A passagem pelo livro de Komrij que, apesar de todo o sarcasmo, vive em Portugal há 26 anos, fez-me regressar a um excerto de Paul Bowles (1910-1999). Na Letter from Tangier, publicada em 1954 no The London Magazine, teve esta tirada: O que é realmente extraordinário é que a incrível quantidade de edifícios caros que foram erguidos apenas contribuiu para que a cidade pareça mais improvisada, caótica e vil. Havia uma certa ruinosa unidade no estilo arquitectónico de há 20 anos; agora não há nenhuma. O lugar é francamente horrível. É como uma jóia cujo suporte é superior à pedra. O céu azul, o mar azul e as montanhas azuis ainda aqui estão, mas a cidade, à qual não resta outro azul para além do das casas de alguns marroquinos recalcitrantes, já não tira partido dos seus encantos combinados. Pelo contrário, como quase todas as coisas do presente, ergue-se em torpe desafio às leis da natureza e da beleza.
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Custa a crer, mas a verdade é que Paul Bowles ainda viveu mais 45 anos na cidade à qual dedicou tão demolidoras palavras.
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Custa a crer, mas a verdade é que Paul Bowles ainda viveu mais 45 anos na cidade à qual dedicou tão demolidoras palavras.
Vue sur la baie de Tanger 1912 - Henri Matisse (1869-1954)
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Caótica e luminosa, acolhedora e sensual, Tânger é uma das mais belas cidades do mundo. Já expliquei porquê ao Francisco, ao José Alberto, à Conceição e ao Luís. Acho que eles , já lá vão onze anos, perceberam as minhas razões.
1 comentário:
"Os fanáticos de Tanger" é um dos meus quadros preferidos de Delacroix. Ao reve-lo recentemente encontrei um pequeno pormenor curioso: uma janela pequena (no quadro em cima à direita) é igualzinha às janelas do "Patio dos Rollins"...
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