segunda-feira, 11 de maio de 2020

SOMBRAS PRÓXIMAS

Escrevi isto no dia 31 de março de 2014:

DE JACQUES DUCLOS A JACQUES BOMPARD - NOTA BREVE SOBRE UMA EVOLUÇÃO PERTURBADORA

Por puro interesse pela política gaulesa segui, durante a noite de ontem, nas edições on-line do Le Figaro, do Le Monde, do Parisien e do Libération os resultados das eleições municipais de ontem. Os resultados à esquerda foram um desastre. Mas o facto que me causou maior perturbação foi a evolução que a França teve, do ponto de vista de orientação do voto no último meio século. Melhor dizendo, ou perguntando, onde é o que o Front National, ou os seus aliados, têm as suas melhores votações?

Beaucaire (Gard)
Cogolin (Var)
Fréjus (Var)
Hayange (Moselle)
Hénin-Beaumont (Pas de Calais)
Le Luc (Var)
Le Pontet (Vaucluse)
Mantes-la-Ville (Yvelines)
Marseille 7e secteur (Bouches du Rhône)
Villers-Cotterets (Aisne)
Béziers (Hérault)
Camaret-sur-Aigues (Vaucluse)
Orange (Vaucluse)

Destes 13 municípios, 9 situam-se no sul, bem perto do Mediterrâneo. O mais interessante é a constatação de como se votava, em tempos, nestes departamentos. Na eleição presidencial de 1969, Jacques Duclos deu ali cartas, conquistando votações entre os 25 e os 30%. Mesmo em 1981, Georges Marchais ainda atingia scores assinaláveis: 18% (Var), 19% (Vaucluse) 26% (Bouches du Rhône, sendo aí o candidato mais votado na primeira volta), 21% (Hérault), 25% (Gard) e 22% (Aisne). O PCF é, hoje, uma triste insignificância. Pior do que isso, o eleitorado passou da esquerda para a extrema-direita. Veja-se o caso de Hénin-Beaumont. Não porque os extremos se toquem, como já ouvi... Mas porque a falta de soluções leva direitinho aos cantos de sereia. Daí ao voto defensivo, anti-imigração, anti-qualquercoisa, vai um passinho de pulga. O voto no Front National é, recorde-se, um voto popular e operário. Tal como o foi o voto que levou Hitler ao poder.

Em Portugal temos Paulo Portas, que faz o pleno nessa área. Ainda temos de lhe "agradecer"...


O que aconteceu, em Portugal, entretanto? Surgiu e instalou-se, em Portugal,  um partido de extrema-direita, sem programa a não ser o do ódio, e que tira partido da raiva e do desencanto que se instalaram. Esvaziou o CDS e foi buscar votos a franjas da esquerda, que acham que "assim é que é", "ali está um que diz as verdades" (seja lá isso o que for). E que conta com o beneplácito dos "media".

Começa a pôr-se a mesa. O que se seguirá, não será bom.

1 comentário:

José Jorge Frade disse...

Os democratas portugueses não podem assistir passivos ao incremento das expressões de ideologia fascista. Há que reavivar a memória de um povo adormecido. Explicar aos mais novos como era a vida em Portugal antes do 25 de abril de 1974.