sábado, 25 de julho de 2015

ALGARVE - IV: MANUEL TEIXEIRA GOMES

Ia-me elle contando as pericpecias da sua pesca, mas de repente pára e aponta para uma furna distante, visivel pelas frinchas que a perspectiva das rochas abre ao acaso: dentro estão duas mulheres sentadas, dobrando os chales com geito de quem se vae despir.

O rapaz não as conhece e observa:

-"Devem ser do campo e pensam que ninguem as vê...; a apostar que se vão despir e que a gente as vê nusinhas..."

- "Deixa-as lá..."

Despem-se com effeito, entre risos que mal ouvimos. Ambas são trigueiras comquanto mostrem nos braços uma alvura que os rostos não fazem suspeitar. Differem consideravelmente na edade. A uma d'ellas alteia-lhe a camisa no peito com exuberancias d'amojo e na outra cahe em pregas pelo gracil corpinho abaixo. Riem; riem muito, a porfiar qual d'ellas ha de primeiro despir a camisa. É a mais nova que se decide: mostra no torneado tronco dois meios limões agudos onde a outra põe logo os labios; depois esta abre tambem a camisa, soltando os tumidos seios maduros que a outra apalpa. Recrudescem os risos...

Mas esta scena dura apenas momentos porque ellas logo enfiam as saias brancas pela cabeça, perscrutando medrosas com a vista, em redor, e, erguendo-se, desapparecem por detraz das rochas.


Excerto do livro Agosto Azul, de 1904, que já por aqui andou. É seu autor Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), este senhor de ar muito distinto que vemos no quadro. Viria a ser Presidente da República (entre 6/10/1923 e 11/12/1925). Nasceu em Portimão e faleceu em Bougie, na Argélia.

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