Levemente, mas sem parar. Não parou hoje, nem ontem, nem anteontem. Nem há vários dias. Nem amanhã, nem depois de amanhã. Nem no sábado. Um inverno cinza e frio. As palavras de Fernando Pessoa dizem essas coisas melhor do que eu diria.
A chuva e o hiper-realismo trouxeram-me à memória este Rue de Paris, temps de pluie, pintado por Gustave Caillebotte (1848-1894), um dos menos conhecidos do grupo dos impressionistas. O seu estilo de abordagem realista será recuperado mais tarde.
O quadro encontra-se hoje no Art Institute of Chicago.
- Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.
- Tenho uma grande tristeza
- Fernando Pessoa, 15-11-1930
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.
Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.
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