segunda-feira, 4 de maio de 2009

CECÍLIA MEIRELES

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...

— mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...

— palavra que não direi.


Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

Subitamente, recordei-me de Cecília Meireles (1901-1964). Um poema seu estava impresso no meu livro da 4ª classe. Já não me lembro qual, mas recordo as suas palavras um pouco tristes. Como as do poema Timidez.


Há dias assim, em que procuramos textos antigos ou que são meramente evocativos. Aqui fica uma passagem de um livro que verá a luz do dia dentro de semanas. "Texto bonito, mas mais triste ainda do que parece", já me disseram. Há dias assim e momentos assim.

"As cidades em volta do mar, cheias de vozes e de gente, são brancas. O branco das paredes reflecte-se nos lenços e na timidez das mulheres. São cidades discretas e, às vezes, mesmo um pouco tristes. Em muitas delas não há turistas, porque os turistas não gostam de cidades belas mas um pouco tristes e porque os turistas querem quase sempre um pouco mais que a bruma que envolve as baías e os portos do mar ao entardecer."
O excerto e a fotografia, de uma janela de uma casa do Cairo, fazem parte de um livrinho que irá chamar Mar do meio.

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