sábado, 1 de fevereiro de 2020

JOSÉ COSTA SILVA EM MOURA

Foi um dos mais ativos, e menos conhecidos, arquitetos do Estado Novo. De tal modo que não se conseguem facilmente dados sobre a sua biografia. O consulado de Oliveira Salazar associa-se, na arquitetura, a nomes como os de Cristino da Silva, Pardal Monteiro, Cottinelli Telmo, João Simões, Reis Camelo, Jorge Segurado, Paulino Montez, entre outros. O “português suave” que se foi impondo esmagou o talento de muitos deles. Não sou especialista em arquitetura contemporânea, mas os trabalhos de Reis Camelo feitos no pós-25 de abril parecem-me bem mais interessantes que os dos anos 40 e 50...

No meio desta parada de estrelas, é com dificuldade que identificamos o nome de José Costa Silva. Foi, contudo, um dos arquitetos mais destacados da Junta de Construções para o Ensino Técnico e Secundário (JCETS). Projetou os liceus Salvador Correia (Escola Secundária Mutu Ya Kevela), em Luanda, e Salazar (Escola Secundária Josina Machel), em Lourenço Marques (actual Maputo). A portugalidade tropical é, desde há muito, tema de estudo de Ana Vaz Milheiro. Em Portugal, José Costa Silva assinou projetos como o do Liceu de Faro, nos anos 40. Ainda segundo um texto daquela investigadora – apoiando-se em dados de Fernando Moreira Marques, do livro Os Liceus do Estado Novo, são também da sua autoria os liceus Nuno Álvares (Castelo Branco, 1940), Gil Vicente e D. João de Castro (Lisboa, 1944 e 1945, respetivamente), e José Estêvão (Aveiro, 1947). Trabalhou ainda num anteplano de urbanização da Praia da Rocha.

Em 1951, José Costa Silva foi contratado pela Caixa Geral de Depósitos para fazer o projeto da agência de Moura. Refiro-me à agência antiga, na esquina das Ruas da República e 5 de outubro. É um dos menos emblemáticos de toda a história do banco e um dos mais discretos projetos do seu autor. Tem as pesadas características da maior parte dos projetos da Caixa. Sobressaem um ar sisudo e institucional, como se esperaria de uma vetusta entidade do Estado. Há cantarias de ar pesado e gradeamentos em ferro. A grelha em tijoleira, na entrada da casa do gerente, na Rua 5 de Outubro, dá um ar dos tempos e identifica o apego de toda uma geração ao “português suave”. A agência da Caixa foi vendida há muitos anos, tendo o seu espaço sido ocupado por um estabelecimento comercial. De José Costa Silva. pouco mais consegui apurar. Curiosamente, em tempos recentes, fui dar com assinatura dele num projeto concretizado num bem conhecido edifício lisboeta. Para o qual tive de delinear uma exposição, sobre “Lisboa Islâmica”. Que será assim levada a cabo sob a sombra de um arquiteto que ficou ligado a Moura.

Crónica em "A Planície"

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