segunda-feira, 16 de março de 2020

LEÃO! LEÃO!

Cinquenta anos se passaram, mas o poema está novo. Em dia de espera, com tudo suspenso, deixaláveroqueistodá, enquanto não começa a videoconferência das 15, vou lendo ao Deus dará. O poema é de Vinicius de Moraes (1913-1980), a juba do leão - um colosso em basalto - foi fotografada em Aïn Dara (Síria), num já longínquo outono de 2003.


Leão! Leão! Leão!
Rugindo como o trovão
Deu um pulo, e era uma vez
Um cabritinho montês.

Leão! Leão! Leão!
És o rei da criação

Tua goela é uma fornalha
Teu salto, uma labareda
Tua garra, uma navalha
Cortando a presa na queda.

Leão longe, leão perto
Nas areias do deserto. 
Leão alto, sobranceiro
Junto do despenhadeiro.
Leão na caça diurna
Saindo a correr da furna.
Leão! Leão! Leão!
Foi Deus que te fez ou não?

O salto do tigre é rápido
Como o raio; mas não há
Tigre no mundo que escape
Do salto que o Leão dá.
Não conheço quem defronte
O feroz rinoceronte.
Pois bem, se ele vê o Leão
Foge como um furacão.

Leão se esgueirando, à espera
Da passagem de outra fera...
Vem o tigre; como um dardo
Cai-lhe em cima o leopardo
E enquanto brigam, tranquilo
O leão fica olhando aquilo.
Quando se cansam, o leão
Mata um com cada mão.

Leão! Leão! Leão! 
És o rei da criação!


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