quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A CHUVA CAI LEVEMENTE

Levemente, mas sem parar. Não parou hoje, nem ontem, nem anteontem. Nem há vários dias. Nem amanhã, nem depois de amanhã. Nem no sábado. Um inverno cinza e frio. As palavras de Fernando Pessoa dizem essas coisas melhor do que eu diria.

A chuva e o hiper-realismo trouxeram-me à memória este Rue de Paris, temps de pluie, pintado por Gustave Caillebotte (1848-1894), um dos menos conhecidos do grupo dos impressionistas. O seu estilo de abordagem realista será recuperado mais tarde.

O quadro encontra-se hoje no Art Institute of Chicago.


    Cai chuva do céu cinzento
    Que não tem razão de ser.
    Até o meu pensamento
    Tem chuva nele a escorrer.
    Tenho uma grande tristeza
    Acrescentada à que sinto.
    Quero dizer-ma mas pesa
    O quanto comigo minto.


    Porque verdadeiramente
    Não sei se estou triste ou não.
    E a chuva cai levemente
    (Porque Verlaine consente)
    Dentro do meu coração.



    Fernando Pessoa, 15-11-1930



Sem comentários: