe menos branca
nem a mim põe mais moreno?
que paz é esta, nas horas
mais violentas e bravas?
(Sorrias: ias falar.
Sorrias e não falavas.)
que porto é este? esta ilha?
que terra é esta em que estamos?
(Era uma nuvem, de longe...
Deixou de o ser, mal chegámos.)
E este caminho, onde leva?
e onde acaba este jardim
que é tão em mim que é em ti?
que é tão em ti que é em mim?
Ó alma feita à imagem
do sonho que me desmede
- que sede é esta que temos
que é mais água do que sede?
e
e
Este poema de Sebastião da Gama (1924-1952) não é, talvez, dos mais citados. Quase sempre se prefere O sonho, como se o poeta nada mais tivesse escrito. Ao intenso lirismo e à suave sensualidade das palavras responde a outra sensualidade, mais carnal mas nem por isso menos lírica, do mexicano Manuel Alvarez Bravo (1902-2002), nesta fotografia dos anos 80. Fiquemo-nos por aqui, porque nos sobra o olhar e nos faltam as palavras.
1 comentário:
Sem palavras fico eu, apenas me ocorre dizer que o poema é lindo e a conjugação com a imagem é perfeita. Parabens pela escolha.
um abraço
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