Jogavam no Jogo o jogo das escondidas
e atiravam bolegadas aos bardos dos quintais.
Roubavam a cana do caiado e apanhavam morcegos,
ao cair da tarde
e levavam porrada com o que da cana sobrava.
Na boca da noite faziam procissões
e o padre até cantava.
Os meninos eram sacristão, tamborileiro
guiões e foguetes.
Com sapatos inventados no pó
e o dedo grosso atado da topada
tocavam clarinetes,
bombos e gaitas de todas as orquestras.
Quando chegavam a casa comiam feijões de azeite
porque era dia de festa.
À mingua de luz faziam a cópia e liam a lição
A BEM DA NAÇÃO
Faziam contas de dividir: o pão, os gomos da laranja,
as azeitonas.
Dava sempre resto zero.
Dormiam depois consolados de amanhãs
com sopinhas de café
às vezes.
No adro da Escola eram heróis de guerra
e desenhavam vidas.
Umas aqui outras abaladas.
Juntam-se agora nos largos vazios da aldeia
e entornam copos de vinho:
a marca é saudade
porque a lembrança,
a lembrança
é sempre o que fica atado na ponta do lenço...
Cartier-Bresson para um poema de Antónia Baião. Ou ao contrário.
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