Aquela nossa vizinha de carregado sotaque já não está entre nós há muitos anos. Quando a minha mãe andava à escola, batia à porta da casa da Salúquia e pedia-lhe ajuda "Julinha, tens que escrever uma carta pró mê Zéi". E começava um ditado-dissertação sobre a agricultura, como estavam e deixavam de estar as culturas, e mais o gado e mais a casa na aldeia. A dado ponto perguntou(-lhe) "Zéi, atão cá chove muito?". A minha mãe estacou e corrigiu "vizinha, não é cá, é aí". E ela que não "Julinha, é cá, porque pró mê Zéi lá é cá, ele quando lê, para ele é cá". A minha mãe desistiu e continuou disciplinadamente a missiva, em volta do meloal, e das galinhas e das leiras.
De cada vez que a encontrava, em Moura, e ela me perguntava, de forma muito sincopada, "Santiago, atão a tu' mãe?", lembrava-me sempre do "lá é cá". Que se converteu numa espécie de santo-e-senha entre os Canastros da Salúquia.
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