Amanhã vem cá a chanceler alemã. Vai dar confusão. Mas pequena. Vai dar um faduncho, à portuguesa.
Do fundo do coração, o que mais me chateia é a subserviência, o estilo lambe-botas de Passos Coelho. Aquele ar de caniche ante os poderosos - estou a portar-me bem, não estou?sou um bom menino, não sou? - vale todo um estilo e é todo um programa. Prefiro outro tipo de abordagem. Cito um texto de Miguel Esteves Cardoso: Também há 16 anos a PAC quis cortar-nos os tomates. O secretário de
Estado para os assuntos europeus de então, Francisco Seixas da Costa,
avisou logo que se tinha acabado essa história de sermos os "bons
alunos" da Europa, com tudo o que isso "implicava de subordinação" (v. aqui).
Nestas alturas, recordo sempre uma conversa tida, em 1998 ou 1999, com a minha amiga Maria de Lurdes Rosa, no antigo bar da Biblioteca Nacional. Falávamos dos nossos percursos - ela inscrevera-se para fazer o doutoramento nos Hautes Études, eu em Lyon2 - e comentávamos as dificuldades da investigação, sobretudo se comparadas com as condições de trabalho dos nossos colegas gauleses. Nesse ponto a Lurdes disparou-me esta advertência, num tom seguro e sem direito a réplica: "não te passe pela cabeça queixares-te das dificuldades; haverá logo quem te olhe com displicência e paternalismo, dizendo-te pois é, vocês nesses países têm imensos problemas. Daí a olharem o teu trabalho com um complexo de superioridade vai um passinho". A Lurdes é mais nova do que eu, mas sempre teve um estilo assertivo. Achei imensa graça à conversa, que me ficou gravada, sobretudo porque ela tinha toda a razão. Não é que eu fosse lamuriar-me - não me está nos genes -, mas foi uma troca de impressões muito interessante.
Não sei se alguma Lurdes se cruzou no caminho de Passos Coelho. Temo que não.
Uma coisa é o que vemos e aquilo que existe. Outra o seu reflexo, como na tela de António Carneiro. Passos Coelho surge, no olhar dos poderosos, assim refletido, difuso e desmaterializado.
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