sexta-feira, 16 de maio de 2014

O LUGAR ONDE O CORAÇÃO SE ESCONDE

Post sob um duplo equívoco. Estava convencido que tinha publicado este poema de Ruy Belo (1933-1978) e não o fizera. Estava também certo que já tinha divulgado fotografias de Duane Michals (n. 1932), mas afinal não.


O lugar onde o coração se esconde
é onde o vento norte corta luas brancas no azul do mar
e o poeta solitário escolhe igreja pra casar
O lugar onde o coração se esconde
é em dezembro o sol cortado pelo frio
e à noite as luzes a alinhar o rio
O lugar onde o coração se esconde
é onde contra a casa soa o sino
e dia a dia o homem soma o seu destino
O lugar onde o coração se esconde
é sobretudo agosto vento música raparigas em cabelo
feira das sextas-feiras gado pó e povo
é onde se consente que nasça de novo
àquele que foi jovem e foi belo
mas o tempo a pouco e pouco arrefeceu
O lugar onde o coração se esconde
é o novo passado a ida pra o liceu
Mas onde fica e como é que se chama
a terra do crepúsculo de algodão em rama
das muitas procissões dos contra-luz no bar
da surpresa violenta desse sempre renovado mar?
O lugar onde o coração se esconde
e a mulher eterna tem a luz na fronte
fica no norte e é vila do conde



The fallen angel data de 1968, o poema é de 1970. Assim, poética e sossegadamente, se entra no fim de semana.

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