segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

ADALBERTO ALVES - 40 ANOS DE VIDA LITERÁRIA

Foi hoje, ao fim da tarde. Teve lugar, na Biblioteca Nacional, a apresentação da mostra sobre os 40 anos de vida literária de Adalberto Alves. Uma sala a abarrotar, num final de tarde cheio de evocações e que incluiu a leitura de alguns poemas de Almutâmide. Na verdade, a iniciativa é um dois-em-um, com outra mostra sobre o poeta do século XI a decorrer em paralelo.

Em breve sairá um livro que inclui cerca de duas dezenas de testemunhos sobre a obra de Adalberto Alves. Teve a simpatia de me convidar. Aqui fica o texto que escrevi.


ADALBERTO ALVES: INVESTIGAÇÃO E DIVULGAÇÃO

As palavras “Invisível a meus olhos, trago-te sempre no coração” acompanharam-me, dias a fio, em 1999. A leitura do poema de Almutâmide, na tradução de Adalberto Alves, fazia parte de um pequeno filme integrado na exposição Marrocos-Portugal: portas do Mediterrâneo. Sob o céu inspirador de Tânger, celebravam-se os encontros e desencontros da História e, também, aqueles que a ajudaram a divulgar aspetos da beleza do passado. Como é o caso de Adalberto Alves.

Não é muito comum que se faça, aos 46 anos, a primeira publicação num domínio tão especializado como o da cultura árabe. Foi um duplo regresso às raízes, as mediterrânicas, que são as de todos nós, e a Beja, terra dos antepassados de Adalberto Alves. À edição promovida pela Câmara Municipal de Beja, rendendo homenagem ao poeta que ali nasceu em 1040, seguiram-se muitas outras publicações. Não foram só as traduções, cuidadas e que recriam o tom poético, sem o trair. Foram sendo dados à estampa trabalhos fundamentais, ora de tradução (o muito justamente celebrado O meu coração é árabe, 1987) ora de divulgação (A herança islâmica em Portugal, 2001), ora de mais aturada investigação (As sandálias do mestre, 2009). Esta última obra deu a conhecer, junto de um público mais vasto, a figura de Ibn Qasi. Ajudou-nos a compreender e a descodificar a complexa personalidade do líder político e religioso e militar que viveu no nosso território. Deste místico do nosso sudoeste peninsular chegou até nós uma obra completa, conservada numa biblioteca de Istambul. Foi esse intenso trabalho de pesquisa e de reflexão filosófica que valeu a Adalberto Alves o prestigioso “Prémio Sharjah da UNESCO para a Cultura Árabe”.

Uma página é curta para abordar tão densa e profícua obra. Não é possível, nem desejável, um balanço. Mas é, seguramente, o espaço para celebrar o autor e o poeta que nos tem ajudado a entender, e a desmistificar, uma parte desse coração que é de todos nós.

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