sexta-feira, 4 de junho de 2010

"DAQUI A POUCO JÁ NÃO HÁ NINGUÉM"

Alguém me dizia há dias, em Mértola, "daqui a pouco já não há ninguém". O interior despovoa-se. O fenómeno é mais sensível em toda a faixa que percorre a fronteira com Espanha. Quem governa deveria ter sido obrigado a ler no liceu dois livros de capital importância: A estrutura da antiga sociedade portuguesa, de Vitorino Magalhães Godinho, e Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico, de Orlando Ribeiro. Pensaria, decerto, duas vezes antes de mandar fechar as escolas primárias com menos de 20 alunos. E faria todos os possíveis para que as escolas do interior tivesse mais de 20 alunos. Temos o país inclinado para a costa. Ficar é, hoje, um acto de resistência e de incompreensível paixão.
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Enquanto isso, José Sócrates inaugura auto-estradas na Beira Alta e declara que tem a intenção de minorar o insucesso escolar, e realçou a introdução de aulas de inglês, de desporto, de música, assim como de estudo acompanhado. Daria vontade de rir, se não fosse trágico.
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Uma das escolas do duplo centenário: imagem no site da Câmara Municipal de Grândola

6 comentários:

babao disse...

Gostei da palavra ACTOP, uma mistura de ACT UP e de STOP !
Pena é que tenha sido um erro de "frappe" como dizem os franceses.

Um beijo.
E que tal lançares no Facebook um movimento de resistêcia contra o fecho das escolas no interior ?

Miguel Serra disse...

O anterior executivo da Câmara de Beja mostrou uma forte resistência a este tipo de atitudes ao renovar parte das escolas primárias das freguesias rurais. Resta saber, se perante a continuidade da ofensiva o actual executivo manterá esta atitude ou se submete às directrizes das "chefias". Muitas câmaras contiuam a arranjar soluções para evitar este tipo de atentados, mas será que adianta?

miguel bento disse...

As Escolas Primárias, (era essa a designação do meu tempo de criança e mesmo muito depois), são o melhor exzemplo do falhanço estrutural do nosso país em vários domínios.
O celébre Plano dos Centenários foi pensado a partir da "virtude" salazarenta de uma certa ideia de ruralidade, quando os ventos da industrialização do centro europeu já começam a fazer-se sentir, arrastando consigo famílias inteiras (as potencialmente procriadoras), de todo o país e em particular do interior.
No caso do Alentejo, a Campanha do Trigo há muito que estava condenada ao fracasso, e muitas das escolas então feitas nem sequer chegaram a abrir por falta de crianças. Assim aconteceu nos concelhos serranos de Almodôvar, Ourique e Odemira.
Nos tempos mais recentes, (mesmo muito recentes em termos históricos) o Governo de Sócrates determinou que por razões "meramente pedagógicas" e no "estrito interesse dos alunos" , fossem encerradas as Escolas com menos de 10 alunos.
Assim se fez, fecharam-se todas as Escolas com menos de 10 crianças; construiram-se os denominados Centros Educativos, enquanto e pelo meio, lá se conseguiu com esta medida, reduzir o número de professores e educadores nuns largos milhares. Juntou-se o útil ao agradável; pouparam-se uns largos milhares de euros e defenderam-se "os legítimos interesses" das criancinhas.
Dois anos depois, e ainda alguns dos ditos Centros Educativos não estão prontos e eis que surge uma nova Ministra, que determina, e mais uyma vez por razões "meramente pedagógicas" e no "estrito interesse dos alunos", que sejam encerradas todas as Escolas com menos de 20 alunos.
Mas afinal que planeamento é este?
Será que teremos que ser eternamente governados por gente desta incompetência?
Será que esta gente pesa todo os factores em jogo, como por exemplo, o que é melhor, entre uma escola, com todas as condições infraestruturais e pedagógicas com 19 alunos, e uma outra escola com 80, mas em que crianças de 6, 7 ou 8 anos saiem de cvasa às 07.00 h da manhão para só regressar à noite???
Será que esta gente sabe o que a relação escola / meio??? Será que esta gente sabe o quanto isso pesa na desestruturação do interior do ponto de vista socio - económico e consequentemente a nível demográfico.
Sei que me alonguei para o tipo de reflexão que se pretende num Blog, mas o tema é demasiado importante para se ficar calado. Temos que nos insurgir.
Miguel Bento - Mértola
PS - Queria lembram-me do nome da Minsitra da Educação. Não consegui, sei que escreve para crianças/jovens. Infelizmente o seu papel à frente do Ministério vai ficar marcado na memória de todos no interior.

Anónimo disse...

Ao Miguel Bento:
O Miguel diz " muitas das escolas então feitas nem sequer chegaram a abrir por falta de crianças ".
É capaz de quantificar quantas não abriram? E é capaz de quantificar quantas foram construídas? E qual o rácio?
Se calhar não foi assim tão mau como nos quer fazer querer.
E do ponto de vista da qualidade da construção alguém tem dúvidas ??? Hoje inauguram-se escolas e dois dias depois já caiu o estuque do tecto, têm infiltrações às primeiras chuvadas, as fechaduras deixam de funcionar ao segundo mês, a caixa do elevador para deficientes enche-se de água e o mesmo não pode funcionar ... não estou com isto a apadrinhar o Estado Novo, pois no Estado Novo não havia hipóteses de nas urnas se mudarem os estado das coisas ... mas hoje podemos nas urnas mudar o estado das coisas e não mudamos ... como tal não nos podemos queixar...

LT

Miguel Bento disse...

Caro LT:
Você está "a bater ao lado" da questão. É evidente que não importa se sei ou não o nº. exatissímo de escolas construídas e não abertas, quantas foram construídas ou aspectos relacionacionados com a qualidade construtiva ou estética!
O que pretendi transmitir é que o Parque Escolar ( como agora se diz) a nível do ensino básico é um bom exemplo, desde o Estado Novo até ao Governo de Sócrates, de falta de planeamento.
Não acha?
Então há 2 anos era pedagogicamente correcto fechar todas as que não tivessem 10 alunos, e agora, o mesmissímo governo acha que devem fechar todas as que não tiverem 20!
Não lhe parece que há aqui qualquer coisa estranha, para não dizer muita incompetência?

Anónimo disse...

ao Miguel Bento
O Miguel não pode vir escrever, como o fez, que foram muitas as escolas do plano do centenários que ficaram por abrir, porque não foi bem assim ... dessas, se as contarmos pelos dedos de uma mão, sobram dedos.
Contudo concordo consigo, não na totalidade, sobre a falta de planeamento. Hoje ele é muito mais grassante.

LT (arriscando-se a ser conotado como o comentador do Estado Novo)