POIS DEUS ABANDONA A ANTÓNIO
Quando de repente, à hora da meia-noite, se ouvir
Quando de repente, à hora da meia-noite, se ouvir
passar a turba invisível
com músicas requintadas, com vozes –
a tua sorte que já cede, as tuas obras
que falharam, os planos da tua vida
que deram em equívoco, não os deplores em vão.
Como preparado há muito, como corajoso,
despede-te dela, da Alexandria que se vai embora.
Sobretudo não te enganes, não digas que foi
um sonho, que foram defraudados os teus ouvidos;
tais esperanças vãs não te rebaixes a aceitar.
Como preparado há muito, como corajoso,
como convém a ti que mereceste tal cidade,
aproxima-te resoluto da janela,
e ouve com emoção, mas não
com as súplicas e as queixas dos covardes,
qual último deleite, os sons,
os instrumentos requintados da turba oculta,
e despede-te dela, da Alexandria que perdes.
Recupero coisas passadas do blogue. Dos meses de maio e agosto de 2009. Uma fotografia minha e um poema de Konstandinos Kavafis (1863-1933), que data de 1911 (tradução de Joaquim Manuel Magalhães e de Nikos Pratsinis). Evoca a noite anterior à batalha de Alexandria (30 a.C.), após a qual Marco António se suicidou.
Gosto especialmente deste texto, tal como gosto desta minha fotografia, feita no Cairo na primavera de 2007. Há sítios que (me) estão sempre em pano de fundo. Como o Cairo, Argel, Ghadames ou Pasárgada.
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