domingo, 26 de outubro de 2014

NO SEX, RELIGION OR POLITICS

Era esse o lema das aulas no Instituto Britânico. A brisa vitoriana ainda não se extinguira, e tais assuntos nunca entraram nas salas dos professores Joe Tierney, John Ladhams e Margaret Kelting, aliás Miss Kelting. Tenho a certeza que nenhum deles apreciaria o estilo de José Vilhena, um dos meus ídolos e um dos autores humorísticos mais marcantes do século XX português. Li bastantes livros de Vilhena na minha juventude. Foi com prazer que vi agora reeditado "Branca de Neve e os 700 anões", livro proibido pela Censura. Faz parte de uma coleção de obras proscritas pelo fascismo e que o Público decidiu, em boa hora, reimprimir.

Aqui vai um excerto, exemplo da mais pura provocação:

Chama-se Afonso e é, fundamentalmente, um patife, muito embora já tivesse usado as insígnias de chefe de quina e servido de sacristão na igreja na sua terra. Muito católico, mas mais ronha e ambicioso do que manda a doutrina da igreja às suas ovelhas, veio da Beira Alta, donde têm descido curiosos exemplares de manhosice e dúbia esperteza. Falava axim. Começou como ajudante do Rei dos Fritos: mexia-lhe a massa e, às terças e sextas-feiras, encontrava-se secreta e pecaminosamente com a patroa. Em suma: ajudava duplamente o velhote. (pp. 51-52)

Em poucas linhas, sexo, igreja, piadas à Mocidade Portuguesa e a Salazar. Escreveu o pobre censor no seu relatório "[o livro] é escrito com linguagem desbragada, tem passagens da mais baixa obscenidade, ilustrações imorais (...)". Vilhena deve ter ficado lisongeado. Eu ficava.

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