Saltei os cinquenta e acabo de entrar
Na via do mestre onde não há via nem
Glória para além do pé que pisa
As águas que passam. E vou com elas
Assim leve nos acasos desta viagem
Sem retorno. Abandonei entre as ervas
Os livros de ouro e as moedas
De prata — o palácio do ser enfim desviado
Das grandes estradas. O brilho das estrelas
Lembra-me que houve uma infância
Indecifrada. Tanto melhor. Saltei os anos —
Libertei-me da casca pouco a pouco
Acumulada. Que mais desejar? Praias
Desertas? Beber com a lua? Ouço a doce
Respiração amada; divido com ela
O belo capital que me resta: estas mãos
Vazias; velas de um corpo que desliza
Entre as folhas do outono caídas no chão.
Ainda Álvaro Fialho, nome maior da minha querida cidade. Muita gente não o sabe, mas Álvaro Fialho foi um talentoso desenhador. Que, com generosidade e empenho, concebeu muitos trabalhos mais ou menos anónimos. Aqui vos deixo esta capa do livro Telegramas, de Casimiro de Brito (n. 1938), um dos nossos grandes poetas.
O poema tem a ver com estes dias que vão passando.
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