sexta-feira, 20 de novembro de 2015

JOGOS DE ÁGUA

Eis que quase chega o sábado. Só mesmo quase. Há, ainda, uma parte do dia a cumprir. Amanhã há agenda e trabalho a fazer. Domingo também. Entretanto, leiamos poesia e procuremos fontes de inspiração ("mais texturas...", diz, desalentado, um amigo meu).

O poema é de David Mourão-Ferreira.


Corpo meu que no Mar de repente retomas
ao rebentar da onda a posição do feto
Surpreende a matriz de onde partem as ordens

Mas não perguntes mais        Porque tudo é incerto


A sôfrega aventura A ligação mais firme
A flor de uma só noite A que se crê eterna
Não há forma de amor em que a água não vibre

Ou saliva    Ou suor       Ou lágrimas       Ou esperma


Entranham-se na terra os arames da chuva
para apertar melhor as tábuas dos caixões
Ou para transmitir notícias de uma nuvem

Sem saberem que a morte as oculta depois




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