domingo, 12 de março de 2023

POR TERRAS DE MOURA

UM DESENHADOR DA CORTE DE D. MANUEL I EM MOURA

 

Por volta de 1510 passou por Moura um funcionário da corte de D. Manuel, que passaria para a posteridade como Duarte Darmas. Sabe-se que teria então uns 45 anos e que era filho de um membro da baixa nobreza chamado Rui Lopes de Veiros.

 

O talento de Duarte Darmas para o desenho levou a que o encarregassem da difícil tarefa de registar as fortalezas da fronteira. Eram quase 60, das quais 20 se situavam (situam) na fronteira alentejana. O trabalho foi levado a cabo com engenho. Duarte Darmas desenhou cada localidade em perspetivas opostas (norte-sul, este-oeste, consoante os casos), dando uma imagem muito cinematográfica de campo e contracampo. Mais, registou também as alcáçovas desses castelos, medindo tudo em varas e pés.

 

O Livro das Fortalezas era um muito valioso documento de estratégia militar, pelo número de informações relevantes que fornecia. Com o passar do tempo tornou-se, nessa perspetiva, menos importante. Mas é uma obra-prima da Arte mundial. Conserva-se hoje na Casa Forte da Torre do Tombo.

 

Como noutros sítios, Duarte Darmas deixou-nos uma colorida imagem da nossa terra. Tal como noutros sítios, o desenhador “inventou” perspetivas, mostrando-nos Moura numa verdadeira imagem aérea, que só com moderna tecnologia seria possível de conceber. A vista tirada de oeste, que aqui se reproduz parcialmente, mostra-nos, numa mesma imagem, a primitiva igreja do Carmo e a antiga bica da Santa Comba. Tentem lá ver isso em simultâneo, ao nível do solo…

 

Foi esse o ponto de partida para um projeto iniciado em 2004, interrompido em 2005 e retomado em inícios de 2018. Que fazer e como fazer? Registar todas as localidades com um drone, comparar como eram os sítios e como estão agora, fotografar depois ao nível do solo todos os pontos principais definidos por Duarte Darmas, ilustrar as imagens com excertos das “Memórias Paroquiais” de 1758 e, de seguida, divulgar o trabalho. Um percurso longo e mais duro do que imaginaria. E que só ficou terminado em outubro de 2022, quando a exposição foi inaugurada em Évora.

 

A itinerância do projeto não parou desde então: Évora, Castelo de Vide, Lisboa, Moura, Serpa, agora Mértola, depois Elvas, Alandroal, Barrancos, Mourão, Campo Maior e Monforte, até final de agosto. Depois Oeiras e Palmela. Do ponto de vista profissional, poucas coisas me dão mais prazer que sentir que o estamos a fazer é útil para outras pessoas. Sobretudo, pela crucial importância que a divulgação do Património tem. O livro, o filme e a exposição podem ser consultados, sem quaisquer custos, no site do projeto – www.duartedarmas.com.


Crónica em "A Planície"


1 comentário:

Anónimo disse...

Afirmas que "do ponto de vista profissional, poucas coisas me dão mais prazer que sentir que o estamos a fazer é útil para outras pessoas"... De facto, o interesse pelo que desvendas tem sido enorme. Ouvi dizer que no país vizinho vão seguir os teus métodos!
M. Teresa Lopes Pereira