Manhã olisiponense, em ambientes campestres. Tomando conhecimento com realidades que estão mesmo à mão de semear e, que por diferentes razões nos escapam.
Numa parede da Baixa, uma paisagem bucólica e campestre rematou essa parte do dia. Quem morou naquela casa? E quando? E porque vivia, em plena cidade, rodeado de um jardim pintado?
O JARDIM
O jardim está brilhante e florido,
Sobre as ervas, entre as folhagens,
O vento passa, sonhador e distraído,
Peregrino de mil romagens.
É Maio ácido e multicolor,
Devorado pelo próprio ardor,
Que nesta clara tarde de cristal
Avança pelos caminhos
Até os fantásticos desalinhos
Do meu bem e do meu mal.
E no seu bailado levada
Pelo jardim deliro e divago,
Ora espreitando debruçada
Os jardins do fundo do lago,
Ora perdendo o meu olhar
Na indizível verdura
Das folhas novas e tenras
Onde eu queria saciar
A minha longa sede de frescura.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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