quarta-feira, 25 de março de 2020

POLÍTICA E POESIA

Em tempo de arrumações aparece de tudo um pouco. Como esta memória já longínqua. 2000 foi o Ano Internacional do Livro. Resolvi, enquanto presidente da Assembleia Municipal de Moura, associar o órgão à celebração, lendo no final de cada sessão dois poemas. Foi o bom e o bonito. Houve discreta e generalizada chacota. Indiferente às bocas, segui em frente. Um hábito antigo.

No meio dos papéis, só encontro os poemas lidos em 2001. Mas tenho a certeza de que em 2000 também houve poesia no final das sessões. Recordo, em particular, de estar a ler um e de ouvir os risinhos abafados de Manuel Bravo, primeiro secretário da Assembleia. Era este, de Alexandre O'Neill:

O respeitoso membro de azevedo e silva
nunca perpenetrou nas intenções de elisa
que eram as melhores. Assim tudo ficou
em balbúrdias de língua cabriolas de mão.

Assim ficou tudo até que não.

Azevedo e silva ao volante do mini
vê a elisa a ultrapassá-lo alguns anos depois
e pensa pensa com os seus travões
Ah cabra eram tão puras as minhas intenções

E a elisa passa rindo dentadura aos clarões.



28.2.2001
Aquela triste e leda madrugada - Luís de Camões
Aquela clara madrugada - Manuel Alegre

2.4.2001
Catarina Eufémia - Sophia de Mello Breyner Andresen
Lá do planalto dos altos fornos - Mário Dionísio

13.4.2001
Busque Amor novas artes, novo engenho - Luís de Camões
Ser benfiquista - Manuel Paulino Gomes Júnior

27.06.2001
Barca Bela - Almeida Garrett
Imagem - Sebastião da Gama

29.8.2001
Vês desaparecer o rouxinol? - Joaquim Manuel Magalhães
Nunca ouvi um alentejano cantar sozinho - José Gomes Ferreira

26.9.2001
Estrada de fogo - Fiama Hasse Pais Brandão
Ao sentir tremer o mundo - António Aleixo

14.11.2001
Guerra - Cecília Meireles
Desceu tão de repente o sol - Fernando Pinto do Amaral

Gaspar Melchor de Jovellanos, por Francisco Goya

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