domingo, 1 de junho de 2025

IL SIGNORE FAUSTO GIACCONE

Não tenho o hábito de “pedir amizade” no facebook a pessoas que não conheço. A exceção foi, há já uns bons 10 anos, um fotógrafo italiano chamado Fausto Giaccone. A razão era simples: tinha/tenho por ele uma enorme admiração, tanto pelo trabalho fotográfico, como pela atitude cívica.

Os tempos passaram, até um dia me solicitarem uma iniciativa a desenvolver no Panteão Nacional, para comemorar os 50 anos do 25 de abril. A primeira ideia foi celebrar o Povo e a sua presença no Panteão. Houvera um antecedente – com os trabalhos de Artur Pastor – e este era o momento de repetir a ideia, noutro registo. Fausto Giaccone fotografara o processo de ocupações de terras no Couço, em agosto de 1975. Uma reportagem única, a todos os títulos. Entrei em contacto com o fotógrafo através das redes sociais. Resposta rápida e positiva, e o começo de um enorme desassossego. Da exposição – primeiro só a preto e branco, depois também com imagens a cores – se passou para a produção de um catálogo. Escolha de imagens, idas e vindas ao atelier Black Box. Depois não há dinheiro e é preciso procurar soluções… Só o apoio financeiro do Instituto Italiano de Cultura, da Câmara de Coruche e da Junta do Couço permitiu que o livro chegasse ao fim. E ainda, e sempre, o empenho do editor italiano Claudio Corrivetti e da POSTCART, que produziram um catálogo magnificamente impresso.

Na primeira vinda a Lisboa ficou desfeito o “mistério” da rápida aceitação do pedido de amizade. O Fausto pensava que eu era presidente da câmara de MORA, terra onde ele estivera em 1975, e não de MOURA. Bendito equívoco.

A exposição já lá vai (esteve patente entre 7 de maio e 25 de agosto de 2024). O lançamento do catálogo foi em julho, houve uma conversa-debate em setembro na livraria STET e a exposição está neste momento em Coruche. Isto ficou por aqui? Nem por sombras. Há meses telefonou-me um cineasta com ligações a Moura (não a Mora…), chamado Sérgio Tréffaut. Queria pôr-se em contacto com o Fausto, porque estava a organizar uma exposição sobre imagens de fotógrafos estrangeiros em Portugal durante os tempos da Revolução. Assim se fez. “Venham mais cinco” pode ser vista em Almada, e as fotografias do Fausto estão lá.

Este novo projeto foi a oportunidade para reencontrar um homem excecional. Que manteve, ao longo de 40 anos, com os amigos do Couço uma relação fraterna e próxima. Constatei isso no reencontro de julho de 2024. Celebrámos este percurso há dias, num restaurante nas avenidas novas que lhe causou impressão muito favorável, no ano passado. É um sítio de comida tradicional, ambiente familiar e clientes 100% portugueses. Suspirou na altura “non abbiamo più questo a Roma” (já não temos disto em Roma)

Do alto dos seus 81 anos continuou a falar com entusiasmo dos projetos futuros, da esperança no futuro, na convicção que o fim da História não será “este” dos tempos que vivemos. No final disparou-me um “sei sempre combattivo” (és sempre lutador), uma frase que não é coisa pouca, vinda de quem vem. Soube-me a condecoração.


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