É o
grande momento do calendário da nossa cidade. Tal como os antigos se orientavam
pelo sol e pelas estações do ano, nós guiamos o nosso tempo pela Festa de Nossa
Senhora do Carmo. Há, no tempo que passa e no relógio de todos nós, um “antes”
e um “depois” da festa.
Este
ano, tudo se vai passar entre os dias 16 e 20 de julho. O nosso quotidiano vai
alterar-se e viveremos em função de acontecimentos em tudo diferentes dos do
resto do ano. De quinta à tarde até terça de madrugada há momentos que fazem
parte desse calendário rápido e que todos os mourenses conhecem. São familiares
a todos o ato formal da abertura e do desfile inaugural, o fogo de artifício, a
procissão de domingo à tarde, o fim de festa com música popular e com a
multidão que invade o recinto da feira.
O grande acontecimento da Festa de Nossa
Senhora do Carmo é a procissão de domingo. Vamos todos, os crentes, os ateus e
os agnósticos. O percurso é antigo (a procissão em honra do D. João VI, em
julho de 1816, percorreu as mesmíssimas ruas) e bem conhecido de todos.
Escrevi, em 2001, estas palavras: “acima das nossas cabeças, as janelas vestem
as suas melhores colchas, uma homenagem cheia de cor à fé que vai passando. Em
baixo continua o desfile, pelo qual esperaremos várias vezes. Apanhamo-lo na
primeira esquina, esperamos que passe, iremos adiante, veremos as mesmas
pessoas, ultrapassaremos a multidão mais uma, duas, três vezes, até tudo
acabar, já com o Sol a pôr-se lá longe, por detrás dos cerros e das escarpas
que separam o Alto do Baixo Alentejo.” Poderia
escrever, hoje, exatamente o mesmo texto. Daqui a cinquenta anos será mais ou menos assim.
Este ano, a Praça estará um pouco
diferente. Achámos que era o momento de se expressar apoio à Festa e à sua
Comissão de outra maneira. As janelas dos edifícios camarários terão colchas a
engalanar um pouco mais o centro da cidade e a darem um pouco mais de brilho à
procissão. A ideia foi acolhida com entusiasmo pelas trabalhadoras da
autarquia, peça essencial nesta iniciativa. É apenas um gesto, bem sabemos. Mas
é um gesto pleno de simbolismo, e que pretende contribuir para demonstrar o
orgulho da nossa terra. Sem limites nem concessões.
Em
momentos como este o meu agnosticismo pouco conta. Moura, a Festa, a Comissão
contam muito mais.
Texto publicado hoje em "A Planície" (fotografia de António Cunha, do livro "Moura - crónica da festa", editado pela CMM em 2001)
Sem comentários:
Enviar um comentário