Não tenho o hábito de “pedir amizade” no
facebook a pessoas que não conheço. A exceção foi, há já uns bons 10 anos, um
fotógrafo italiano chamado Fausto Giaccone. A razão era simples: tinha/tenho
por ele uma enorme admiração, tanto pelo trabalho fotográfico, como pela
atitude cívica.
Os tempos passaram, até um dia me solicitarem
uma iniciativa a desenvolver no Panteão Nacional, para comemorar os 50 anos do
25 de abril. A primeira ideia foi celebrar o Povo e a sua presença no Panteão.
Houvera um antecedente – com os trabalhos de Artur Pastor – e este era o
momento de repetir a ideia, noutro registo. Fausto Giaccone fotografara o
processo de ocupações de terras no Couço, em agosto de 1975. Uma reportagem
única, a todos os títulos. Entrei em contacto com o fotógrafo através das redes
sociais. Resposta rápida e positiva, e o começo de um enorme desassossego. Da
exposição – primeiro só a preto e branco, depois também com imagens a cores –
se passou para a produção de um catálogo. Escolha de imagens, idas e vindas ao
atelier Black Box. Depois não há dinheiro e é preciso procurar soluções… Só o
apoio financeiro do Instituto Italiano de Cultura, da Câmara de Coruche e da
Junta do Couço permitiu que o livro chegasse ao fim. E ainda, e sempre, o
empenho do editor italiano Claudio Corrivetti e da POSTCART, que produziram um
catálogo magnificamente impresso.
Na primeira vinda a Lisboa ficou desfeito
o “mistério” da rápida aceitação do pedido de amizade. O Fausto pensava que eu
era presidente da câmara de MORA, terra onde ele estivera em 1975, e não de
MOURA. Bendito equívoco.
A exposição já lá vai (esteve patente
entre 7 de maio e 25 de agosto de 2024). O lançamento do catálogo foi em julho,
houve uma conversa-debate em setembro na livraria STET e a exposição está neste
momento em Coruche. Isto ficou por aqui? Nem por sombras. Há meses telefonou-me
um cineasta com ligações a Moura (não a Mora…), chamado Sérgio Tréffaut. Queria
pôr-se em contacto com o Fausto, porque estava a organizar uma exposição sobre
imagens de fotógrafos estrangeiros em Portugal durante os tempos da Revolução.
Assim se fez. “Venham mais cinco” pode ser vista em Almada, e as fotografias do
Fausto estão lá.
Este novo projeto foi a oportunidade para
reencontrar um homem excecional. Que manteve, ao longo de 40 anos, com os
amigos do Couço uma relação fraterna e próxima. Constatei isso no reencontro de
julho de 2024. Celebrámos este percurso há dias, num restaurante nas avenidas novas que lhe causou
impressão muito favorável, no ano passado. É um sítio de comida tradicional,
ambiente familiar e clientes 100% portugueses. Suspirou na altura “non abbiamo
più questo a Roma” (já não temos disto em Roma)
Do alto dos seus 81 anos continuou a falar com entusiasmo dos projetos futuros, da esperança no futuro, na convicção que o fim da História não será “este” dos tempos que vivemos. No final disparou-me um “sei sempre combattivo” (és sempre lutador), uma frase que não é coisa pouca, vinda de quem vem. Soube-me a condecoração.
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