que dormem, singelo,
pelo sistema de "a cama quente"
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Na mina trabalha-se por turnos.
Quando se volta, nem se tiram os coturnos.
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Bebido o café negro e trincado o casqueiro,
joga-se o corpo ao sono, mas primeiro,
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enxota-se o camarada da cama ainda quente,
que não há camas, no Chile, pra toda a gente.
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Do calor que sobrou o nosso se acrescenta
pra dar calor ao próximo que entra.
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Vós, que dormis em camas, como reis,
tantas horas por dia, não sabeis
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como é bom dormir ao calor de um irmão
que saiu ao nitrato ou ao carvão
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e despertar ao abanão (é o contrato!)
de um que chega do carvão ou do nitrato!
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É este sistema, minha gente,
que se chama no Chile "a cama quente"...
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O poema, escrito em 1975, é de Alexandre O'Neill (1924-1986), a fotografia data de 1950 e intitula-se Three generations of welsh miners. É um trabalho do grande repórter Eugene Smith (1918-1978). São trabalhos de compromisso político, que não precisa de ser ostensivo para ser eficaz. São para recordar, sobretudo nestes dias que passam e em que os mineiros do Chile se converteram, sem o o quererem, numa peça do carnaval dos media.
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