É a parte menos conhecida das Tentações de Santo Antão, de Hironymus Bosch. São os painéis exteriores do tríptico, que só eram visíveis quando os volantes estavam fechados. O quadro faz um contraponto interessante com o Jardim das Delícias (v. aqui). As preocupações e interesses do pintor são semelhantes num e noutro.
Está por saber como e porquê esta obra chegou a Portugal. Faz parte da coleção do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.
Eis parte do texto que pode ser lido no site do museu:
Através de uma escrita pictural de múltiplos signos, esta impressionante
obra traduz o medo e a inquietação que tocam a alma e a natureza
humanas. Num espaço de vastidão que evolui desde os lugares subterrâneos
até às regiões aéreas, as tábuas do tríptico estabelecem a progressão
do caminho de Santo Antão. No centro da composição o santo olha para
fora do quadro, olha para além do espaço de desordem que materializou em
pintura os seres fantásticos que o povoam com o mesmo ímpeto com que
atormentam o espírito. Recolhido no escuro e apontado pelo seu bordão,
Cristo é o indelével sinal de uma luz redentora.
Poderosa súmula de pensamento que anuncia mudança, esta pintura organiza-se entre a obssessiva tradição medieval do registo minucioso e a modernidade com que se constrói um espaço global que explode em clarões e valores lumínicos que conferem unidade ao caos aparente. Aquém e além da linha do horizonte, as figuras surreais movem-se e esvoaçam num mundo de tormenta que tem o seu contraponto no Jardim das Delícias, outra obra máxima de Bosch que se encontra no Museu do Prado, em Madrid.
Poderosa súmula de pensamento que anuncia mudança, esta pintura organiza-se entre a obssessiva tradição medieval do registo minucioso e a modernidade com que se constrói um espaço global que explode em clarões e valores lumínicos que conferem unidade ao caos aparente. Aquém e além da linha do horizonte, as figuras surreais movem-se e esvoaçam num mundo de tormenta que tem o seu contraponto no Jardim das Delícias, outra obra máxima de Bosch que se encontra no Museu do Prado, em Madrid.
A propósito da palavra tentação, que bem podia ser a de Santo Antão, socorro-me da poesia de Luís Filipe Castro Mendes, diplomata e poeta, cujo blogue descobri recentemente:
Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.
Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.
Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa
a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.
Luis Filipe Castro Mendes in Os Amantes Obscuros
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.
Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.
Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa
a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.
Luis Filipe Castro Mendes in Os Amantes Obscuros
1 comentário:
muito interessante!
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