quarta-feira, 19 de maio de 2021

IN AGRO

Manhã olisiponense, em ambientes campestres. Tomando conhecimento com realidades que estão mesmo à mão de semear e, que por diferentes razões nos escapam.

Numa parede da Baixa, uma paisagem bucólica e campestre rematou essa parte do dia. Quem morou naquela casa? E quando? E porque vivia, em plena cidade, rodeado de um jardim pintado?


O JARDIM

 

O jardim está brilhante e florido,

Sobre as ervas, entre as folhagens,

O vento passa, sonhador e distraído,

Peregrino de mil romagens.


É Maio ácido e multicolor,

Devorado pelo próprio ardor,

Que nesta clara tarde de cristal

Avança pelos caminhos

Até os fantásticos desalinhos

Do meu bem e do meu mal.


E no seu bailado levada

Pelo jardim deliro e divago,

Ora espreitando debruçada

Os jardins do fundo do lago,

Ora perdendo o meu olhar

Na indizível verdura

Das folhas novas e tenras

Onde eu queria saciar

A minha longa sede de frescura.


Sophia de Mello Breyner Andresen


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