sábado, 4 de setembro de 2021

BARBOSANIA GRACILIROSTRIS

Gostei muito de ter ido esta tarde, ao Museu de História Natural, em Sintra, para uma sessão de homenagem ao escritor e pintor Miguel Barbosa (1925-2019). Conheci o Miguel nos anos 80. A pedido de um seu primo fotografei alguns dos seus quadros, retratei-o e fiz depois uma reportagem durante uma inauguração numa galeria algures em Lisboa. Aos 20 anos somos de um imenso descaramento...

Fui-me cruzando com o Miguel ao longo dos anos, não tantas vezes quantas gostaria que tivesse acontecido. Era um pintor e um poeta de temas românticos, ainda que a sua forma de expressão fosse bem atual. Sempre achei extraordinária a sua enorme bonomia e a sua simplicidade. Viajou por todo o mundo, sem nunca narrar aventuras com jactância. Uma vez, num almoço, disparou-me esta "em Marrocos vou sempre para hotéis baratos; os pobres nunca incomodam nem assaltam os pobres". Fiquei boquiaberto, para mais me espantar quando me contou que uma vez no Norte de África o obrigaram a ir buscar o passaporte ao hotel para lhe servirem uma refeição, em pleno Ramadão. A sua tez escura e o cabelo encarapinhado faziam-no passar por africano. Rematou a narrativa com um "estas coisas são giras, não são?".

Uma das paixões de Miguel Barbosa eram os fósseis. Várias vezes saí lá de casa com trilobites no bolso "tome, leve lá esta que é gira". Tinha uma coleção imensa, que se recusou a vender e que legou ao Museu de História Natural, em Sintra. Um homem de uma generosidade sem limites, e que a Câmara Municipal hoje homenageou.

A minha surpresa do dia foi deparar com um fóssil denominado Barbosania gracilirostris. Um reconhecimento merecido, a alguém que anonimamente se dedicou à Ciência e nos legou fósseis, que são a expressão da vida, muito mais que da morte.


A história da descoberta dos fósseis do Barbosania até ser oficialmente batizado é bem antiga: tudo começou com o português entusiasta em paleontologia, Miguel Barbosa, que ao longo da vida colecionou diferentes fósseis vindos de todas as partes do mundo. Em uma viagem ao Brasil, na década de 70, ele adquiriu uma placa grande que continha um fóssil sem identificação, que permaneceu com ele por mais de 40 anos. Em 2009, um amigo alemão fotografou a placa e enviou as fotos a especialistas do Museu de Karlsruhe, na Alemanha, que logo perceberam que a placa continha fósseis de um animal novo.


Pediram-na, e a placa foi cedida por Miguel Barbosa aos paleontólogos do museu alemão, que trabalharam por dois anos com o material e concluíram se que tratava de uma nova espécie de pterossauro. Barbosania foi batizado no ano de 2011, pelos paleontólogos alemães Ross Elgin e Eberhard Frey.






Sem comentários: