O telefonema chegou nos últimos dias de fevereiro. Reconheci, no outro lado, a voz do eng. Bernardo Alabaça, Diretor-Geral do Património Cultural. Comunicava-me que tinha ganho o concurso para o Panteão Nacional e perguntava-me, formalidade obrigatória, se aceitava o lugar. Não esperava ganhar – sou um “outsider”, tinha sido presidente de uma câmara, a idade também já não ajudava muito -, mas aquele telefonema deixou-me feliz. E tranquilo. Passado pouco mais de um mês estava sentado no gabinete destinado à direção do monumento.
O tempo passa depressa e nove meses já lá vão. Os dias que se seguiram ao anúncio foram curiosos, com muitas centenas de mensagens de felicitações, e muitas referências a Eusébio e a Amália. Passava a haver um mourense a dirigir um monumento nacional.
O tempo para respirar foi pouco. A equipa é curta – não chegamos à dezena e conto com elas (são só senhoras!) todos os dias -, as solicitações são muitas e a necessidade de pôr em prática o plano a que me propusera rapidamente me tomou o tempo. O carrocel de altos e baixos da pandemia não deu sossego nem espaço.
O que há a fazer assenta em três áreas fundamentais: 1) as obras de reabilitação do edifício; 2) o trabalho de programação e a divulgação; 3) a investigação e o conhecimento. O primeiro ponto depende, em grande medida do PRR. Há 946.000 euros destinados ao Panteão, verba suficiente para os pontos considerados fundamentais. Há desafios a vencer. É possível ganhar a aposta? Sim. Com pragmatismo, energia e espírito de missão. A experiência da Câmara de Moura ajuda bastante. A oportunidade é única e há que dela tirar partido. O trabalho de programação avançou, com cerca de uma dezena de espetáculos musicais (apropriados ao sítio), com quatro exposições, e mais três conferências dedicadas a Aristides de Sousa Mendes. Pelo meio ainda se procedeu ao lançamento de um selo dos CTT e, ponto alto, teve lugar a homenagem a Aristides de Sousa Mendes. Renovou-se a sala de exposições temporárias, com o apoio da SERVILUSA, e promoveu-se o lançamento do catálogo sobre a obra de Artur Pastor. Na área do conhecimento organizou-se uma mesa-redonda, pôs-se de pé um colóquio com mais de 100 participantes e prepararam-se edições, que tomarão forma em 2022. A dada altura, diz-me uma jornalista, que me conhece dos tempos da Câmara de Moura, “continuas hiperativo”. Dei um ar falsamente ofendido e disse, a sério, que nunca perceberei essa “acusação”.
Há uma corrida contra o tempo que urge vencer. No final, já o sabemos, o tempo vencerá. A nossa passagem pelos cargos é muito rápida. Importa, acima de tudo, zelar pela perenidade do Património. Que é, sempre, maior e mais importante que nós. O Campo de Santa Clara tornou-se-me um ambiente familiar e, até, amigável. Uma parte da minha vida profissional passa agora por aí. Mértola e Moura, com projetos paralelos, são, serão sempre, o cenário de fundo de uma ação que, por agora, corre noutro local.
Crónica em "A Planície". O texto foi escrito no dia 27 de dezembro. Em rigor, hoje são 278 dias.
As imagens noturnas do edifício não abundam. Esta surge ainda associada ao IGESPAR...
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