quarta-feira, 1 de março de 2017

NA SUIÇA

Um mandato autárquico tem momentos fortes. Não me refiro a festas ou a inaugurações, esses momentos tão do agrado de alguns, mas sim aquelas ocasiões que retemos e que nos marcam de uma forma muito particular.

Um desses momentos, absolutamente inolvidável, teve lugar nos passados dias 17 e 18 de fevereiro, na Suiça. Tinhamos decidido que haveria uma Câmara Aberta dedicada aos nossos emigrantes que residem, muitos deles há largos anos, em terras helvéticas.

Assim fizémos. Preparou-se a logística e organizou-se um encontro com gente do concelho. Haveria um espetáculo musical e eu faria uma curta intervenção. Convidou-se o Cônsul-Geral de Portugal em Genbra a estar presente.

Um pouco cético, pensei que seria um encontro muito interessante, mas cingido a umas 50 ou 60 pessoas, não mais. Seria sempre importante, em todo o caso, estar com os nossos patrícios.

Nem 50, nem 60, nem 100, nem 150. No sábado, dia 18, juntámos cerca de 230 habitante do nosso concelho, num salão de festas em Préverenges, nos subúrbios de Lausanne. Foi um momento fortíssimo e de especial emoção. Encontrei pessoas que não via há mais de 20 anos (um deles ousou tratar-me por você!, antes de eu tal proibir e de nos abraçarmos recordando a infância na Porta Nova), colegas de escola primária, amigos de toda a vida. Porque promovemos esta Câmara Aberta? Porque os nossos emigrantes o merecem. Foi um gesto e atenção para com os que tiveram de partir. É uma forma de lhes dizer que contamos com eles, não os esquecemos, que jamais os esqueceremos.

Poderíamos ter organizado um encontro cá? Sim, mas não teria o mesmo significado, nem o mesmo impacto. No verão, os emigrantes descomprimem, depois de um ano duro de trabalho e têm outros interesses. Estar com eles assim, visitar os sítios onde trabalham, conviver com eles é bem diferente. Os próprios emigrantes mo disseram, uma vez e outra. Ouvi frases que me espantaram (“como é que se o senhor presidente se deu a este trabalho?” foi a mais repetida, quando na realidade a obrigação de um autarca é procurar a proximidade dos munícipes), e a reafirmação da importância desta iniciativa. Que terá de ser repetida no futuro, foi-me expressamente exigido.

Entretanto, iremos pôr em marcha o Gabinete do Emigrante, na Câmara Municipal de Moura. Que se destinará, sobretudo, a informar e orientar quem está longe e precisa de um apoio que é, muitas vezes, bem simples de resolver. Até à Páscoa esta pequena estrutura estará apta a funcionar.


“Todo pasa y todo queda,pero lo nuestro es pasar”, escreveu o grande poeta Antonio Machado. É nesse sentido da rapidez e da transitoriedade das coisas que deixo aqui um reconhecido agradecimento a todos os que se envolveram nesta iniciativa. Só a generosidade de tantos amigos possibilitou o êxito. Que contou com a decisiva participação da “Rádio Planície”.


Crónica publicada hoje, em "A Planície".

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